Foto: divulgação
Luciano Capistrano
Professor e Historiador
A noite de domingo, dia 02 de setembro, ficará marcada como o nosso “trágico
setembro”. Perdemos, a sociedade brasileira perdeu, confesso, não resisti, fui às lágrimas
ao ver o Museu Nacional em chamas. Imagem do terror, um terror a muito anunciado, pois,
há anos, as Instituições Científicas e de Ensino, sofrem o descaso, de gestões públicas
indiferentes a produção do conhecimento.
As chamas, consumiram em poucas horas anos e anos de pesquisas, de estudos,
do acervo repleto de raridades, nos diversos campos do conhecimento.
Em junho, passado,
o Museu Nacional, completou 200 anos de existência, em sua trajetória seu acervo foi
enriquecido, chegando a um número grandioso: 20 milhões de itens, fazendo do seu acervo
um dos mais importantes do mundo.
Luzia, fóssil mais antigo da américa, encontrado no Brasil, uma mulher de mais de
11.500 anos, não resistiu aos desmanches ou a não existência de políticas públicas
preservacionistas de nossa memória.
Nossas casas de memórias, estão em risco.
O fogo transformou em cinzas raridades,como por exemplos, pergaminho datado do
século XI com manuscritos em grego sobre os quatro Evangelhos; a Bíblia de Mogúncia, de
1462, primeira obra impressa a conter informações como data, lugar de impressão; a
crônica de Nuremberg, de 1493, considerado o livro mais ilustrado do século XV, com
mapas xilogravados tidos como os mais antigos impressos em livro, estes são apenas uns
dos milhões de documentos perdidos.
Criado por Dom João VI, ocupando um belíssimo prédio histórico, o Palácio São
Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, residência real, desde a chegada da família imperial
portuguesa, em 1808, foi a partir de 1892 instalado o museu.
Na semana da pátria, quando a sociedade brasileira celebra a
Independência, somos tomados pelo sentimento de perda, no que existe de mais
simbólico, quando pensamos em uma identidade nacional, nossa memória se esvaiu
nas chamas da irresponsabilidade de gestores malfeitores da coisa pública.
Nossa cidade Natal, como o Brasil, carece de uma política de valorização dos
arquivos e museus, como espaços guardiões de nossa memória. Nestes lugares,
apesar da boa vontade dos seus funcionários, falta infraestrutura e equipamentos
adequados para a conservação do acervo.
Um exemplo, bem ilustrativo, da situação destes lugares de memória, são o
arquivo Público Estadual e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte. Volto a repetir, meu caro leitor, nossos arquivos contam com profissionais
comprometidos na preservação da documentação pertencentes aos seus acervos.
Acervos em situação de risco. Coleções de jornais, manuscritos, fotografias,
livros de óbitos, diversos tipos de documentos, enfim, encadernados, mas
impossibilitados de serem consultados, pois, o estado em que se encontram correm
riscos de abertos, se desmancharem, virarem pó.
Urgente faz necessário, desenvolver políticas públicas referentes a
preservação dos acervos guardados nestes lugares de memória. Os arquivos
públicos ou particulares e museus, não podem serem tratados como, “lugar de
mortos”, e sim “lugar de vivos”. Espaços em que encontramos o pulsar das gerações
passadas, fazedores do amanhã. Aos órgãos de preservação da memória nacional,
resta efetivar uma política de salvaguardar os acervos deixados por nossos
antepassados.
Uma política que contemple dois vieses: a organização dos arquivos
e museus e o desenvolvimento de Educação Patrimonial. Deste modo, o indicativo
infraestrutura e educação caminhando de mãos dadas na guarda dos “tesouros da
história”.
O Patrimônio Histórico/Cultural, necessita de proteção, e, não basta apenas
uma legislação faz necessário uma ação de Estado, uma Política Pública de gestão
deste Patrimônio. 02 de setembro de 2018: a memória virou cinza!
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