Foto: divulgação
A cantora Norte riograndense Terezinha de Jesus,
estará se apresentando no dia 07 de março/2020, às 20 horas na Casa Galvão espaço
Cultural e Bistrô, situada na R. Dr.
Manoel Augusto Bezerra de Araújo, 135 - Vila de Ponta Negra,
Entrevista cedida ao Jornal Zona Sul no ano de 2003
Quem é:Terezinha de Meneses Cruz nasceu em Florânia,
no Rio Grande do Norte, a 3 de julho de 1951. . A discografia da seridoense
inclui os elepês Vento Nordeste (1979), Caso de Amor (1980), Pra Incendiar Seu
Coração (1981), Sotaque (1982) e Frágil Força (1983). A estréia no vinil se deu
em um compacto lançado pela Funarte, em 1978, pelo projeto Vitrine. Esse
registro está disponível em CD da gravadora Atração, junto com as primeiras
gravações de Zizi Possi, Oswaldo Montenegro, Cláudia Savaget e Mongol, com
participação de Grande Otelo. Os CDs lançados por Terezinha foram 20 Sucessos
de Terezinha de Jesus (1997), pela Sony, e Mares Potiguares, uma produção
independente datada do ano passado.
ZONA SUL - Como Terezinha de Meneses Cruz
transformou-se em Terezinha de Jesus?
TEREZINHA - Sou batizada como Terezinha mesmo, o
diminutivo de Tereza. Quando comecei a cantar, eu tinha um apelido: Tiazinha. O
grande poeta e compositor Abel Silva achava que esse era um nome muito familiar
para ser o de uma artista. Lógico que essa Tiazinha de hoje ainda não tinha
aparecido. Então Abel Silva decidiu sugerir um nome artístico pra mim. Uma
certa ocasião ele perguntou o que eu achava de Terezinha de Jesus. Eu achei
ótimo, lindo. Um nome bem brasileiro, que vem do folclore de Portugal. Tem até
aquela musiquinha... Capinam e Paulinho da Viola, que estavam conosco, também
gostaram. Com o aval de tantos poetas, resolvi, ali, passar a utilizar
Terezinha de Jesus.
ZONA SUL - Como começou a cantar?
TEREZINHA - Minha família é toda musical. Em Currais
Novos, quando criança, eu cantava em coral de colégio. Mas era com aquele monte
de gente, eu não era solista. Quando vim do interior para Natal, minha irmã,
Odaíres, já era cantora. O marido dela, Mirabô, também cantava, tocava e
compunha. Fui convidada por eles para fazer uma participação especial em um
show chamado Explo 70, no Sesc da Cidade Alta. Minha primeira aparição pra
valer foi essa, em 1970. Depois da apresentação - que englobava artes
plásticas, mostra audiovisual e um monte de coisas - disseram que eu não podia
parar.
ZONA SUL - Quando você extrapolou as fronteiras do
estado? Tentou seguir carreira em qual lugar?
TEREZINHA - Fiquei cantando aqui em Natal. Uma das
boas lembranças que tenho é a participação em um festival de música popular
nordestina. Eu cantei uma música de dois compositores potiguares: Ivanildo
Cortez e Napoleão Veras. Quero Talvez Uma Nega era o título. Vencemos em Natal
e Recife e perdemos em Salvador. Continuei em Natal por mais dois anos,
integrando uma turma que tinha, além de mim, Mirabô, Márcio Tarcino, Expedito e
outros. Era o Grupo Opção. Fomos todos para o Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro:
ZONA SUL - O sucesso chegou rápido? Foi fácil?
TEREZINHA - No Rio, antes de gravar, até 1978, 1979,
eu trabalhei muito. Fui vocalista de Tim Maia, fiz vários jingles, gravei com o
Trio Esperança, com os Golden Boys, o Quarteto em Cy... Sempre fazendo vocal.
Depois, a convite de Fagner, que estava na CBS, gravei meu primeiro elepê. Eu
já tinha repertório e muita gente me conhecia. Os shows que eu fazia estavam
sempre lotados. Ía muita gente do meio artístico e jornalistas. Fagner
perguntou se eu queria gravar. Claro que respondi que sim. Como tinha o aval de
Fagner, entrei direto no estúdio, sem precisar de testes nem nada.
ZONA SUL - E o disco? Fez sucesso?
TEREZINHA - A repercussão de Vento Nordeste foi muito
boa. A CBS nem pensava em trabalhar o elepê, em investir na divulgação. Só que,
de cara, o disco vendeu três mil cópias. Aí eles resolveram me botar em campo,
promover viagens para shows em São Paulo. Na verdade, a princípio eles não
acreditavam. Gravaram o elepê para atender a um pedido de Fagner. Mas até hoje
músicas como Curare, Vento Nordeste e Na Direção do Dia (também conhecida como
Toada, música que depois foi gravada pelo Boca Livre) ainda são lembradas.
ZONA SUL - Como era a vida naqueles tempos do Rio?
TEREZINHA - Eu fiz muito programa de televisão.
