Rodrigo Hammer
Emy Som, Vox, Discol, A Modinha, Musi
Som estão entre as lojas de discos que a juventude potiguar frequentava na
primeira metade da década de 1970.
A extinção gradativa e impiedosa dos pontos mais
lembrados traz aos saudosistas um gosto de nostalgia que não se limita à
simples indisponibilidade dos títulos hoje procurados em versão analógica (o popular
“vinil”).
Atrasado e em plena ditadura militar, o
Brasil só viera a assimilar o Movimento Hippie – fenômeno deflagrado após o
mítico Verão do Amor da Costa Oeste norte-americana em 1967 - entre 1972 e
1974, era em que a música pop no exterior já começava a preparar terreno para a
“invasão” disco music sofrida pós-1976, aqui em 1978. Muito rock ‘n’ roll na
veia, a exemplo da população de outras capitais, o natalense recebia os
lançamentos de selos super-poderosos como Atlantic, CBS, Mercury e PolyGram com
a mesma pontualidade que as gravadoras dispensavam a bandas e LPs considerados
fundamentais.
Caminhante de um périplo obrigatório
pela rota dos pontos mais conceituados, o “rocker” tinha no circuito comercial
a única oportunidade para adquirir as novidades em curso, um meio
indispensável, já que as raras publicações especializadas não eram suficientes
para levar o consumidor a “garimpar” adequadamente o “álbum do momento”.
Localizada na esquina das Ruas Princesa
Isabel com General Osório, Cidade Alta, a pequena Emy Som era considerada uma
espécie de “templo” dedicado ao rock ‘n’ roll, administrada por gente que
entendia do riscado e frequentada por fissurados em hard rock e progressivo.
Subindo em direção à rua João Pessoa, também no centro da cidade, a Vox
mantinha no estoque um considerável acervo de música, da erudita à popular
brasileira, sem esquecer os superstars de antanho. Era também de sob o balcão
que saíam os títulos mais interessantes a despeito de um generoso mostruário
sempre tomado por diversos lançamentos cobiçados. Sua rival, a bem sortida A
Modinha - situada na Princesa Isabel já à altura da Rua Ulisses Caldas -
atravessaria períodos conturbados, passando de acanhado quadrante reservado a
itens obscuros, à feição de “magazine” que conquistaria o público “metálico”
por volta de 1988.
Última representante da era de ouro das
lojas de discos em Natal, a Discol é dura na queda: permanece encravada na rua
João Pessoa, embora as paredes que dividem espaço com brega generalizado e
camisetas de heavy metal pouco remetam ao que o local significou para dezenas
de velhos remanescentes do underground potiguar. Citado por dez entre dez
rockers veteranos, o proprietário Luís consegue ser modesto. Não está nem aí
por ter feito parte de um passado de ídolos cabeludos e bandas revolucionárias
que recomendava a quem quer que demonstrasse interesse por algum lançamento nos
1970: de Uriah Heep a Slade, de Sweet a Rolling Stones, cansou de indicar
futuros clássicos, formando gerações e gerações de curtidores.
Alternativas na linha da lendária
Aratarda ou investidas temporárias de supermercados como Nordestão – que
chegaram, sim, a pôr nas gôndolas LPs interessantes – somam-se a outras
fugazes, quando muito levadas a cabo por aventureiros de outras regiões. À época
saudada com entusiasmo pelos colecionadores de Rock, a portentosa Planet Music
foi outra que surgiu na segunda metade da década de 1990, no Natal Shopping,
trazendo logo na inauguração um “container” de novidades importadas em CDs. Praticando um
preço absurdo, a loja com ares de “lounge” não teve fôlego para manter uma
clientela que também dava as caras pelos lados da BiMusic, esta situada num
espaço comercial de Petrópolis. Em ambos os casos, o fenômeno da pirataria
verificado anos mais tarde, se encarregaria de aniquilar as pretensões mais
ambiciosas, sem chance para especuladores.
É irônico que as últimas tentativas de
porte representadas por pequenos comerciantes e sebistas cheguem a viver de
encomendas ao sabor da febre do “download”. Nesse aspecto, Natal pode se
orgulhar de antecipar a vanguarda augurada por visionários que na virada do ano
2000 já previam a substituição da música registrada em meio físico por aquela
de origem “virtual”. No lugar do plástico, do papelão e da capa, o minúsculo
player de MP3; no lugar das saudosas lojas de discos, o “modem” turbinado, a
receber megabytes de informação musical.
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