Quando fui entrevistar Tertuliano Aires, muito já tinha
ouvido falar a respeito de Cabrito. Mas pouco conhecia das suas músicas - que muitos
classificam como pornográficas. É bom destacar que Tertuliano não concorda com
essa classificação: prefere chamar suas composições de “pornofônicas”. Bem
acompanhado por Roberto Fontes, Ronaldo Siqueira e Costa Júnior - trio já
iniciado no universo “cabritiano” – a entrevista ocorreu em frente à Lanchonete
Zé Reeira, no centro de Natal. A conversa nem precisou ser movida a álcool para
se tornar apimentada. Até porque, Tertuliano não bebe. E nem precisa. Em suas
respostas, ele alternou momentos de Tertuliano e de Cabrito. Na edição do texto
a seguir, optamos por passar um pente fino e extirpar do texto os palavrões,
digamos assim, mais “cabeludos”. Mesmo com essa precaução, é bom deixar o
alerta de que a porção Cabrito de Tertuliano - que conheceremos a seguir - não
é recomendável para menores. (robertohomem@gmail.com)
ZONA SUL –
Como é o seu nome completo?
TERTULIANO
– Tertuliano Aires Primo Neto. Meu nome é assim porque sou neto de Tertuliano
Aires Primo.
ZONA SUL –
Essa sua explicação tem lógica... (risos)
TERTULIANO
– É. Foi por isso que colocaram esse nome em mim, que é o nome do meu avô.
ZONA SUL –
Onde você nasceu?
TERTULIANO
– A família “Aires” é de Pau dos Ferros, mas eu nasci em Mossoró.
ZONA SUL –
O que o seu pai fazia da vida?
TERTULIANO
– Meu pai foi um tremendo boêmio. Foi o cara mais “bola sete” de Mossoró. Nos
anos 1960 ele já se envolvia com coisas erradas. Dizem, inclusive, que ele
estava envolvido em um assalto em uma salina que ocorreu naquela época. Até
hoje ninguém sabe o motivo de não ter havido processo e de a polícia nunca tê-lo
acusado. Não sei se a história é verdadeira. Meu pai se chamava Rui Aires. A
principal função que ele exerceu foi a de herdeiro. Meu avô paterno era muito
rico. Meu pai viveu gastando o patrimônio que herdou. À medida que ia
recebendo, torrava.
ZONA SUL –
O rico era o “Primo”?
TERTULIANO
– Não, era o pai dele, o meu avô.
ZONA SUL –
É isso que estamos falando: o rico era o Tertuliano Aires Primo...
TERTULIANO
– É verdade!
ZONA SUL –
Como ele amealhou esse patrimônio para seu pai gastar depois?
TERTULIANO
– Meu pai foi embora de Pau dos Ferros para Mossoró após uma briga entre os “Aires”
e os “Fernandes”, por causa de uma banda de música. Lá ele montou uma fábrica
de chocalho e lamparina. Essa empresa virou uma retífica de motores e uma
fundição. Depois ele comprou loja de peças e posto de gasolina. Instalou também
uma fábrica de cordas e adquiriu uma fazenda para plantar o agave necessário
para fazer as cordas. Meu avô também montou uma fábrica de carrocerias e
comprou imóveis na cidade. Dessa forma o patrimônio foi crescendo. Quando o
velho morreu, os filhos não quiseram continuar com os negócios. Eles dividiram
e cada um gastou o seu. Dessa forma, meu pai foi boêmio a vida toda: só
gastando.
ZONA SUL –
O dinheiro foi suficiente?
TERTULIANO –
Quando ele morreu, faltou dinheiro e sobrou boemia (risos). A única coisa que
restou foi a casa em Natal. Ela existe até hoje.
ZONA SUL –
Fale sobre a sua mãe.
