Anchieta Fernandes
Como os comentários anteriores desta série de artigos já
focalizaram alguns livros de autores potiguares que narraram viagens
a alguns países da Europa, este quinto artigo, abordando o livro
“Souvenir de Viagem, passeando no Velho Mundo, apreciando História,
Música e Arte”, da escritora cearamirinense Maria das Graças
Brandão Soares, deixa de lado os países já incluídos nas viagens
dos autores dos livros anteriormente comentados. Embora Gracinha os
tenha visitado também, deixando o respectivo registro no livro, de
como foi a viagem dela pelos referidos países, o que viu, o que
sentiu e o que apreciou.
Portanto, comentarei agora o que está dito no livro
dela sobre os outros países que não estão nos livros comentados
anteriormente, além de países asiáticos, que ela visitou
igualmente, deixando deles flagrantes interessantíssimos,
enriquecendo mais o que, poder-se-ia dizer, seria o olhar potiguar
através da janela do grande mundo além Rio Potengi. O importante no
estilo de escrever de Gracinha (daqui em diante, no decorrer do
artigo, assim a chamarei, abreviadamente, como ela própria assinou o
poema “Agradecimentos” numa das folhas iniciais) é que ela soma
a informação puramente turística a registros com toques mais
culturais.
O livro “Souvenir de Viagem” (publicação
pela Gráfica Santa Maria em 2009) é belíssimo, não somente pelo
estilo gostoso de escrever da autora, mas também pela fartura de
ilustrações (muitas fotos mostrando paisagens, objetos curiosos,
pessoas, brinquedos, cores, animais, luzes, cenas de apresentações
artísticas, selos, bilhetes de ingressos a museus), demonstrando um
compartilhar com o leitor aquelas fotos do que ela cuidadosamente
selecionou para a sua coleção de souvenires de viagem. Que,
aliás, começam pela terra natal da escritora Gracinha, Ceará-Mirim,
e pela capital do nosso Estado, Natal, que também merecem capítulos
iniciais do livro, provando que a viagem dela pelo estrangeiro não a
fazem esquecer das suas raízes.
O livro é muito bem organizado, muito bem
estruturado, subdivididos os capítulos em nove arquivos temáticos:
Apresentação pela filha da autora, Stephanie Soares, que diz do
método de Gracinha na escrita de livros de viagem: “são
enumerados conceitos próprios de viajar bem, colhidos em sua
experiência de viajante contumaz e exímia observadora, oferecendo
uma imersão na história local e uma gama seleta de dicas sobre
museus, pontos turísticos, gastronomia e, em uma quase simbiosw
entre o cultural eo ptofano, lista ainda os locais para compras
(...)”; e o arquivo “Apresentação” contém ainda fac-símile
de um bilhete carinhoso de Bia, neta de Gracinha.
Os outros arquivos são: Prefácio;
Canta tua aldeia (textos sobre Ceará-Mirim e Natal); Atravessando o
Atlântico (textos sobre o Vaticano, Itália, Áustria, Alemanha,
Holanda, Espanha, Mônaco, França, Grã-Bretanha, República Tcheca,
Hungria, Rússia, Suíça e Bélgica); Um roteiro multicultural
(textos sobre Portugal, Espanha, Itália, Áustria, Alemanha e
França); as minhas sete maravilhas (textos sobre Escandinávia,
Canadá, Japão, Chiana, o Velho Mundo, Indonésia e o Incognoscível;
Dicas (contendo; Dicas para uma viagem sem stress; e Viajando
em excursão); Créditos e Fontes de Referência. Entre as várias
citações (de Bob Thiele a P.F.Webster) e os impagáveis momentos de
humor, farei agora a viagem com Gracinha.
Se a Áustria de Strauss,
conforme Gracinha escreve, “é conhecida pela sensibilidade musical
(as românticas valsas vienenses)”, também lá se realiza um dos
grandes festivais musicais do mundo, o Salzburger Festipiele, na
cidade de Salzburgo, apresentando óperas, concertos de música
erudita, além de peças de teatro. Outro gênio da música também
nasceu na Àustri, na cidade de Salzburgo: Wolfgang Amadeus Mozart.
Das obras dele, Gracinha gosta bastante da Sinfonia nº 40 em Fá
Menor, chamando-a no livro de “divina, indescritível.” Mozart é
homenageado na Áustria, com sua figura estampada em embalagens de
chocolates, licores, instituições, hotéis, restaurantes, bares,
caixinhas de música.
No livro “Souvenir de
Viagem”, importante se ler também o capítulo dedicado a Mônaco,
“considerado o menor pa´s da Europa”, abrangendo o seu
território menos de 1.900 quilômetros . É um principado. Nos anos
cinquenta do século passado, o Príncipe Regente Rainier III
casou-se com a estrela do cinema ianque Grace Kelly. Dentre os filhos
que tiveram, lembre-se Caroline e Stephanie, que inspiraram Gracinha
a botar os nomes de suas filhas, justamente Stephanie e Caroline. Em
Mônaco, os cidadãos não pagam impostos, nem prestam serviço
militar. No pequeno país, na capital, Monte Carlo, realiza-se
anualmente a corrida de carros Grande Prix de Fórmula 1, onde tantas
vezes Ayrton Senna brilhou.
