Por
Danilo Ribeiro Gallucci
Em
outubro, em várias partes do mundo, comemora-se o Halloween, ou Dia
das Bruxas. Tradição norte-americana. Mas será que é o caso de
importar lendas alheias se temos tantos mitos capazes de botar
qualquer bruxinha na sandália? Para rebater a data, há quem
defenda: 31 de outubro é o Dia do Saci. Do Saci e de toda a sua
turma, esses meliantes que vivem à solta, praticando toda sorte de
malfeitorias. É hora de puxar a ficha corrida dessa gente e dar o
veredicto. Podemos ou não tolerar tamanha série de abomináveis
maldades? E mais: haverá cadeia capaz de conter a imaginação?
Atenção.
Eles são capazes de qualquer coisa. De azedar o leite a raptar
crianças que teimam em não dormir; de tirar gente do rumo de casa a
roubar presentes. Quebram pontas de agulha, desferem coices, queimam
os desavisados. Tem de todo tipo, pra todo gosto e de todos os
cantos. O Cabeça de Cuia vem do Piauí; o Negrinho do Pastoreio, do
Rio Grande do Sul; a Cobra Norato, do Pará; o Tibanaré, do Mato
Grosso. Tem uns que não se sabe nem de onde vêm. A quadrilha é tão
extensa que não caberia num ALMANAQUE todinho dedicado a ela.
Ao longo do tempo, perseguida, essa turma acabou se refugiando longe das histórias que contamos para as crianças. Em 1947, Câmara Cascudo já alertava para o risco de extinção. Em Geografia dos Mitos Brasileiros, para garantir-lhes sobrevida, resolveu prendê-los num campo, bem pobre e curto, mas enfim um campinho onde poderão ser vistos em maior número que no meio das matas, dos capoeirões e das várzeas brasileiras, dos rios, dos ares e das montanhas da Pátria. Fez efeito. Hoje, parte fundamental dos registros sobre a nossa riqueza mitológica está nas páginas do patrono deste ALMANAQUE. E de lá, vira-e-mexe, saltam de volta para o terreno da imaginação dos leitores.
Ao longo do tempo, perseguida, essa turma acabou se refugiando longe das histórias que contamos para as crianças. Em 1947, Câmara Cascudo já alertava para o risco de extinção. Em Geografia dos Mitos Brasileiros, para garantir-lhes sobrevida, resolveu prendê-los num campo, bem pobre e curto, mas enfim um campinho onde poderão ser vistos em maior número que no meio das matas, dos capoeirões e das várzeas brasileiras, dos rios, dos ares e das montanhas da Pátria. Fez efeito. Hoje, parte fundamental dos registros sobre a nossa riqueza mitológica está nas páginas do patrono deste ALMANAQUE. E de lá, vira-e-mexe, saltam de volta para o terreno da imaginação dos leitores.
Mal
necessário
Segundo o crítico literário Fábio Lucas, os mitos brasileiros servem de referência para que nos identifiquemos enquanto grupo social. “Se alguém fala na Iara, por exemplo, você sabe que é brasileiro. A nação identifica esses símbolos.” No interior do País, lendas viram romances e cantorias em feiras. “Remetem a tempos fabulosos, em que o homem era um prolongamento da natureza, as árvores e os animais falavam”, completa.
Este atenuante é válido. Mas como justificar o medo que instilam nas pessoas, dos senis aos mais jovens? O psicanalista Mário Corso, no livro Monstruário, defende que essa sensação colabora para nosso bem-estar: “É ótimo para as crianças. É mais fácil saber do que se tem medo. Ruim com eles, pior sem”. Para Mário, na cultura ocidental, Deus e o Diabo travam batalha sem fim: enquanto um organiza, o outro bagunça o mundo. E com os dois em baixa atualmente, os entes fantasiosos cumprem bem o papel. “Precisamos desses monstros, pois sozinhos não conseguimos explicar o mal, por isso criamos símbolos para sintetizá-lo”. Que tenha início então o julgamento.
Segundo o crítico literário Fábio Lucas, os mitos brasileiros servem de referência para que nos identifiquemos enquanto grupo social. “Se alguém fala na Iara, por exemplo, você sabe que é brasileiro. A nação identifica esses símbolos.” No interior do País, lendas viram romances e cantorias em feiras. “Remetem a tempos fabulosos, em que o homem era um prolongamento da natureza, as árvores e os animais falavam”, completa.
Este atenuante é válido. Mas como justificar o medo que instilam nas pessoas, dos senis aos mais jovens? O psicanalista Mário Corso, no livro Monstruário, defende que essa sensação colabora para nosso bem-estar: “É ótimo para as crianças. É mais fácil saber do que se tem medo. Ruim com eles, pior sem”. Para Mário, na cultura ocidental, Deus e o Diabo travam batalha sem fim: enquanto um organiza, o outro bagunça o mundo. E com os dois em baixa atualmente, os entes fantasiosos cumprem bem o papel. “Precisamos desses monstros, pois sozinhos não conseguimos explicar o mal, por isso criamos símbolos para sintetizá-lo”. Que tenha início então o julgamento.
Publicado no Almanaque
Brasil
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