Fatos Marcantes de uma
História Secular
Procópio Neto
A preferencia dos
jovens brasileiros pela prática do remo com natação desde as últimas décadas do
século XIXé plenamente
justificada se levarmos em conta um país com extenso e belo litoral banhando as
principais capitais e cidades, muitas localizadas as margens de rios elagoas,
cenários ideais para desenvolvimento daqueles esportes.
As primeiras
noticias publicadas na imprensa carioca datam de 1874, vinte anos antes da
introdução do futebol no Brasil.
Naquele ano
surgiram os primeiros grupos das modalidades tão em voga na
Europa, promovendo as primeiras competições, destacando-se dentre eles o Grupo
de Regatas Guanabara, que em 1ode julho de 1894
se transformaria no clube de Regatas Botafogo, adotando as normas exigidas
para as associações desportivas.
O exemplo foi seguido por outros grupos, como o do
Flamengo que deu origem cm 1895 no Clube de Regatas Flamengo, bem como os
grupos São Cristóvão e Vasco da Gama.
COINCIDÊNCIA-
As organizações de clube náuticos
virou mania no sul do país, logo espalhando-se pelas demais capitais,
inclusive do norte e nordeste, em Belém, Aracaju, Salvador eRecife, chegando a Natal nos idos de 1896, coincidentemente
o ano da abertura emAtenas dos primeirosjogos Olímpicos da era moderna, pelo Barão Pierre de Coubertin.
Em nossa capital,
contando como incentivo dos militares da Marinha que serviam na Escola de
Aprendizes Marinheirose Capitania dos portos, aliado aos jovens potiguares
conhecedores de suas práticas, que estudando em Recife e Salvador, tomaram
contato antecipado com o remo e natação, fazendo surgir no Potengi
as primeiras competições. Porém, a inexistência de embarcações próprias,
fizeram seus adeptos utilizarem pesados barcos como baleeiras, bateiras, ou
mesmo escaleres da Escola de Aprendizes Marinheiros, sendo patroadas por
calejados homens do mar.
COMEMORAÇÃO-
Certos do sucesso de uma competição de remo no
Potengi. O Dr. Segundo Wanderley juntamente com o tenente João Santos,
idealizaram uma regata. Foram as redações dos jornais pedindo o apoio com a
divulgação do evento que teria lugar no dia 13 de maio de 1897 - data
comemorativa da Abolição da Escravatura. A receptividade foi boa, tendo A
República numa das suas edições e em 1º página, anunciando o acontecimento na
coluna "Diversão Popular" dessa forma;
No dia 13 do corrente terá lugar uma
importante regata na vasta enseada do Potengi. promovida pelos nossos amigos Dr.
Segundo Wanderley e Tenente João Santos, na qual tomarão parte diversos
amadores. Oportunamente publicaremos o programa.
ADIAMENTO-
Um forte aguaceiro caiu em Natal na data prevista,
inundando a cidade e especialmente a Ribeira, sendo a regata adiada para a
tarde de domingo dia 16 de maio.
Como prometera, a
Republica divulgara no dia anterior todo o programa, relacionando os páreos, os barcos e
seus remadores, as autoridades, os locais de partida, chegada e solenidades. A
regata teria cinco páreos, dois deles envolvendo escaleres de seis remos “Deodoro
da Fonseca" e "Floriano Peixoto, e três páreos com escaleres de
quatroremos "Igualdade", "Liberdade" e "Fraternidade",
denominados assim em homenagem a França tendo ainda os escaleres "Benjamim
Constant". "Silva Jardim" e "José Bonifácio", com
cinco remos cada.
Da regata também participariam
duas baiteiras. com três remos, patroadas por Luiz Cortez e pelo remador
Alfredo Correia e duas baleeiras com seis remos, a "Dantas" e a
"Rio Branco", tripuladas por alunos daEscola de Aprendizes, tendo como patrões João Santos e
José de Barros.
Para identificação dos juizes as embarcações
usariam bandeiras de cores diferentes.
As autoridades foram assim distribuídas: Juizes de
chegada - Governador Ferreira Chaves, desembargadores Vicente de Lemos, Vieira
de Melo, Dr. Antônio de Souza, Coronéis Juvino Barreto e Romualdo Galvão, Drs.
