Paulo Jorge Dumaresq
Manter vivas as tradições artísticas e culturais do município de São
Gonçalo do Amarante (Songa) fundindo-as com a sonoridade contemporânea tem sido
a pisada da banda são-gonçalense PeduBreu em 12 anos de história. Com a
intenção de registrar, divulgar e promover a tradição e contemporaneidade da
música de raiz, a banda fez sua estreia em palco, a 22 de agosto de 2003, data
comemorativa ao Dia Mundial do Folclore e da inauguração do Teatro Municipal
Poti Cavalcanti, em Songa. Mais emblemático impossível.
O Pedu vem de Pedro e remete à oralidade
como o nome é pronunciado sem o “ro”
no final, da mesma forma que o povo na maioria das vezes abrevia e fala em sua
cultura e oralidade. É também uma homenagem a Pedro Guajiru, Mestre criador do Boi de Reis Pintadinho de São
Gonçalo. Já o Breu, é um lugarejo banhado pelo rio Potengi, rico em matéria-prima
artesanal, berço da cultura da região e próximo à Songa. Foi lá onde se deram
os primeiros sinais de manifestações folclóricas no município, nas décadas de
40 e 50, pelos nativos do lugar. Geralmente, as brincadeiras (apresentações)
ocorriam nos escuros terreiros das casas, daí a origem do nome PeduBreu.
Graças à influência sócio-cultural, o grupo agrega expressões, elementos
e ideias da região, tais como cultura e religiosidade popular; teatro, danças e
literatura de cordel, afora ritmos regionais fundidos e embasados na tecnologia
da musica eletrônica. Tudo isso misturado deu forma ao tecnococo, um ritmo
forte com batuque ritmado e guitarras pesadas.
“Fazendo uma retrospectiva no tempo e avaliando as perdas e ganhos,
sabemos bem que dificuldades sempre existirão em todas as fases da vida, o que
não se pode é deixar ser engolido pelos problemas. É importante está atento e
produzindo, criando, reformulando os módulos comuns, rompendo os paradigmas”,
declara o vocalista e co-fundador da banda, Gláucio Câmara. No seu entender, o
reconhecimento se dá por meio de muito trabalho e persistência naquilo que o grupo
faz. Destaca a continuidade de manter viva uma história que, conforme ele, tem
significações pessoais.
Mais do que um grupo musical, o Projeto PeduBreu Tecnococo tem como
objetivo principal promover e cantar a cultura de raiz, única e universal. Estudos
e pesquisas sobre os mestres e os saberes populares são realizados pelos
integrantes do grupo, focando nas artes cênicas, música, artesanato,
gastronomia e cultura popular, como o boi de reis, bambelô, congos de calçola,
pastoril, cordel e romances. “Fomos criados em meio aos Mestres e vivemos entre
eles. Isso é algo que carregaremos em nossas vidas. Não é só de festivais e
shows que vive o grupo, mas do desejo de ser agente de cultura transformador”,
ilustra o músico.
Todo o conhecimento adquirido por meio dos antepassados é reflexo da
beleza e pureza do imaginário popular, como uma fonte inesgotável do belo. Esta
riqueza cultural com características singulares presente nas tradições
folclóricas do município é a fonte de inspiração para revificar as manifestações
e continuar o sonho de tantos mestres e brincantes.
“Como bem falou um dia o jornalista Yuno Silva, o PeduBreu se tornou
filosofia de vida para os jovens da região são-gonçalense. E é mais ou menos
isso. Fazer arte em uma cidade como São Gonçalo não é diferente de nenhum lugar
do mundo. Sofremos do mesmo mal administrativo e balconista, que está enraizado no descaso e pouco caso com os
fazeres e saberes e práticas artísticas”, depõe.
Adiante, complementa: “É preciso fazer perceber e discutir nosso papel.
Somos criadores de nossa própria história, então fazemos o que ninguém fará por
nós. Com esse espírito, propomos nossos projetos como o Feioarte, Musimagem,
Cultivando Arte, além dos fóruns de cultura, festivais de arte e o Tributo a
Raul Seixas, enfim tudo voltado para a promoção cultural e valorização da
diversidade”.
Considerado
o berço da cultura popular do Estado, o município de São Gonçalo do Amarante
tem em suas veias, cancioneiros, músicos, artesãos, atores, artistas e poetas,
pessoas simples que transformam sonho em realidade por meio das mãos, corpo e
espírito. Gente que arranca de dentro de si mesmo razões profundas e
verdadeiras de sua natureza.
Formação
O Projeto PeduBreu Tecnococo teve como núcleo inicial em 2002 os
artistas Gláucio Câmara (vocalista e percussionista), Paulo Sérgio de Menezes
(percussionista), Valdinei Teixeira (percussionista) e, posteriormente,
Edmilson Torquato (Didi), violonista e ex-integrante do grupo Songa Também Dá
Coco; o DJ Nego D’lasonga (movimento Hip-Hop); e o design Otávio Augusto
(cenógrafo e ambientador), já falecido. Atualmente, o grupo é formado por
Gláucio Câmara (voz e percussão), Dinei Teixeira (percussão e voz), Marcelo
Fidelis (baixo e voz), Kiko Mosca (guitarra e voz) e Jamil (bateria).
Em 12 anos de história, o PeduBreu participou de diversos projetos, dando
a cara a tapa na Festa dos Estados em Brasília (DF), Domingo na Praça, Nação
Potiguar, Circo da Luz, Seis e Meia, Cosern Musical 2005, Cena Aberta Casa da
Ribeira 2010 e no Festival do Sol 2010. Bem como no lançamento do website
Overmundo, em Natal, e na abertura do show de Moraes Moreira, em São Gonçalo.
O quinteto também conquistou o Prêmio Hangar de Música 2008, na
categoria Melhor Instrumentista e o terceiro lugar no Festival da Canção Universitária
da UFRN 2008 e 2009 com as músicas “Berço da cultura popular” e “É Militana”,
respectivamente. Outra vitória importante foi o primeiro lugar no Festival da
Canção e da Cultura Potiguar da Assembleia Legislativa do RN, com a Música
“Coco da moçada”, autoria do cantor e compositor França de Lima.
Ainda sem um registro fonográfico oficial, o PeduBreu aposta nos CDs
demo e na internet, via Facebook e Myspace, para divulgar sua arte. “Nossa música ainda não está nas rádios comerciais,
e isso até certo ponto não nos frustra, porque conseguimos encarar com muita
propriedade e determinação nosso trabalho. Temos um bom público no estado, as
pessoas sabem e gostam de nosso som e propagam. A internet tem sido ao longo do
tempo um bom instrumento de trabalho que contribui na divulgação da nossa
música”, observa.
Em seguida, destaca: “temos um registro denominado Doc
Show Experimental, uma compilação de todas as nossas andanças, produzido pelo
cineasta, desenhista e ex-baixista, Lula Borges. Com
o advento da internet, hoje já está bem mais fácil divulgar nosso produto. As
pessoas podem encontrar nossos vídeos, músicas, fotos, textos e muita coisa
sobre o PeduBreu”.
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