TERTULIANO
– Terezinha de Medeiros Aires era o seu nome. Trabalhou como costureira. Vinda
de uma família pobre, ela casou com um rapaz rico. Vivia submissa. Boa parte da
vida foi ela quem cuidou da gente, enquanto meu pai gastava dinheiro. Talvez
meu pai achasse que herança fosse parecida com buraco, que quanto mais você
tira, mais cresce. Herança é o contrário: quanto mais você tira, menor fica.
Minha mãe foi quem trouxe a gente para Natal, quando eu tinha 12 anos. Ela veio
trabalhar com um irmão nas Casas Gomes. Hoje estou com 56 anos.
ZONA SUL –
O que você recorda da sua época em Mossoró?
TERTULIANO
– De tudo. A gente morou também em Fortaleza, no ano de 1964, quando meu pai
foi arrendatário de um restaurante por lá. Mas Mossoró é toda a minha memória
de infância, porque foi lá que comecei a ter consciência das coisas. Lá em
casa, apesar de tudo, tinha um rádio e a gente escutava muito Coronel Ludugero,
Barnabé, Roberto Carlos, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro... No rádio você não
pode selecionar, então, tudo o que tocava a gente ouvia. Voltei a morar em
Mossoró de 1965 a 1968, ano em que mudamos para Natal. ZONA SUL – Como foi sua formação escolar em Mossoró?
TERTULIANO
– Estudei no Grupo Escolar Modelo. Fiz parte do primário em Mossoró. Terminei
em Natal, no Instituto Municipal João XXIII.
ZONA SUL –
Seu pai estudou?
TERTULIANO
– Não. Apesar de ele ter certo conhecimento, não teve um nível de instrução
elevado.
ZONA SUL –
O lado da esculhambação você herdou dele...
TERTULIANO
– Possivelmente. Não herdei dinheiro, só o espírito ruim.
ZONA SUL –
Como o sexo é tema recorrente no seu trabalho musical, é quase obrigação
indagar onde se deu sua iniciação sexual. Foi em Natal ou em Mossoró?
TERTULIANO
– Foi há tanto tempo que não tenho nem memória pra isso. Mas lembro que na
infância, em Mossoró, conheci uma menina no colégio e me apaixonei por ela. Nem
sei se ela ainda existe hoje em dia, mas pensei muito nessa garota nos momentos
solitários que passava no banheiro lá de casa. Eu tinha uns 12 anos. Talvez minha
iniciação sexual tenha sido pensando nessa menina, que, por sinal, era
lindíssima.
ZONA SUL –
Qual o motivo da mudança da sua família para Natal?
TERTULIANO
– Nos mudamos por causa da situação financeira. O negócio do meu pai, que era
gastar herança, não tinha muito futuro e nem a regularidade que proporcionasse
a manutenção da família. Em outras palavras: meu pai estourava todo o dinheiro
que recebia. Quando ele vendia uma casa, comprava logo um carro e torrava o resto
do dinheiro. Assim os recursos foram se exaurindo, em Mossoró. Como a minha mãe
costurava bem, esse seu irmão – Geraldo Gomes – sugeriu que ela mudasse para
Natal, cidade que tinha um mercado de trabalho melhor. Ela mudou e ficou
costurando pra fora, no bom sentido. A família toda veio, inclusive o meu pai.
A gente morou um tempo no Alecrim e depois em Lagoa Seca.
ZONA SUL –
Foi bom trocar Mossoró por Natal?
TERTULIANO
– Eu era uma criança de 12 anos que praticamente não conhecia nada. Só tinha
ido a Fortaleza. A própria viagem de Mossoró para Natal já foi uma aventura.
Foi excitante conhecer Lajes, Angicos, Açu... Nesse tempo não tinha asfalto. A
gente saía, em cima de um jipe, às quatro da manhã e chegava meia-noite. Para
minha idade, foi marcante. Eu não tinha ideia do que encontraria em Natal.
Quando cheguei, logo percebi que Natal era completamente diferente do que se
falava em Mossoró. Diziam que aqui tinha lobisomens e falavam também na Viúva
Machado. Mas a primeira coisa que vi, na rodoviária, foi uma criança apanhando carteira
vazia de cigarro para brincar como se fosse nota de dinheiro. Na mesma hora, pensei:
é igual a Mossoró, não tem nada de diferente. Menino é menino em todo canto. Em
Natal despertei para tudo na vida.
