16 de setembro de 2016

MONÓLOGOS IMPERTINENTES (2)

        Ei, você fica aí numa inquietação louca quando acaba bota culpa em cima de mim, né? Tá certo que eu não sou lá tão bom, isso reconheço, mas você não pode se queixar. Demais você deve saber que eu já tive tempo melhor. E essas coisas são assim mesmo, vão e voltam. Ainda por cima esse menino aí atrapalhando e sem querer comer. Dá umas palmadas nele mulher, que menino só cresce macho quando apanha pequeno. Senão fica num dengo de lascar e quando tiver grande começa naquelas frescuras... Eu sabia que você era uma mulherzinha muito malandra, brigava sempre comigo, lembra daquela discussão passada que você endoidou? Pois é, aquilo ainda tá atravessado na minha garganta e não consigo engolir. Você não se acanha disso mulher? Eu tão inocentinho e você trocando minhas roupas, vestindo cueca e tudo, chegando até a me banhar, alisando meu corpo e também meu pau e coisa e tal. Beijava o meu pescoço, bem aqui no gogó, eu sem manjar nada, ainda em crescimento e você se aproveitando de mim, não era? Chegou a insistir tanto que tive de ceder, também não sou de ferro, não ia correr da raia, claro que gostei daquela sensação gostosa correndo em meu corpo. 
E depois botou a culpa em cima de mim, não foi verdade, sua puta, rapariga sem nome e dono? Esse tempo todo e agora que vim saber de tudo, depois que você largou lá de casa e deixou meus pais na mão. E ainda implorou que alugasse um quarto pra cuidar do menino. Também trepar de vez em quando, né? Você adora ficar deitada numa cama e foder o dia todo, não é mesmo? Pois aí tem tudo, cama, mesa, cadeira, não venha mais chatear minha paciência, ouviu? E vê se cala a boca deste pirralho, não deixa a gente nem falar... Ora bolas! Fecha o bico menino! Sei que você fingiu tudo, mas fiquei sem saber se ia ou não ia. Numa atrapalhação medonha, puxa-vida!  Parece que não foi criada venho homem, eu, hein? Depois aquela confusão dos diabos quando meus pais descobriram sua barriga já volumosa, lembra? Você apertava, apertava, eu vendo quase estourar tudo. Chegou, inclusive, a botar um prato na frente pra ninguém perceber, arriscado até a criança nascer doente. Mas, essas coisas não têm jeito, crescem que é uma beleza. E eu aí me danava a rir, rir, vendo sua cara de santinha do pau oco, putinha mansa, sonsa, tratante... Pois é, quem faz aqui paga aqui mesmo, descarada que você era, achava e não achava. Ah!... Não se admire de me vê assim, apenas estou pagando na mesma moeda. Agora você tem que cuidar bem desse menino, ele não tem culpa nenhuma do seu erro, de sua vadiagem. Quero que ele cresça um menino de vergonha e respeito. É por isto que estou aqui, apenas por ele. Pra todos depois poderem dizer: benza-te Deus! Ouviu só? Somente pelo meu filho.

        “Acho que já vou, não suporto esta criança chorando sem fim, malcriada, boa de levar uma surra. Se não fosse esta mulher ter mentido... Não merece mesmo respeito, estou por aqui, oh... Não que não seja boazuda, gostosa, isso ela sabe ser, deitada numa cama não tem igual. Até que antes e depois do filho ela se ajeitou, também pudera!, com todo o bucho por acolá, parecia mais um canguru. Aqui pra nós, acho que, inclusive, ela se portou boazinha pra mim. Lógico que não vou dizer, ela não vai saber nunca, Deus me livre, a gente tem de agüentar na sela e não cair feito um sem-vergonha qualquer. E também ela deve ter aprontado lá das suas... Ora se! Ruinzinha!, safadinha! Vivia aí sem dinheiro, passando necessidade, não tinha nada pra comer, se não fosse eu...   E quando acaba fica elogiando os idiotas que não lhe davam nada. Eu sei muito bem o que é que davam... A gente tem de ter sentimento mulher! Era só o que faltava! Digo o que não digo, sem pressa, confusão”.

  ** Bené Chaves é escritor e poeta, autor, entre outros, de “Crônicas docemente amorosas”, livro publicado em 2013! 

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