Entrevista publicada no Suplemento Cultural "Nós, do RN" com o músico Tico da Costa ( In memoriam ) dezembro de 2008
Edson
Benigno
Foi nos palcos da Europa e Estados
Unidos que Tico da Costa intensificou e consolidou a sua carreira desde seus 19
anos. Ele compõe suas próprias músicas e é considerado um excelente violonista.
Nasceu em Areia Branca ,
litoral do Rio Grande do Norte. Em Natal, Recife e Roma estudou música. São 16
CDs gravados entre o Brasil, Estados Unidos, Itália e Paraguai. No Brasil,
gravou “América Latente”, “Anjo das Selvas” e “Ideal 1” . No ano de 2007 lançou “Choro
Suíte” (instrumental) gravado em
Nova Iorque e também o seu mais recente CD “Mar”, gravado e
produzido na Itália. Fez uma tournée de lançamento na Europa e Estados Unidos,
com seu grupo de cordas “Alla Italiana”.
Esse ano ele esteve se apresentando em Brasília, no
projeto de 50 anos da Bossa Nova. Mas o seu trabalho é realizado e mais
divulgado no exterior. Em outra ocasião,
juntamente com John Patitucci, Paquito D’Rivera, Artur Maia e Toninho Horta,
abriu show para João Bosco no Town Hall em Nova Iorque.
Fez vários concertos dividindo palco com Pete Seeger
(Guantanamera), e o compositor minimalista Philip Glass. Sua forte presença no
palco induz espontaneamente a platéia a participar cantando suas canções. E
isto ocorre em Berlim, Colônia, Roma, Paris, Natal, São Paulo, Buenos Aires,
Nova Iorque - Blue Note, Kniting Factory
e nos festivais de renome como o New Port Festival, New York Jazz, Celebrate
Brooklyn Festival.
NÓS DO RN - Como surgiu o apelido Tico da Costa e sua descoberta
musical?
Tico da Costa - Meu nome é Francisco das Chagas da Costa. Nasci em Areia Branca e lá em
casa todos me chamavam de Titico. E quando comecei a tocar e que tive a certeza
que seguiria a carreira musical, tive várias dúvidas sobre o meu nome
artístico, pensando em Francisco da Costa, Chico da Costa, mas só na Itália
resolvi optar definitivamente por Tico
da Costa. A descoberta musical aconteceu quando uma irmã minha ganhou um violão de presente. Ao todo tenho
15 irmãos. E a gente fazia literalmente uma fila pra tocar. Meus primeiros
acordes aprendi com o meu pai Dijesu Paula e com Mirabô Dantas, que vivia pelas
ruas de Areia Branca. Eu olhando, perguntando, enquanto Mirabô fazia aqueles acordes
de dissonância. Eu e meus irmãos só
olhando já aprendíamos. Era a maior briga em nossa família, mas a gente trocava
figurinha e ensinava um a outro. Desde que aprendi os primeiros acordes,
comecei a compor. Eu tinha 13 anos de idade e já fazia letra e música .
NÓS DO RN – Depois de aprender a tocar violão você veio para Natal?
Tico da Costa – Sim. Quando saí de Areia Branca eu vim para Natal com 15 anos de
idade. A minha intenção era estudar,
começando por me matricular na Escola Técnica Federal do Rio Grande do
Norte-ETFRN. Comecei a participar de festivais e me envolver mais ainda com a
música. Eu tinha até algumas canções com algum valor estético. Eu ouvia naquela
época muito Edu Lobo, cantando nos festivais e eu tentava fazer parecido, mas muitas
das letras que eu escrevia, nem eu mesmo entendia o significado. Também naquela
época eu cantava música de Roberto Carlos, Jerry Adriani e muito iê-iê-iê. Eu
chegava aos clubes e me oferecia pra cantar.
Além do repertório conhecido eu incluía uma ou duas das minhas músicas
também. Lembro de uma ocasião em que me apresentei na Lagoa Manoel Felipe, em
um programa de rádio, produzido por Jota Belmont, o qual era transmitido para
todo o RN.
NÓS DO RN - Você passou quanto tempo em Natal?
Tico da Costa - Fiquei dos 15 aos 19 de idade. Neste período conheci a professora de
artes da ETFRN Lourdes Guilherme. Depois que ela ouviu umas de minhas
composições, se ofereceu para conseguir uma bolsa na Escola de Música. E
conseguiu. Como não tinha uma vaga para
violão, passei a estudar contrabaixo. Depois consegui transferência para Recife
e lá estudei violão clássico. Também em Recife fiz parte de um grupo ligado á
igreja católica e fazíamos shows pelo Nordeste todo, tanto nas capitais como
nos municípios do interior. O grupo chamava-se Gen Cântico Novo, pertencia ao
chamado Movimento Focolares.