ZONA SUL –
Onde você veio estudar?
TERTULIANO
- Na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Lá era o maior quartel, a melhor
escola não só para a educação formal, mas também como preparatório para a
própria vida. Não era mole. Tinha muita gente vivida, uma diversificação
imensa. Foi uma experiência incrível. O aluno praticamente não tinha
identidade. Em uma escola com dois mil alunos, você não tem identidade, é apenas
um elemento do bando.
ZONA SUL –
Você foi fazer qual curso na ETFRN?
TERTULIANO
– Fiz exame de admissão para o ginásio e depois cursei Mecânica. No ginásio a
gente passava por todos os cursos: praticava nas oficinas de Eletrotécnica, de
Mecânica, e nas demais, pra ir pensando no que queria fazer. Ingressei para o
técnico no curso de Mecânica.
ZONA SUL –
Você concluiu o curso?
TERTULIANO
– Sim. Quando terminei, fiz vestibular. Apesar de a ETFRN primar pelo ensino
técnico, foi lá onde descobri que queria trabalhar na área de humanas. Fiz
vestibular para Ciências Sociais. Na UFRN me envolvi com João Emanoel, com
Juliano Siqueira, Geovani Rodrigues e essa rapaziada toda do movimento
estudantil da época.
ZONA SUL –
Você teve participação ativa no movimento?
TERTULIANO
– Não, medíocre. Eu era apenas mais um elemento do Diretório Acadêmico. Não
tive nenhuma participação significativa ou efetiva, como Juliano e François
Silvestre tiveram.
ZONA SUL –
Você correu algum risco?
TERTULIANO
– O pessoal da minha turma foi preso, mas a mim não incomodaram. João Emanoel
tinha um rádio que sintonizava ondas curtas. A gente pegava a Rádio da Albânia,
a Rádio Central de Moscou e outras emissoras do lado de lá do muro. Ouvia as
matérias, datilografava, mimeografava e deixava nas salas-de-aula do Campus e
no restaurante universitário. Dava uma confusão grande, mas ninguém nunca
descobriu que era a gente.
ZONA SUL –
Nessa época você já tinha algum envolvimento com a música?
TERTULIANO
– Morando em Mossoró, eu já tinha a mania de cantar. Ficava deitado em uma
rede, cantando. Mamãe achava que eu cantava bem. Ela prometeu que um dia
compraria um violão para me dar. Em 1970 ela comprou um violão na loja de
instrumentos musicais de Gumercindo Saraiva. Era um Giannini. Graças ao violão
conheci uma porrada de gente boa, como o pessoal do “Alcateia Maldita” e os
boêmios do Bar do Coelho.
ZONA SUL –
Você aprendeu a tocar sozinho?
TERTULIANO
– Sim, porque naquela época era muito difícil ter alguém que lhe ensinasse.
Frequentei a Escola de Música, mas não tive saco. Estudei em casa, com aquelas
revistinhas de cifras. Depois fui pegando música de ouvido, desenvolvendo e
aprendendo.
ZONA SUL –
Você começou logo a compor?
TERTULIANO
– Comecei quando conheci a rapaziada do “Alcateia Maldita”, que era Raul,
Fernandão, Edinho, Joca e muita gente boa. No início, o “Alcateia” tocava música
de Jimi Hendrix, Rolling Stones, Beatles... Eu e Nagério lançamos a proposta de
tocar nossa própria música. A gente começou a incutir na rapaziada essa
história do autoral. E vingou.
ZONA SUL –
Sua primeira banda foi o “Alcateia”?
TERTULIANO –
Foi o meu primeiro entrosamento com música. Mas eu só me apresentei com eles
esporadicamente. Era tanto músico bom que eu ficava meio encabulado.
ZONA SUL –
Por que você se afastou do “Alcateia”?