Participei do Chacrinha, do Fantástico... Estive em todos os musicais da TVE.
Quando fui ao Chacrinha pela primeira vez, estava com medo de que fizessem
comigo aquela onda de jogar pó de café. Mas, antes de eu entrar no palco,
prometeram não jogar nada em mim. Fiz Chacrinha tanto na TV Bandeirantes quanto
na Globo. Nessa emissora também participei de um programa chamado Geração 80,
que passava nas tardes dos sábados. Fiz muitas vezes Almoço Com As Estrelas.
Aliás, esse foi o primeiro programa em rede comercial do qual participei. Até
então eu tinha feito vários especiais na TVE do Rio e na TV Cultura de São
Paulo. O primeiro foi ao lado de Joanna, que também estava começando.
ZONA SUL - Além dessa história do temor de ser
atingida por pó de café no programa do Chacrinha, você lembra algum outro fato
inusitado na sua carreira?
TEREZINHA - Sim. Depois do primeiro disco, todas as
vezes que eu lançava um novo a CBS fazia um clip para distribuir junto às
emissoras de televisão. Eu estava gravando em umas dunas na Barra da Tijuca.
Tinha dez crianças comigo. A música era Odalisca Em Flor, gravada no meu último
elepê. Falava em elefante. Mas como alugar um elefante saía muito caro, eles
optaram por uma leoa filhote. De repente, a leoa avançou em mim. Senti aquele
peso na bunda. Mas a sorte é que não me feriu. Ficou só o vermelho da marca das
unhas ou dos dentes do bicho, não tenho certeza. Também não inflamou, nem
precisei tomar vacina. Mas o susto foi grande.
ZONA SUL - Qual o maior sucesso de sua carreira?
TEREZINHA - A música de maior sucesso foi Pra
Incendiar Seu Coração, de Moraes Moreira e Patinhas. Aliás, Moraes Moreira é um
dos meus compositores favoritos. Mirabô também. Gosto muito de Paulinho da
Viola e de Fagner. Gravei uma de Fagner, depois de vê-lo cantando, que ele
sequer pensava em gravar. Foi a música Cigano, que se destacou muito no meu
elepê Vento Nordeste e posteriormente foi sucesso com ele também. Fagner,
Paulinho da Viola e Abel Silva ajudaram muito na minha carreira artística.
De volta a Natal
ZONA SUL: Por que você não continua até hoje tocando
sua carreira no eixo Rio-São Paulo?
TEREZINHA - Fiquei muitos anos no Rio de Janeiro. A
gente sempre volta para a terra da gente quando as coisas começam a ficar
difíceis... Saí da CBS porque quis. Já estava no terceiro contrato e aquilo
começava a parecer um casamento. Eu achava que minha carreira não estava
evoluindo, que eles poderiam investir mais em mim, que faltava vontade pra
isso. Logo após gravar Frágil Força, em 1983, botei na cabeça que se o disco
não emplacasse, não fizesse um grande sucesso, eu sairia da CBS. Eu pensava que
seria mais ou menos fácil, com tanto tempo de carreira e tantos trabalhos bem
feitos, conseguir uma outra gravadora. É um mistério até hoje. Não sei o que
aconteceu, mas cansei de procurar. Então resolvi: se não querem que eu cante,
então não vou mais cantar. Voltei para Natal em 1994.
Hoje em dia
ZONA SUL - As amizades daquele tempo não dão uma força
para que você possa tentar voltar a impulsionar sua carreira?
TEREZINHA - Meu relacionamento com os cantores,
compositores, os amigos daquele tempo, continua ótimo. Eu até precisaria, mas
não sou de pedir nada. Eu sou persistente, mas somente até certo ponto. Pelo
menos resta o reconhecimento do povo. As pessoas que me conhecem sabem que fiz
um trabalho legal, que ficou marcado. Quando faço shows, cantam comigo. Pra
Incendiar Seu Coração, cantam todinha. Esse ano, pela primeira vez, recebi uma
homenagem no Rio Grande do Norte. Foi o Prêmio Hangar, pelo conjunto da obra. A
premiação teve o patrocínio do Banco do Brasil.
ZONA SUL - O que toca atualmente no seu aparelho de
som?
TEREZINHA - Não ando ouvindo muito essa geração mais
nova. Ainda dou preferência aos mais antigos, como Milton Nascimento, Caetano
Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Gal Costa...também gosto de Marisa Monte.
De Natal, gosto de muita gente: Pedrinho Mendes, Geraldinho Carvalho, Cleudo...
Mirabô gravou, no disco que Babal lançou, uma música muito boa. Quem ouviu diz
que ficou linda. Pra citar as mulheres também, porque se não fica muito
machista, tem Odaíres, minha irmã, que também canta muito bem, tem Lane
Cardoso, Lucinha Lira, Cida Oliveira e Glorinha Oliveira. Certamente esqueci
alguém, já que Natal tem muita gente boa.
Alguém poderia me informar o sobrenome do Expedito do Grupo Opção?
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