Talvez a figura mais popular do
Nordeste brasileiro seja o cantador, o violeiro. Por muitos anos, o repente
serviu como o único meio de comunicação em terras áridas e inóspitas. Fazia as
vezes de rádio, de tevê, de revistas. E não era só isso: as notícias vinham em
forma de versos, rimados, ritmados, poéticos. Ivanildo Vilanova é hoje,
reconhecidamente, o maior repentista brasileiro. O mais respeitado de todos.
Mora em Campina Grande ,
Paraíba, capital dos repentistas, dos cantadores, a três horas de João Pessoa.
Lá reúnem alguns dos maiores violeiros do Brasil.
Eles
se espalham por todo o Nordeste, de ônibus, de carro, a cavalo - sempre para
uma cantoria num centro comercial ou numa distante fazenda. Ivanildo, e todos
os outros violeiros, recebem cartas-convites, telefones, telegramas, todos
convocando, ou propondo, alguma noitada de cantoria. Quem envia são os chamados
"apologistas", espécie de animadores e entusiastas da poesia popular.
O trabalho de Ivanildo Vilanova se destaca entre as centenas de violeiros pela
sutileza de seus versos, pela síntese de seus improvisos e pela variedade
temática. Pertence ao grupo de cantadores que são capazes de improvisar, com
conhecimento de causa, sobre qualquer tema, da História Universal à Química, da
política as artes plásticas – uma raridade, de fato.
Todas
as tardes, os violeiros se reúnem no Drink's Bar, boteco localizado em frente à
Rádio Borborema, em
Campina Grande. No bar, recebem telefonemas, recados, são
convidados para cantorias, trocam impressões sobre os melhores pontos, formam
duplas para uma viagem repentina, e no final da tarde participam do programa
diário na Rádio Borborema. É um quadro ouvido em toda a região: comunica as
cantorias do dia, os locais, as duplas, informa os violeiros que estão com a
agenda livre e, de quebra, coloca ao vivo alguns repentes. O repentista Ivanildo Vila Nova diz que em 1974 ele e outros amigos fizeram um congresso de violeiros, reunindo
os melhores repentistas do Nordeste.
Até
então, os congressos que aconteciam não chegavam a chamar a atenção.
“Conseguimos então mostrar ao público inclusive cantadores ótimos, e totalmente
desconhecidos. Nos anos seguintes, o congresso passou não só a revelar novos
talentos, como a mostrar a criação de novos gêneros: como o Brasil Caboclo, por
exemplo. O O violeiro é de suma
importância para o Nordeste. Ele é o principal veículo, a
principal manifestação de folclore, como querem dizer. O repente tem tudo: boa
poesia, ritmo, rima, bom humor, romantismo, tudo. Desafio é logo o primeiro verso dum violeiro
para o outro, quando o convoca para a cantoria. O desafio é somente um dos
muitos gêneros do repente. Repentista é coisa herdada. Não se aprende, é coisa
de hereditariedade, herança.
As apropriações indébitas, das canções de
violeiros, Ivanildo Vila Nova explica
este fato . Ele diz
que não é só pessoal da MPB de elite,
mas todos, até do bolerão que plageia as
musicas dos repentistas, como por exemplo
o Reginaldo Rossi, que copiou um mourão todinho e não deu crédito. O
Fagner pegou a letra duma canção de fogo e nada disse. Os versos: "Eu sou
igual ao deserto/aonde ninguém quer viver/mais triste do que eu/ninguém quer
ser." Estes versos estão na página 33 duma canção de fogo. Ele, o Fagner,
roubou tanto o Patativa do Assaré, que teve de aproveitar o homem.Pegou aqueles
versos - "eu venho desde menino/desde muito pequenininho/cumprindo belo
destino/eu nasci pra ser vaqueiro - que são do Patativa.
Gilberto
Gil, idem. Pegou os versos de Domingos da Fonseca - "Falar de nobreza e
cor/é um grande orgulho seu/morra eu e morra o pobre/se enterra o rico e eu/que
depois ninguém descobre/o pó do rico do meu." Isso é de Domingos da
Fonseca. E aconteceu agora com Zé Ramalho. Essa música que a Amelinha canta -
"Mulher nova e carinhosa..." - é de Otacílio Batista. Não, de
Otacílio e Zé Ramalho. Zé fez apenas o arranjo, não a melodia. A música já
existia - eu mesmo já a gravei duas vezes. Não acho que Otacílio devesse dar a
parceria. Ora, quer gravar, grave. Isso me deixa revoltado. E muito.
(Fonte. Miguel de Almeida - Banco de Dados
da Folha de São Paulo).
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