TERTULIANO –
Comecei a namorar uma moça e ela engravidou. Com ela tive meus filhos, que,
graças a Deus, já estão todos criados. Então, me afastei do “Alcateia” porque
tive que trabalhar. Consegui um emprego de representante de remédios na Aché e fui viajar pelo interior. Esse
trabalho permitiu que eu me aproximasse de músicos do interior como João de
Deus, Miltança, Carlança, Carlos Bem, Almir de Areia Branca, Dedé Nepó e vários
outros. Depois voltei para trabalhar em Natal como representante de um
distribuidor de autopeças de Recife. Nas folgas eu estava sempre no bar de
Toinho Sete Cordas, ou mesmo andando com Pael ou com o pessoal da capoeira da Avenida
Três.
ZONA SUL –
Qual curso você fez na Universidade?
TERTULIANO –
Fiz vestibular para Sociologia. Passei, mas não concluí porque a namorada engravidou
e tive que abandonar o curso para trabalhar. No tempo em que eu fazia faculdade
trabalhava na Datanorte. Saí de lá porque ganhava um salário mínimo e não era o
bastante para sustentar a parada. Fui trabalhar como representante e, viajando,
não podia continuar frequentando a universidade. Nunca tranquei matrícula.
Simplesmente abandonei, desapareci.
ZONA SUL –
Seu destino era mesmo a música...
TERTULIANO
– Música de sacanagem, por sinal. Tentei de todas as formas fazer composições que
as pessoas pelo menos se interessassem em ouvir. Mas me chamaram era de doido e
menosprezaram esse trabalho. Agora, compondo esse tipo de música que eu
classifico de pornofônica, todo mundo me respeita. Já fui até entrevistado por
Margot Ferreira para a TV Cabugi! Pelo andar da carruagem, daqui a pouco vai
ter música minha na novela.
ZONA SUL –
Essa entrevista que você deu a Margot foi veiculada em qual programa?
TERTULIANO
– No RN TV. A gravação foi difícil, pois eu tive que contar as minhas
histórias, mas sem dizer as palavras certas. Fiquei só arrodeando, como diz o
natalense. Só pelas beiradas. Também gravei para o programa Xeque-Mate, da TV
Universitária, feito por alunos da UFRN. Durou uma hora. Mais de 50 alunos se
ofereceram para me entrevistar. Eu soube que normalmente é difícil arrumar
voluntários entre os estudantes de jornalismo para gravar esse programa. No meu
dia, quando a entrevista acabou, fui aplaudido. O estúdio estava cheio de
gente, o povo fotografando. Distribuí até autógrafos.
ZONA SUL –
Como surgiu o personagem Cabrito?
TERTULIANO
– Na época do “Alcateia” eu, Nagério, Raul e Edinho compusemos uma canção
chamada “Feira do Alecrim”. Muitos anos depois, Cida Lobo gravou essa música,
mas não deu crédito nem a mim e nem a Nagério, como compositores. Não sei se
por preguiça, conveniência ou outro motivo qualquer, não botaram o nome da
gente. Então resolvi compor uma música que, no dia em que gravassem, o cantor certamente
faria questão de dizer quem era o autor. Hoje em dia ninguém faz questão de
dizer que é parceiro de Cabrito. Alguns que são parceiros, até negam. (risos) Hoje
tenho certeza que ninguém vai querer dizer que é autor das porcarias que eu
componho.
ZONA SUL –
E o apelido Cabrito, como surgiu?
TERTULIANO
– Eu era conhecido como Terto, mas achei que devia bolar um nome diferente para
esse personagem. Então lembrei que o cabrito é símbolo do demônio. Não sei se
vocês já estudaram ocultismo, mas o cabrito - bafomé, o bode de mendes - é o
símbolo do demônio. Eliphas Levi já escreveu sobre isso. Baseado nesse fato,
pensei no nome Cabrito. Depois disso, compus uma música chamada “Minha
história” falando que minha primeira namorada foi uma cabrita. Mas é bom
ressaltar que a letra da música se refere à história do personagem, e não à
minha.
