Foto: divulgação
Era uma manhã de sol de um distante dia de 1936. Um
grupo de amigos conversava na praia da Redinha, olhando os raios de sol sobre o
encontro das águas do rio Potengi com o Oceano Atlântico. Alguém de repente
soltou a idéia: por que não fazer uma viagem de remo de Natal ao Rio de
Janeiro. Natal contava então com alguns dos melhores e mais valentes remadores
do Brasil. O sonho passou a ocupar a mente daqueles homens até esbarrar na
burocracia do Ministério da Marinha.
Mas depois de
alguns anos, o sonho voltou a crescer. No dia 30 de março de 1952, um grupo de
quatro remadores, chefiados por Ricardo da Cruz, colocou a iole Rio Grande do
Norte nas águas e seguiu rumo ao Rio de Janeiro. Essa história pode ser
encontrada em detalhes no livro Heróis do Remo, História do Raid Natal-Rio de
Janeiro, de JoãoAlfredo, edição Clima, 1987. “Tendo em vista a longa E espera,
temia-se que os nossos remadores estivessem desmotivados, e não mais
acalentassem o desejo que havia animado a todos.
Eis que ressurgiram novos contatos e tudo cresceu,
tomou vulto de tal forma que os primeiro companheiros de Ricardo da Cruz
chegaram a Natal”. Eram eles: Antonio de Souza, de Areia Branca; Luiz Enéas, de
Natal; Walter Fernandes, de Natal, Oscar Simões, do Amazonas; Clodoaldo Bakker,
de Natal e Francisco Madureira, de Natal. Primeiro é preciso entrar no clima da
partida. “Na manhã do dia 30 de março de 1952, a cidade amanheceu em festa, no
cais do porto, na Tavares de Lira, pedra do Rosário, canto do mangue e Rampa,
bandeiras tremulavam, lenços acenavam, foguetões pipocavam, a margem do rio era
uma só festa”.
O que se
segue é um relato de plena aventura. “Eram 8:40 da manhã, a chuva deu lugar a
um sol brilhante, dourando a crista das ondas. O mar estava calmo, a iole virou
a proa deixando a barra. Uma ligeira parada, braços se ergueram e as mãos
saudosas acenaram. De agora em diante, tudo era mistério, aventura, céu e mar e
o vigor dos braços para vencer a imensidão das águas”. Remaram até Pirangi,
Baia da Traição, na Paraíba (onde um avião da Cruzeiro do Sul, com o deputado
Dix-Huit Rosado a bordo, lhes atirou jornais e cigarros e uma mensagem de
saudação), Cabedelo, Recife (onde avistaram tubarões no cabo de Santo
Agostinho), São José da Coroa Grande (AL), Maragogi (AL), até chegar em
Aracaju, onde o pior estava por vir.
Depois de saírem de Aracaju os remadores enfrentaram
uma série de ondas fortes que provocou o naufrágio da iole. Com muito esforço
nadaram até a praia e ficaram esperando socorro. Os remadores voltaram para
Natal e foram recebidos com festa. Mas o raid não terminara. Uma nova iole foi
construída e no dia 19 de fevereiro de 1953 a iole Rio Grande do Norte II saiu
de Atalaia rumo a Salvador. Enfrentando temporais e todos o perigos possíveis
os remadores fizeram o percurso até Salvador, onde receberam medalhas de ouro
da Câmara Municipal.
Depois
seguiram para Vitória, Espírito Santo, aonde chegaram no início da noite do dia
5 de abril de 1953. Foram recebidos com festa. Partiram de Vitória no dia 11 de
abril. “Rumando em direção à entrada da Barra lá estavam à espera os navios de
guerra Graúna e Guajará, entrando no canal o acompanhamento tornou-se grande
com a presença dos barcos de regatas do Vasco da Gama, internacional de
regatas”. Os remadores foram recebidos com pompas e circunstância no Rio de
Janeiro, receberam prêmios e homenagens. A BBC de Londres considerou a aventura
como “o maior feito náutico do mundo”, segundo João Alfredo. Este relato bem
que merecia virar um romance potiguar.(CS)
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