25 de outubro de 2021

A GENIALIDADE DÊ NEWTON NAVARRO

 

                                                                                                                    Newton Navarro

Odúlio Botelho Medeiros-ex-presidente da OAB/RN

Tive o prazer e a felicidade de ter conhecido e convivido com o pintoe poeta Newton NavarroVivenciei, portantoo seu lado boêmio e o seu valor culturalQuando em estado de "graça", apesar de não lhe fugir à genialidade, tomava-se irônicede uma certa formapolêmico. Todaviaesse comportamento diferenciado é próprio dos poetasque sãrebeldes por natureza. E esse conviver esporádico com o grande artista deveu-se à amizade que elmanteve comeu irmão Emanoel Botelh(Maneco, que se foi para o Estado do Pará e nunca mais voltou) e com eLeandro de Castro, tudo nas décadas de 50/60, nos velhos tempos do Granada Barque funcionava na AvenidRio Branco em Natal.
O Granada era, com toda certeza, o centro culturada boêmia natalense. Nos seus corredoresenas suas mesas não era difícilàqueles da minha geração encontrar figuras como Câmara CascudoLuís Carlos Guimarães, Nei LeandroJurandyrNavarroBerilo Wanderley, Diógenes da Cunha Lima, Nilson Patriota, Sanderson Negreiros, Moacir Cirne.Veríssimo de Melo, o própriNewton Navarro, talvez o seu mais assíduo freqüentador, Luis Rabelo, que fez escolna literatura norte-riograndensena opinião dos críticos da época.
A minha geração, essa geração dpós-guerra, foi muitrica evalores intelectuais e boêmios famosos, como Roldão BotelhoLTavaresAlexandre Garcia, Valter CanutoNei MarinhoAntônio Elias França, e seu filho Glicério, Gil Barbosa, Luís CordeiroCastilho, Raimundo do Cartório, Albimar Marinho, a figura mais pitoresca da cidade. Aencontrao advogado João Medeiros Filho, indagava-lhe cheio de prosopopéia: "e então, DT. João Medeiros, o direito continua líquido e certo?". Isso era ótimo! Peço venia aos outros que aqui não foram mencionadosEram tantos e tantos que os seus nomes não comportariam nesse pequeno espaçoNatal era uma festa!
Na verdade, o que me inspira mesmo a escrever essas reminiscências é a grandiosidade de
Newton Navarro. Entendo que Natal esqueceu muito cedo o seu maior artista, ou melhor, possivelmente um dos mais completos intelectuais na modesta maneira de eu enxergar a cena urbana da cidadeSendo um intelectual polivalente, Newton foo mestre maior da pintura nordestinaAlém disso, era excelente cronista, com as suas estórias curtasricas de beleza e criatividade. E que dizer de sua poesia? Lembro-me que foi ele quem desasnou o grande Nei Leandro para a vocação poética, ao dar-lhe régua e compasso para esse difícil campo das atividades humanasAlém das citadas qualidadesainda escreveu peçasteatrais, literatura infantil, perfilando no campo da oratória, a meu ver o mais completo orador de sua geração, com atuação em todos os campos do discursosacropopular, em recinto fechado, em palanques públicos, em grandes eventos sociais eprincipalmentenos bares da vida. Nesses é que os homens revelam os seus melhores sentimentos e os seus dotes humanitários.
Destacou-setambém, como novelista ... (De Como se Perdeu o Gajeiro Curió)Não se pode
esquecer o Newton folclorista, cultor dos fandangoschegam asbumba-meu-boilapinhas, pastoriscocos de roda, maxixes, xotese tantas outras manifestações populares atualmente esquecidas e em desuso.
Tudo issoDjalma Maranhão incentivava na condição de Prefeito de NatalFoiinegavelmente, o mais lírico e populaprefeito desta cidade de xarias e canguleiros. A obra deixada pelo genial escritor é significativa, por ser variada e múltipla; Poesias: Subúrbio do Silêncio; ABC do Cantador Clarimundo. Crônicas: 30 Crônicas Não Selecionadas. Contos: O Solirio Vento do Verão; Os Mortos são Estrangeiros (o seu livro preferido)Do Outro Lado do Rio, Entre os Morros. NovelaDe Como se Perdeu o Gajeiro Curió (o escritor Nilo Pereira afirmou que esta novela deveria tesido filmada)Teatro: Um Jardim Chamado GetsemaniO Caminho da Cruz uma Via Sacra encenada ao ar livre, em Natal, pioneira nesse ramo teatralHoje tem Poesiaencenada no TAMO Muro, encenada no TAM. Além dessas, existem muitas outras peças inéditas que sua mulher Salete Navarro esperava que fossem publicadas, por quem de direito. Salete lutava rdentemente pela criação de uma fundação para que a obra do grande escritonão viesse a perecer.Morreu sem poder realizar o seu sonhoInesquecível Newton Navarrofalecido aos 63 anos de idade, receba esta crônica pelo menos comouma homenagem da minha geração. Ainda bem, que agora, o atual governo prestou-lhe merecidahomenagem ao denominaPontNewton Navarroessa grande obra de integração urbana e social. Somente assim Newton, essa cidade continuará sempre sua.

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