Valério Mesquita
O Hospital Infantil foi
criado em 1917 pelo dr. Manoel Varela Santiago, com atendimento ambulatorial às
crianças do Rio Grande do Norte, principalmente de baixo poder aquisitivo.
Antes da sua morte, o dr. Sílvio Lamartine assumiu a direção do hospital,
permanecendo nessa função por mais de 30 anos. Nos últimos anos o “Varela
Santiago” ganhou significativo impulso, diversificando e ampliando o seu
atendimento, através de mais de dezesseis especialidades, assistindo uma média
de oito mil e quinhentas crianças por mês. A sua UTI, encontra-se
permanentemente lotada. Sobrevive com a contribuição de algumas empresas,
convênios com o governo do estado e com a ajuda financeira de pessoas que
conhecem e acreditam na seriedade do trabalho desenvolvido pelo dr. Paulo
Xavier, seu atual diretor.
Trata-se do único hospital
pediátrico do Rio Grande do Norte que atende exclusivamente através do programa
SUS. Ou seja, o SUS é porta única para se ter acesso ao mesmo. Caso raro, que
merece não só o aplauso do povo norte-riograndense, mas, de igual forma, a
plena aprovação ao trabalho do grande profissional e magnífico ser humano – dr.
Paulo Xavier – que ali tem transformado os seus dias, em exercício de doação e
permanente lição de amor.
A saúde do Rio Grande
do Norte vive um quadro difícil de sua existência. O exemplo impactante é a
situação do Walfredo Gurgel, mais conhecido como o “hospital dos mártires”,
onde os doentes continuam jogados nos corredores. O Walfredo Gurgel não estaria
sendo vítima da “ambulancioterapia” dos municípios interioranos? Por que não
equipar e ampliar a estrutura de atendimento dos hospitais públicos da grande
Natal para absorver essa clientela e livrar o Walfredo Gurgel desse fluxo de
interminável agonia?
Cito o caso do Walfredo
Gurgel porque me parece que os problemas de saúde não estão sendo tratados com
racionalidade e disciplina. Digo, melhor: falta uma política descentralizada e
investimentos maciços na área da saúde. Como um único hospital pediátrico, que
atende somente pelo SUS, da rede privada, consegue equalizar, sistematizar e
manter a sua qualidade de atendimento, como vem procedendo o Varela Santiago? Acrescente-se
aí um dado importante: a demanda de pacientes que recebe do interior e da
capital é geometricamente crescente, porquanto a população infantil
desassistida tornou-se incalculável. Você conhece, por dentro, a ala das
crianças que padecem de câncer? Eu vi e não pude controlar a emoção e um quase
desespero. Foi aí que me lembrei dos que moram em mansões e palacetes de luxo,
que vivem uma vida de dissipações com gastos supérfluos achando que nunca
adoecerão.
Veio-me à cabeça um
evento como o Carnatal, onde os promotores ganham rios de dinheiro e não se
sensibilizam em ajudar a criança cancerosa. Antes, as damas da sociedade e dos
clubes de serviço promoviam chás e festas em benefício do hospital infantil.
Hoje, pagam caro a crônica social para exibir as suas futilidades e esquecem os
inocentes pacientes portadores de tumores malignos.
Por isso, louvo e
aplaudo o trabalho do dr. Paulo Xavier e toda a sua equipe de auxiliares que
mantêm acesa a chama votiva do ideal hipocrático de Manoel Varela Santiago e
seu sucessor Silvio Lamartine. Não significa dizer, com efeito, que o Hospital
Infantil é autosuficiente e já dispensa ajudas. Absolutamente. O condão do meu
reconhecimento tem o objetivo de registrar e agradecer as vidas salvas de
milhares de crianças ao longo do tempo. E que a sociedade pode e deve ampliar
esse apoio, esse auxílio, porque o Hospital Infantil Varela Santiago é um
patrimônio de Natal e do Rio Grande do Norte. Meu Deus, o que seria das
crianças pobres se ele não existisse!!
(*) Escritor
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