19 de setembro de 2018

Epopéia do remo


                                                                                                                       Foto: divulgação
           
Era uma manhã de sol de um distante dia de 1936. Um grupo de amigos conversava na praia da Redinha, olhando os raios de sol sobre o encontro das águas do rio Potengi com o Oceano Atlântico. Alguém de repente soltou a idéia: por que não fazer uma viagem de remo de Natal ao Rio de Janeiro. Natal contava então com alguns dos melhores e mais valentes remadores do Brasil. O sonho passou a ocupar a mente daqueles homens até esbarrar na burocracia do Ministério da Marinha.
 Mas depois de alguns anos, o sonho voltou a crescer. No dia 30 de março de 1952, um grupo de quatro remadores, chefiados por Ricardo da Cruz, colocou a iole Rio Grande do Norte nas águas e seguiu rumo ao Rio de Janeiro. Essa história pode ser encontrada em detalhes no livro Heróis do Remo, História do Raid Natal-Rio de Janeiro, de JoãoAlfredo, edição Clima, 1987. “Tendo em vista a longa E espera, temia-se que os nossos remadores estivessem desmotivados, e não mais acalentassem o desejo que havia animado a todos.
Eis que ressurgiram novos contatos e tudo cresceu, tomou vulto de tal forma que os primeiro companheiros de Ricardo da Cruz chegaram a Natal”. Eram eles: Antonio de Souza, de Areia Branca; Luiz Enéas, de Natal; Walter Fernandes, de Natal, Oscar Simões, do Amazonas; Clodoaldo Bakker, de Natal e Francisco Madureira, de Natal. Primeiro é preciso entrar no clima da partida. “Na manhã do dia 30 de março de 1952, a cidade amanheceu em festa, no cais do porto, na Tavares de Lira, pedra do Rosário, canto do mangue e Rampa, bandeiras tremulavam, lenços acenavam, foguetões pipocavam, a margem do rio era uma só festa”.
 O que se segue é um relato de plena aventura. “Eram 8:40 da manhã, a chuva deu lugar a um sol brilhante, dourando a crista das ondas. O mar estava calmo, a iole virou a proa deixando a barra. Uma ligeira parada, braços se ergueram e as mãos saudosas acenaram. De agora em diante, tudo era mistério, aventura, céu e mar e o vigor dos braços para vencer a imensidão das águas”. Remaram até Pirangi, Baia da Traição, na Paraíba (onde um avião da Cruzeiro do Sul, com o deputado Dix-Huit Rosado a bordo, lhes atirou jornais e cigarros e uma mensagem de saudação), Cabedelo, Recife (onde avistaram tubarões no cabo de Santo Agostinho), São José da Coroa Grande (AL), Maragogi (AL), até chegar em Aracaju, onde o pior estava por vir.
Depois de saírem de Aracaju os remadores enfrentaram uma série de ondas fortes que provocou o naufrágio da iole. Com muito esforço nadaram até a praia e ficaram esperando socorro. Os remadores voltaram para Natal e foram recebidos com festa. Mas o raid não terminara. Uma nova iole foi construída e no dia 19 de fevereiro de 1953 a iole Rio Grande do Norte II saiu de Atalaia rumo a Salvador. Enfrentando temporais e todos o perigos possíveis os remadores fizeram o percurso até Salvador, onde receberam medalhas de ouro da Câmara Municipal.
 Depois seguiram para Vitória, Espírito Santo, aonde chegaram no início da noite do dia 5 de abril de 1953. Foram recebidos com festa. Partiram de Vitória no dia 11 de abril. “Rumando em direção à entrada da Barra lá estavam à espera os navios de guerra Graúna e Guajará, entrando no canal o acompanhamento tornou-se grande com a presença dos barcos de regatas do Vasco da Gama, internacional de regatas”. Os remadores foram recebidos com pompas e circunstância no Rio de Janeiro, receberam prêmios e homenagens. A BBC de Londres considerou a aventura como “o maior feito náutico do mundo”, segundo João Alfredo. Este relato bem que merecia virar um romance potiguar.(CS)

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