Gracinha também
conheceu o Leste Europeu, “em excursão, saindo de Viena em direção
a Budapeste, Bratislava e Praga, capitais da Hungria, Eslováquia e
República Tcheca. Escreve a escriyora ceara-mirinense, com seu
encantador estilo, sobre a “República tcheca de Franz Kafka”,
depois de esclarecer que a região vivia “em plena recuperação
econômica”, e portanto era “guardiã de um valioso histórico:
castelos, cidades medievais, museus, pontes, catedrais, paisagens
bucólicas, um próspero centro cultural. Apreciamos da janela do
ônibus quilômetros de campos dourados de trigo, milho e girassóis,
fazendo lembrar as famosas telas de Van Gogh e o filme Os Girassóis
da Rússia.”
Sobre a “Hungria de Liszt” (algumas vezes, sobre cada cidade
ou país visitado que motivam um capítulo do livro, Gracinha junta
no título do capítulo, ao nome da cidade ou país, outro nome
simbólico, seja o de um artista ou personagem célebre, seja o de um
monumento que é referência turística), Gracinha fala descrevendo o
city tour em Budapeste, que “é geralmente feito a pé, a
melhor maneira de apreciar a velha arquitetura da cidade, suas
igrejas, monumentos e praças. À noite, um show folclórico, para
apreciar a música e adança cigana, provar da sua culinária,
degustar o clássico goulash, uma espécie de ensopado de
carne com legumes, temperado com páprika (tempero de sabor
apimentado).
Depois dos pequenos países do Leste Europeu, Gracinha
chegou ao grande país, de tanta história política e cultural: a
Rússia, também das matrioskas, que são as populares bonecas
artesanais vendidas aos turistas. Segundo informa a escritora, é um
país formado por 21 repúblicas e 80 etnias; é o maior do mundo em
extensão territorial, com 11 fusos horários. Gracinha visitou
Moscou e a São Petersburgo de Gostoievski. Dá informações sobre a
Praça Vermelha, o prédio do Kremlin, “onde se reúne o governo”;
o Mausoléu de Lenin; a Catedral de São Basílio; o extenso metrô,
com 170 luxuosas estações; a estátua de Karl Marx, com a célebre
frase: “Proletários de todo mundo, uni-vos”.
São Petersburgo, que
foi também Leningrado, é “a concretização do sonho faraônico
do Czar Pedro, O Grande.” Cidade de veraneio do czar, foi
embelezada com magníficos edifícios, 270 largas avenidas, 28 pontes
elevadiças, 46 museus e 5 teatros. Gracinha escreve: “fanática
por museus, visitei o Hermitage, antiga residência dos czares, que
reúne a maior coleção de artes do país, um dos melhores do mundo,
realmente fabuloso.” O museu foi inaugurado em 1852, no Palácio
de Inverno, totalizando cinco prédios contíguos, 1.057 salas, em
estilo barroco.” Foi neste museu realizado um filme pioneiro em
2002, “Arca Russa”, de Aleksandr Sokurov, estruturado em um único
plano-sequência, sem cortes.
Para mostrar a
visão do livro sobre a Escandinávia (região ao norte da Europa que
compreende os países Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e
Suécia), é necessário transcrever trechos iniciais do texto sobre
o arquivo “As minhas sete maravilhas”, onde Gracinha revela a sua
preferência pessoal por estes países: “Sempre me perguntam dos
países que conheci de qual mais gostei ou com qual mais me
identifiquei e foram tantos que decidi então fazer uma seleção,
denominando-a de Minhas sete maravilhas do mundo, não
necessariamente por essa ordem ou linha cronológica e sim uma lógica
de valores meramente particulares.” Então, ela se refere ao
conjunto de países da Escandinávia:
“O mais
fantástico conjunto de países que visitamos e que incluo como a
primeira das Sete Maravilhas, de todas as nossas viagens.” Antes de
falar sobre cada país em particular, ela lembrou características
geográficas e climáticas da região: “solo recortado com
incontáveis rios, lagos, ilhas, montanhas cobertas de neve,
florestas coníferas, as intermináveis noites claras e noites
longas.” Começou sua visita pela Dinamarca, cuja capital,
Copenhague, “lembra sabores (chocolate e pão) e filosofia.” E
lembra também Hans Christian Andersen, nascido ali, e autor do
famoso conto infantil “A pequena sereia”, inspirador do artista
Edward Ericksen, que em 1913 esculpiu a estátua da personagem.