ZONA SUL –
Essa letra não tem mesmo nenhuma semelhança com a realidade?
TERTULIANO
– Não, de jeito nenhum. Até porque, até hoje só transei com cabritas bípedes.
ZONA SUL –
Quer dizer que você tentou mesmo fazer música séria, mas não deu certo?
TERTULIANO
– No começo não deu muito certo, mas depois as pessoas acabaram gostando desse
meu trabalho “sério”. Resolvi enveredar por essa linha pornofônica quando, em
minhas andanças como representante, encontrei em uma loja um cara com uma fita
só de paródia com música de sacanagem. Achei interessante porque mais de vinte
pessoas estavam em volta do carro ouvindo aquelas músicas com ele, na maior
gargalhada. Inicialmente pensei em comprar um karaokê para compor letras de
sacanagem em cima de músicas já conhecidas. Mas o maestro Franklin Nogvaes sugeriu
que se eu compusesse as músicas ele faria os arranjos e a gente gravaria.
ZONA SUL –
Você lançou logo um CD?
TERTULIANO
– Não, na época lancei uma fita cassete de 46 minutos. E esse negócio tomou uma
proporção que nem eu mesmo esperava. Começou como brincadeira, mas, hoje, se
vou a uma festa em qualquer lugar - pode ser em uma fazenda lá na caixa bozó -
termina alguém me reconhecendo. Certa vez fui fazer uma viagem com Zé Dias e
Khrystal para Maceió. Zé Dias disse que se eu fosse reconhecido lá, ele se
suicidava. (risos)
ZONA SUL –
Zé Dias está vivo até hoje, é sinal de que você não foi reconhecido.
TERTULIANO
– Não me reconheceram, mas lá fui apresentado como o parceiro de Khrystal na
música “Coisa de preto”, que faz grande sucesso na capital de Alagoas.
ZONA SUL –
Como você divulgou as músicas da fita?
TERTULIANO
– No corpo a corpo. No começo o trabalho foi recebido com muito preconceito.
Existem histórias escabrosas e folclóricas com relação a essa fita. Por
exemplo: um cara comprou uma dessas fitas e deu ao dono de uma empresa de
ônibus que faz a linha Ceará Mirim-Natal. Esse empresário tinha tanta
intimidade com seus funcionários que os motoristas costumavam abrir o carro
dele e pegar uma fita qualquer para tocar durante a viagem. Certo dia um
motorista escolheu uma fita, levou para o ônibus e, quando iniciou a viagem,
fechou a porta que separa a cabine e botou pra tocar, baixinho, como som
ambiente para os passageiros. Em pouco tempo chegou uma mulher braba, dando
porrada na porta. “Que sacanagem é essa?”. Quando o motorista foi ver, era a
minha fita que estava rolando. (risos) Minha mãe, quando escutou, pediu que eu
não dissesse mais em canto nenhum que era filho dela.
ZONA SUL –
E a sua mulher e seus filhos: o que acham desse trabalho?
TERTULIANO
– Minha mulher detesta, minha filha também não gosta. Mas meu filho é meu fã
incondicional. Ele mora em Recife.
ZONA SUL –
Você já foi preso alguma vez?
CABRITO –
Não. Sou esguio, cara. Sou escorregadio.
ZONA SUL –
Qual foi o passo seguinte, depois da fita?
TERTULIANO
– A gente transformou essa fita em CD. O mesmo repertório. O lançamento foi no
Vero’s Bar, que é uma casa de meninas de vida fácil. Aliás, é bom que se diga que,
na verdade, elas levam uma vida é bastante dura.
ZONA SUL –
Como surgiu a ideia de lançar o CD em um cabaré?
TERTULIANO
– A ideia foi de Nelson Rebouças. A gente colocou gente dentro desse cabaré que
não cabia. A casa era pequena, mas 250 pessoas conseguiram entrar. Foi um caos,
foi um verdadeiro cabaré! Voltou gente da porta porque não conseguiu entrar. A
gente quase não conseguiu tocar porque ficavam atropelando os instrumentos. Tem
alguns vídeos dessa festa no Youtube, para quem quiser ter uma ideia do que
estou falando.
