Bosco Lopes
Luciano Capistrano
Especialista em História e Cultura Afro-brasileira e
Africana/UFRN
Pós-graduando em Educação Ambiental / Instituto
kennedy
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: SEMURB/Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte
No
início da década de 1980, na rua da Conceição, 617, Cidade Alta, papai,
Benjamin Capistrano Filho, inaugurou o sebo Cata Livros. Papai, grande
leitor, se fazia - por forças das
circunstâncias, pois lhe faltava aptidão - comerciante de livros usados.
Naquele período de Cata Livros, minhas tardes passaram a ser na rua da
Conceição e na Praça Padre João Maria. na Praça, ficava com alguns livros
expostos a venda, em uma estante e um muro de uma canteiro que existia e servia
como uma especie de balcão. Eu, meu cunhado Ronaldo, hoje sebista em Campina
Grande, ao lado de tia Rosa, ficávamos a vender livros, revistas, vinis, e,
claro, aprender com os "clientes". O sebo, amigo velho, é uma verdadeira
escola literária e da vida.
Sebo
Empoeirados livros na estante
Gritam saberes
Numa enxurrada de letras
Vivas
Escritas
Solitários sopros de vidas.
Ecos propagando ondas ao longe
Lugares distantes
Desconhecidos
Perdidos no tempo
Olhares de poetas, cronistas, romancistas
Dizem de humanidade
Pulsar de vidas
Cai a sombra das inquietações
Mundos de tempos presentes
Passados sem fim
Em um entrelace
De ciências caóticas
Exóticas, enfim
Deliciosos encontros
Desencontros
De saberes
Organizados
Desorganizados
Em pleno universo
De empoeirados e
Saborosos saberes:
Sebo.
(Luciano Capistrano)
A
literatura me foi apresentada por papai, sempre, desde da época da Vila
Mauricio, na avenida 12, onde vivi minha infância e início da adolescência,
nossa casa tinha um lugar para os livros. Quando me vi no sebo, mesmo que do
outro lado do balcão, menino bobo, ouvidos abertos a ouvir diálogos
impertinentes/pertinentes, sobre o mundo das letras, bons tempos, apesar de ver
fluir entre as mãos, tudo em nome da sobrevivência familiar, dos grandes nomes
da literatura brasileira e universal.
Claro,
antes das vendas, folheava, lia, me deliciava com Machado de Assis, Carlos
Drummond, José Lins do Rego, Gracilaino Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge
Fernandes, Zila Mamede, Fiódor Dostoiévski, Marguerite Yourcenar, enfim, a casa
conjugada da Vila Mauricio e o antigo casarão da rua da Conceição,
testemunharam minhas aventuras entre linhas e paragrafo.
Um
dos frequentadores do sebo era Bosco Lopes, figura magrinha, jeito de eterno
boêmio. Faço uma referencia a Bosco, porque recentemente a remexer entre meus
livros, encontrei uma coletânea de poetas potiguares e lá esteva entre eles o
poeta do Corpo de Pedra. Um Dia, A Poesia, este é o título da coletânea
organizada por Ayres Marques, para celebrar o dia 14 de março de 1996. Abro,
aqui, um parentese, o 14 de março, trata-se de uma celebração a poesia, é o dia
Nacional da Poesia, criado por poetas em Recife no ano de 1977, para além das
polêmicas com relação ao qual é o dia oficial da poesia nacional - a presidente Dilma Rousseff, instituiu a Lei
13.131/2015 que determina o dia do nascimento de Carlos Drummond de Andrade (
31 de outubro) como o Dia Nacional da
Poesia no Brasil -, o fato é que temos duas datas a celebrar.
Bem,
volto ao poeta Bosco Lopes, para lembrar da importância de dizermos as novas
gerações dos nossos poetas, poetisas, escritores, enfim, que fizeram das letras
suas trincheiras de observação da vida.
Bosco
Lopes, nascido no dia 22 de novembro de 1949, foi funcionário da Fundação José
Augusto, participou de diversos movimentos literários da provinciana Natal, em
1973 lançou o 'Projeto Zero" e em 1978 publicou "Corpo de
Pedra", viveu a poesia, frequentador dos becos e bares da cidade, faleceu
em 30 de junho de 1998. O poeta do RIOGRANDE, precisa sair das bibliotecas
empoeiras e cair nas mãos dos natalenses/potiguares do centro á periferia.
Finalizo,
amigo velho, com um dos meus pecados poéticos em homenagem ao poeta Bosco
Lopes:
Poesia
(Poesia, para Bosco Lopes que conheci quando papai
fundou o sebo Cata-livros e me deliciei no seu Corpo de Pedra)
Ando entre os livros
Folheio
Me encanto
Encontro
Bosco Lopes
E sua poesia
Encantos
Cortantes
Distante
A gritar no tempo
Corpo de Pedra
Como a dizer:
"Não me esqueças
na praia
no bar
no mar..."
Não esqueças
A poesia guardada
Nas esquinas
Dos becos e travessas
Da vida...
Ou... no sabor da meladinha do velho Nazi!
(Luciano Capistrano)
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