Não
obstante a pregação da morte - da história - e da nivelação dos seres, mediante
o avanço do neo-liberalismo, da globalização e da tecnoligia que estabelece uma
cultura ligeira e artificial, onde o todo e o nada estão juntos, resumidos e
reduzidos ao quadrado de luz fria da TV ou do bicho cibernético chamado
computador. Os arquitetos afloram indiferentes a tudo isso. Afloram através dos
sentidos. O aboio é ouvido e o ferro é visto e faz acordar, ou melhor faz
reviver o que parecia ter morrido.
Salve
todos os aboiadores, violeiros, poetas e cantadores nas pessoas de Luiz
Gonzaga, Elomar Figueira de Mello e salve também todos os vaqueiros de mato fechado
e ferradores de gados nas festas de apartação na pessoa de Manoel de Higino da
ribeira do Potengi de quem eu ouvi tantos relatos desses afazers que ele (meu
pai) tanto gostava. Salve também os que se preocuparam em registrar em livros a
grafia dos ferros de ferrar gados, nas pessoas dos mestres: Ariano Suassuna,
Oswaldo Lamartine de Faria, Virgílio Maia e Luiz da Câmara Cascudo que também
falou de aboio e de ferro.
Alegres,
tristes, saudosos ou contritos, os primeiros patriarcas do sertão do Rio Grande
do Norte aboiram, se verbalizando palavras em português ou em outro idioma
incompreensível, isso não temos como afirmar, mas desconfiamos que o: ê êê ô ôô
do aboio reproduzido pelo gentio (vaqueirama) eram palavras de uma outra língua
não conhecida pela maior parte da população, e por não entenderem a língua, e
por acharem o canto, a música, a melodia bonitas, passaram a imitar o som
ouvido, apenas com entonações monossilábicas das vogais latinas (Luiz da Câmara
Cascudo aponta para o Oriente Médio como possível origem do aboio).
Podemos
comprovar que muitas rezas e cantos judaicos encaixam-se e podem perfeitamete
ser entoados em aboio sem nenhuma dificuldade. Ouvi meu pai muitas vezes aboiar
ao cair da tarde, sentado no batente de nossa casa em Sombra – São Pedro-Rn, em
sons monossilábicos, terminando os seis versos com sete sílabas, sempre com o –
ê êê ô ôô saudade! – Perguntamos: saudade de quê, de quem, de onde? De Canaã de
Abraão, de Espanha (que é Sefarad), de Portugal ou das sinagogas do Pernambuco
de Maurício de Nassau? Afirmar não podemos, negar também não. E aboio, e ferro,
e gado, e Santa Inquisição, e perseguição, e homens, e saudades, e mistérios, e
estórias, foram a História.
Falemos
agora de alguns ferros de ferrar gados: há um quê de mistério nas primeiras
marcas de ferrar, pelo menos é o que se percebe na linguagem dos que já
trataram desse assunto. Eles (os ferros) eram símbolos, mas não eram letras
latinas que identificassem os nomes dos seus proprietários. Uns apontam para as
pinturas rupestres, outros as identificam com as runas.
Apesar
de não podermos afirmar de forma categórica, suspeitamos e achamos mais
provável que algumas daquelas marcas, tenham sido criadas por que conhecia, se
não a língua hebraica, pelo menos seus caracteres.
Essa
nossa indagação e identificação de muitas letras hebraicas encontradas em
várias marcas de ferrar gados aqui no Rio Grande do Norte. Observemos algumas
marcas nas quais identificamos uma quantidade significativa de litras
hebraicas, inclusive uma marca nova, levantando a hipótese de sermos um
daqueles patriarcas e como ficaria totalmente diferente do nosso nome em letra
latinas.
Assim
entendemos que possivelmente, os que criaram essas marcas, também aboiaram suas
rezas em hebraico, eram judeus, marranos, cristãosnovos ou melhor, os
BneiAnussim – filhos dos forçados.
*Lincenciado em
Filosofia - UFRN
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