ZONA SUL –
Como reagiram a esse seu trabalho?
TERTULIANO
– Fiquei maravilhado, sobretudo porque tinha muita menina linda cantando a minha
música. Eu já tinha visto homens, adolescentes, cantando as canções. Depois
ainda recebi muita gente no camarim improvisado.
ZONA SUL – Tinha até camarim?
CABRITO – Na
verdade, era um quarto de despejo com um ventilador velho, móveis velhos... Esse
era o nosso camarim.
ZONA SUL –
Quem acompanhou você nesse show no Vero’s Bar?
TERTULIANO
– Minha banda, chamada “Os Caprinos”. Essa banda é encabeçada pelo maestro
Franklin Nogvaes (teclado) e conta com Ricardo Baya (guitarra), Sérgio Mendonça
(baixo) e John Fidja (bateria). Às vezes, um desses não está disponível e a
gente convoca outro. Fiz bem uns três shows no Castelinho para lançar esse meu
primeiro CD, que é chamado “Os nominhos que ela tem”.
ZONA SUL –
É verdade que ao final de um dos seus shows realizados em cabaré uma das
prostitutas comentou: “ainda bem que acabou essa baixaria...”?
TERTULIANO
– (risos) Já pensou um negócio desses? Outro dia, eu estava tocando em um
cabaré quando a dona chegou pra mim e disse: “meu senhor, respeite a minha
casa... A gente tem um cliente lá dentro”. Um dia depois do lançamento do CD, o
jornalista Mário Ivo fez até uma crônica e publicou no seu blog. O título era “As
putas ficaram putas”. As meninas disseram que nesse dia do show só conseguiram
fazer algum programa depois da minha apresentação. Esse show foi no dia 1º de
maio de 2010. A capa do CD é de Venâncio Pinheiro.
ZONA SUL –
Quem mais, além de você e Franklin, participou das gravações desse disco?
TERTULIANO
– Só o maestro Franklin Nogvaes teve coragem. Mas é bom destacar que ele não
tem culpa nenhuma! (risos)
ZONA SUL –
É verdade que algumas bandas estão montando repertório inspirado no seu
trabalho?
TERTULIANO
– Sim. Tem, por exemplo, o pessoal do “Cool do Elefante”. Estou fazendo escola.
Por outro lado, consegui algumas inimizades dentro do movimento feminista.
Algumas me destetam por achar que eu detrato as mulheres. Mas ocorre que faço
justamente o contrário: eu faço é uma louvação à mulher. Tem uma banda chamada
“Las Cabritas Malditas” que está preparando um show que, na visão delas, tem o
objetivo de detratar os homens, como elas acham que eu detrato as mulheres.
Estão preparando uma carta aberta a mim. Fui convidado – e já aceitei – para
estar no palco no momento da leitura.
ZONA SUL –
Tertuliano tem muita coisa de Cabrito?
TERTULIANO
– Acredito que sim, já que o personagem termina se confundindo com a pessoa.
Quem é que está aqui? Cabrito ou Tertuliano? Sou espirituoso, todo mundo gosta
de mim por causa disso. Todo mundo adora sacanagem, mas diz que não gosta. No
frigir dos ovos, todo mundo gosta. Tem muita gente que comenta, a respeito da
minha música, que ela é espetacular, mas quando começo a cantar acabo com tudo.
ZONA SUL –
Você se dedica a um gênero específico de música?
TERTULIANO
– Tem todo tipo. Tem tango, balada, forró, todos os gêneros. Fiz de propósito,
só pra chiar, só pra ser pernóstico. O título do disco seria “A cagada da minha
prima”, que é uma balada. Mas, a título de marketing, a gente mudou para
"Os nominhos que ela tem”. Se fosse o nome original, acho que a gente
teria dificuldade de divulgar.