NÓS DO RN- Depois de Recife você foi para Itália; como foi este salto
para Europa?
Tico da Costa - Certo dia um pintor italiano foi expor em Recife. A exposição
tinha 21 quadros. Olhei todos eles e propus para nós dois fazermos uma mistura
de show com exposição. Falei que
comporia uma música para cada quadro. Ele fotografaria cada uma das telas e
projetaria na parede através de slides, enquanto eu cantava. Sugeri a ele que assim seria mais fácil para
vender as suas obras. Na mesma hora um amigo meu me disse que eu só sairia dali
depois que compusesse todas as músicas. Consegui e poucos dias depois eu estava
cantando na exposição. Foi um sucesso. O pintor disse que quando eu fosse à
Itália o avisasse que fazia o mesmo em Milão, Gênova e Turim. E assim
aconteceu. Fui a Roma com 21 anos de idade participar de um Congresso
Internacional de Jovens. A idéia era passar um mês. Comecei a tocar e cantar e
aí insistiram para que eu permanecesse mais tempo. Fiquei cinco meses e gravei
três compactos. Isso foi em 1972.
NÓS DO RN - Como foi sua vida musical
na Itália?
Tico da Costa - Lá gravei esses compactos. Não de forma independente, foi através de
uma editora chamada Cittá Nuova. Eles até publicaram uma revista que incluía
uma reportagem de várias páginas comigo, com direito a foto na capa e tudo
mais. O texto contava minha trajetória, desde o primeiro show em Grossos. Ainda
nesta viagem fui ao encontro do pintor que tinha conhecido em Recife e fizemos
vários concertos misturados com exposição. Outra coisa importante na Itália foi
eu ter descoberto, sem querer, como é ser um showman. Não é fácil chegar como cheguei diante de 700
pessoas, por exemplo, só com um violão e um microfone. E as pessoas cantando minhas músicas em
português.
NÓS DO RN - Fale da sua relação com contatos importantes que teve na
Europa?
Tico da Costa - Um contato importante foi com a Lina Wertmuller. Ela é a felina
feminina. É muito estimada nos Estados Unidos, chega a ser idolatrada. O fato
de eu ter composto música com ela me rendeu muita credibilidade nos Estados
Unidos. Em determinada ocasião, surgiu a
oportunidade de fazer na Itália a trilha sonora para um filme que ela dirigiria.Era
o filme Tieta do Agreste, com Sophia Loren e grande elenco. Eu também estava
escalado para fazer uma cena, como ator, tocando uma música. O problema é que
quem estava financiando era Roberto Calvi, do Banco Ambrosiano. Só que antes
dos contratos assinados ele apareceu enforcado e o filme foi para o espaço. Na
mesma época Sara (hoje minha esposa, naquele período minha noiva) tinha
decidido fazer faculdade no Rio de Janeiro. Com o fracasso do filme, antecipei
minha volta ao Brasil. Com residência fixa no Rio, passei a viajar pela Europa
para fazer meus shows. Gravei um CD nos
Estados Unidos, chamado Brasil Encanto. Nessa mesma época conheci uma pessoa
que representou muito para minha carreira: Philip Glass, um músico que é
considerado um pop star e autor de trilhas sonoras na história do cinema.
NÓS DO RN - Você também se
apresentou no programa Jô Soares?
Tico da Costa. Sim, quando ele ainda estava no SBT.
Fui eu quem apresentou Philip Glass ao diretor de teatro Gerard Thomas, quando morava no Rio de Janeiro. Eles
ficaram amigos. Gerard foi quem sugeriu meu nome a produção do programa do Jô.
Nessa época eu morava no Paraguai. Pagaram passagens e tudo, foi muito
bom. Cantei quatro músicas no Jô e ele
embasbacou de rir com as minhas canções. Isso foi em 1996.
NÓS DO RN – E sua discografia, o que ela inclui?
Tico da Costa – Minha discografia enriqueceu muito depois que gravei nos Estados
Unidos o meu primeiro CD Brasil Encanto.
O salto foi maior ainda depois de setembro de 2005, quando lancei nos
Estados Unidos e na Europa os discos Lagartixa e Choro Suíte. Fiz muitos shows
pela Europa divulgando esses dois trabalhos.
Tenho 16 discos gravados, incluindo elepês, compactos e CDs. Mais
relevante do que gravar é conseguir uma boa distribuição para seu trabalho.
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