Na
Noruega, terra do teatrólogo Henrik Ibsen e do compositor Edward
Grieg, Gracinha visitou o Troldhaugen, traduzido como colina
dos Trolls (espécie de gnomos que habitam as florestas e o
imaginário norueguês)(...).” Conheceu os fiordes, ruas medievais,
as casinhas coloridas de Bryggen, o Parque Museu Vigeland, o Museu do
Barco Viking, o tradicional artesanato de lã e madeira, estação de
esqui, além de “altas montanhas com queda dágua caindo das
encostas, e um preguiçoso sol que prolonga seus raios até meia
noite, produzindo o chamado “sol da meia-noite”, fenômeno único
no mundo.” Excursionou ao Glacier Briksdal, uma “espécie
de tapete de gelo que chega a atingir até 400 metros de neve.”
Em Estocolmo, capital da Suécia, e uma espécie de “Veneza do
Norte”, já que é composta de 30% de água, e é cortada por
pontes e canais, Gracinha visitou o Salão Azul, da Prefeitura, “um
prédio estilo veneziano, onde é entregue, anualmente, o Prêmio
Nobel da Paz.” A Finlândia, país situado entre a Europa Oriental
e Europa Ocidental, foi o último país da Escandinávia que Gracinha
visitou. Helsinque, a capital, “sofre bastante com o rigor do
inverno, a ausência prolongada do sol, responsável pelo ar cinzento
da cidade, cuja temperatura, mesmo no verão, é bastante fria.” A
Lapônia, uma das regiões do país, é onde mora Papai Noel, com
endereço certo na cidade de Rovaniemi, onde pode receber cartas.
Um país da América que foi ponto de visita de uma das
viagens de Gracinha foi o Canadá. Ela dedica, no livro “Souvenir
de Viagem”, cinco páginas ao país da Real Polícia Montada, “com
suas fardas vermelhas e garbosos cavalos”, escreve a escritora.
Para definir resumidamente o Canadá, basta uma das frases
entusiasmadas de Gracinha: é um país, “onde há fartura de
espaço, profusão de minérios, uma incrível abundância de água
pura e terras férteis, segurança, justiça e riqueza.” E beleza:
“Visitamos Victória Island em um tranquilo passeio de ferry
boat, apreciando um exagero da natureza: mar, verde, flores.” E
paz: no vilarejo de Banff, “dóceis alces pastando na praça.”
Dos países da Ásia, Gracinha registra no livro suas
visões, impressões e opiniões sobre o Japão, China e a Ilha de
Bali, no arquipélago da Indonésia. A visita ao Japão, Gracinha o
fez acompanhada do marido Célio, pois diz inicialmente que este
passeio ao país do sol nascente, foi “um sonho realizado,
do meu marido e meu também.” De tudo o que ela escreveu, com
estilo ímpar, sobre o Japão, em quatro páginas e meia, basta, em
um resumo, dizer que ela destacou a educação, a limpeza, a
discrição e a hospitalidade do povo japonês, e a interessante
harmonia entre o tradicional (exemplo: indústria de leques e
quimonos) e o moderno (indústria de informática).
A visita à China, incluindo o passeio a Hong Kong,
que durante muito tempo foi uma cidade pertancente à Grã-Bretanha –
apesar de ser a “realização de um sonho juvenil, conhecer de
perto, a magnitude de sua cultura e a Grande Muralha” –
proporcionou inicialmente algumas decepções à escritora: “confesso
ter tido má impressão, logo no desembarque, nosso primeiro
desencanto: aeroporto precário, funcionários mal-humorados, cães
farejadores, soldados armados, nos observando com desconfiança
(...).” Mas Gracinha também afirma, educadamente: “continuo
enternecida com a delicadeza dos artigos chineses, inspirados na
natureza.”
Com a sensibilidade artística de que é
dotada, o que mais agradou a Gracinha na Ilha de Bali foi a vivência
constante do povo com a prática da arte: “A arte está em todo
lugar da ilha (...). Interessante ver adultos e crianças envolvidos
com a arte, pintando, esculpindo, tecendo, tranquilos nos terraços
de suas casas (...). Assistimos a uma apresentação da Dança
Barong (...) interpretada por graciosas e exóticas bailarinas,
ricamente vestidas, exibindo uma harmoniosa e dramática performance,
misto de dança e rito religioso. O som dos instrumentos rústicos é
sincronizado com a suavidade dos movimentos das dançarinas (...).
Pintura, música, teatro, festas (...).”
Não dá, em apenas um artigo para
jornal, transmitir toda a riqueza de informação e prazer literário
contido no livro “Souvenir de Viagem”, de Maria das graças
Brandão Soares. Cabe apenas, ao articulista, tentar fazer uma
publicidadezinha: comprem o livro de Gracinha, que sua imaginação
se soltará deslumbrando-se com cores, sons, cheiros, sabores e
climas deste planeta nosso que mereceria ser mais bem cuidado. Não
deixem de sublinhar atentamente no livro a parte das dicas para uma
viagem sem stress, pu sobre “viajando em excursão”, onde
aprenderá como tratar os habitantes de cada país visitado, para não
cometer gafes.
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