ZONA SUL –
Você já ouviu “Velhas Virgens”?
TERTULIANO
– Já. Trabalho vendendo MP3. Tudo que você imaginar de música, eu tenho.
Trabalho vendendo pen drive gravado, CD. Tenho o repertório das “Velhas Virgens”.
ZONA SUL –
Em que você se inspira para compor suas canções proibidas para menores de 18
anos?
TERTULIANO
– É muito fácil fazer esse tipo de música. Basta assistir bastante filme de
sacanagem e prestar atenção nas histórias escabrosas que são contadas nas mesas
de bar. Todo frequentador de boteco tem uma história legal pra contar. Vou juntando
um “causo” aqui, uma piada acolá e de repente a letra da música está pronta.
ZONA SUL –
Como foi a gravação do DVD?
TERTULIANO
- Hoje DVD é moda, todo mundo grava um. Por isso resolvi também gravar o meu.
Um pessoal de Caicó, da “Nonsense Filmes”, fez a gravação. A “Nonsense” gravou
o repertório do disco lá no Senzala, o cabaré de Abílio. Não teve participação
da banda, foi só eu e Franklin Nogvaes. Franklin colocou os arranjos no
computador e fez os acompanhamentos com o teclado. Com a banda toda teria
dificuldades na edição.
ZONA SUL –
Onde adquirir os seus trabalhos e como contratar os seus shows?
TERTULIANO
– Meu CD e o DVD estão à venda lá no Sebo Balalaika (Rua Vigário Bartolomeu,
565 - Cidade Alta). Contatos para a distribuição do DVD e também para shows
podem ser mantidos com Nelson Rebouças (nnelsonreboucas@yahoo.com.br –
(84) 9922-8188 ou 9151-7783).
ZONA SUL –
(Nesse instante chega à mesa da Lanchonete Zé Reeira o jornalista Moisés de Lima,
um dos responsáveis pelo sucesso de Cabrito).
TERTULIANO
– Moises de Lima é um dos culpados pela ascensão do Cabrito. Esse “fela da puta”
foi um dos que mais divulgou esse trabalho. Eu querendo que ele escrevesse
matéria sobre meus trabalhos sérios, evangélicos, e ele nada de querer me
entrevistar. Mas foi só eu fazer essas músicas de sacanagem que ele botou no
jornal. (risos)
ZONA SUL –
É sério que você tem um trabalho evangélico?
TERTULIANO
– Claro que não. Mas é verdade que eu gosto de estudar religião. Por incrível
que pareça, frequento escola e tudo. É a minha filosofia preferida, o estudo da
religião, principalmente do Cristianismo. Todos temos Deus e o demônio em nós.
Por isso a espiritualidade e o lado carnal convivem muito bem em mim.
ZONA SUL –
Qual a tiragem do disco e do DVD?
TERTULIANO
– Do disco eu nem sei, mas do DVD a gente fez 300 cópias. Penso que já estamos
precisando fazer outra tiragem. O DVD foi lançado agora em 2012. Ele tem o
mesmo nome do CD: “Os nominhos que ela tem”.
ZONA SUL –
O trabalho como Cabrito foi o que chamou a atenção de outros artistas para as
suas músicas “censura livre”?
TERTULIANO
– Não, eu já tinha toda uma história com o “Alcateia“ e participado de
festivais. Em resumo: eu tinha envolvimento com a cena cultural potiguar e
alguns artistas tinham gravado músicas minhas... Mas certamente esse trabalho
me tornou mais conhecido.
ZONA SUL –
Quem já gravou suas canções?
TERTULIANO - Carlos
Bem, Krhystal, Geraldo Carvalho... Fica difícil lembrar todos.
ZONA SUL –
Qual sua música preferida?
TERTULIANO
– Sem dúvida nenhuma é “Natália”, que fiz em parceria com Nagério. A letra é
assim: “Meu canto corta a ribeira / Cidade nova de amor / Grito pelos igapós /
Um desafio em flor / Tempero a minha alma / Com um ramo de alecrim / O meu
coração de rocas / Picado de maruim / E a esperança que descansa / Numa redinha
pequena / Capim macio do pátio / Mãe Luiza flor morena / Dix sete botões
rosados / Lagoa nova secou / O grande ponto dos sonhos / Candelária, virgem
amor / O forte da negra ponta / Cantinho de Mirassol / Brasília teimosa, reis /
Barreira d’água, Tirol / O morro branco que guarda / A areia preta do mar /
Cidade alta de mágoas / Bom pastor a vaquejar”.
ZONA SUL –
E o seu trabalho junto ao “Balalaika Brega Band”?
TERTULIANO
– Surgiu pela necessidade de ganhar dinheiro. O repertório inclui músicas bem
apelativas, bem bregas, como “Essa última canção” e “Eu não sou cachorro não”.
Isso é para a gente ganhar dinheiro. Nessa banda eu entro como Tertuliano. A
gente se apresenta em qualquer lugar.
ZONA SUL –
Cabrito chegou a fazer shows fora de Natal?
TERTULIANO
– Sim, mas só com voz e violão. Nelson Rebouças publicou um livro chamado “69
versos fesceninos”. Ele lançou em Natal, João Pessoa e Mossoró. Fiz
participação em todos esses lançamentos. Apesar de não ter me apresentado em
muitos estados, recebo e-mail do país inteiro. Tem gente do Rio Grande do Sul que
escreve dizendo que estava em um churrasco no final de semana e a trilha sonora
foi minha música. O cara manda a mensagem sem nem me conhecer. E olha que eu
nem cultivo muito esse negócio de redes sociais.
ZONA SUL –
Vimos que o seu Twitter (@CabritoDBDNSA) está bem desatualizado.
TERTULIANO
– Não é meu, nunca tive Twitter. Estão utilizando meu nome. Acho uma covardia.
Se você tem vontade de escrever alguma coisa, faça e assine. Não se esconda
atrás do meu nome. Já vi algumas coisas escritas nesse Twitter. Garanto que eu
seria bem mais criativo. Os textos lá estão muito óbvios, rasteiros.
ZONA SUL –
Onde encontrar, na Internet, o Cabrito original?
TERTULIANO
– Não cultivo muito a Internet porque tenho um Facebook de Tertuliano. Tenho
medo de postar uma coisa em um lugar e cair no outro. Mas é fácil me encontrar
no Youtube. Não apenas o trabalho como Cabrito, mas algumas canções que estão
postadas no canal “Som sem plugues”.
ZONA SUL –
O que você planeja agora?
TERTULIANO
– Minha prioridade é trabalhar, vender CD, vender música, vender pen-drive
gravado. É trabalhar nos projetos do governo, na direção de palco. Faço parte
da equipe do MPBeco. Quem toma conta do palco sou eu. Minha prioridade é
trabalhar e trabalhar e trabalhar. Em outra frente, estou planejando o próximo
disco. Já tenho algumas músicas novas. O ano está começando, vou ver se me
entendo com Franklin Nogvaes e a gente grava esse novo disco. Depois de pronto,
é só organizar uma festa de lançamento.
ZONA SUL –
O que faltou perguntar a você?
TERTULIANO
– Acho que nada.
ZONA SUL –
Deixe um recado para o leitor.
TERTULIANO
– Eu queria que as pessoas fossem compreensivas com esse trabalho de Cabrito. É
apenas uma brincadeira. Não tenho a intenção de detratar ou menosprezar
ninguém. Pelo contrário, o objetivo é só divertir as pessoas. Outro dia,
Emanuel Grilo – o cara mais safado de Natal – inventou que eu abriria um show
de Chico Buarque. Ele costuma fazer piadas comigo. Recebi muito e-mail de
pessoas querendo saber se era verdade. Eu confirmei! Em torno de mim rola essa
brincadeira, essa palhaçada. Isso alegra as pessoas, diverte. Meu trabalho é
isso, é humor. Não tem nada de ofensivo.
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