Horácio Barreto e Thomaz Gomes Juizes de partida - Drs. Eutíquio Autran, Genésio
de Brito, Alipio Barros, João Nepomuceno, Coronéis Gaspar Monteiro e Manoel
Filgueira de Araújo, Juizes de arquibancadas Drs. Fábio Rino, Coronéis Olímpio
Tavares, Rodrigues Viana, José de Viveiros e Joaquim Peregrino
Juizes de rais: Drs. Alberto Maranhão, Segundo
Wanderley, coronéis Caldas Sobrinho, Odilon Garcia, Pedro Avelino e Pedro
Soares de Araújo
A direção geral de
regata, a cargo do Capitão-Tenente Lobato de Castro, auxiliado por Samuel
Agnew e Gaspar Nunes Ribeiro não foi esquecida a comissão de entrega de prêmios
aos vencedores, constituída por Dalila e Sophia Maranhão, Júlia Monn, Maria
José da Mota Bitencort e Maria Carlota de Lemos. As esposas dos juizes da prova
constituíam o grupo de Juízas Protetoras, controlando suas ações contra
possíveis investidas de outros tipos de "protetores".
PARTICIPAÇÃO-
Para que os
assistentes pudessem participar da regata, fazendo suas apostas nos diferentes
parcos, a comissão organizadora instalou no trapiche do Caes da Alfandega (hoje Capitania
dos Portos) e local das chegadas, uma barraca para a venda de poules e prêmios
em dinheiro.
A regata contitiui-se
num sucesso, com a cidade vivendo um clima festivo. O público ocupava os
espaços à margem do Potengi, desde o Paço da Pátria - local da partida - até o
palácio do Governo na rua do Comércio (hoje Rua Chile). No meio do rio, uma
jangada com bandeira vermelha, dividia as raias da competição Os foguetões anunciavam
as partidas dos barcos, enquanto a banda de música de uma fábrica de tecidos
executava dobrados nas chegadas.
No palácio, o Governador Ferreira Chaves, ao lado da esposa e
dos integrantes das comissões, homenageava os vencedores da regata. O 1opáreo vencido pelo
barco "Dantas" com o patrão José de Barros O 2o páreo foi
anulado por não ter a baiteira "Silva Jardim" cumprido integralmente
o percurso.
O barco "Liberdade" venceu o 3° páreo, tendo
como patrão João Santos, enquanto João de Barros, como
patrão do barco "Deodoro" vencia o 4° páreo. Por desistência dos
participantes, foi cancelado o 5o e último páreo.
VENCEDORES-
O movimento de apostas
chegou aos 60$000 (sessenta mil reis), além das suas cotas, os vencedores ainda fizeram jus a
donativos oferecidos pelos casais Alberto Maranhão, Gaspar Monteiro e senhoras
que não quiseram ser identificadas. Dentre os prêmios, um alfinete de gravata,
de ouro e ónix ao remador José de Barros, oferecido pelo Dr. Pedro Soares de
Araújo, um porta relógio de cristal, em forma de leque, destinado ao patrão do
barco "República", oferta de D. Maria Wanderley de Farias Caldas,
esposa do Tenente-Coronel Caldas Sobrinho. Os integrantes das guarnições vencedoras
receberam medalhas de ouro,cunhadas
especialmente para aquela regata.
Desde então as regatas
passaram a ser a atraçâo maior da pequena cidade de Natal, ávida por diversões.
No alvorecer do século XX, as regatas faziam
parte de nosso cotidiano, então reforçadas com as presenças dinâmicas de
outros militares da marinha, que estendiam seus conhecimentos do remo a outras
cidades.
Em Macau surgiu um
grupo de remo. transformado depois no Macau S.C. que participou, com êxito, em várias regatas no Potengi, a exemplo do Clube
de Regatas Jundiaí de Macaíba. O remo potiguar nume deve aos saudosos militares
como Antônio Afonso Moreira Chaves, Aníbal Leiíe Ribeiro, Emmanuel Murtinho
Braga, Edvaldo Possolo, Raul Elísio Daltro,José Gondim e outros, que dispondo
de material humano de excelente qualidade entre os alunos da Escola de
Aprendizes Marinheiros, estimularam enormemente a prática não somente do remo
como da natação, principalmente depois da chegada da primeira bola de futebol
(1903) exibida como atraçâo na Praça da Matriz.
RESULTADOS-
Nem mesmo a fundação do Esporte
Clube Natalense em 1904 ameaçou a liderança do remo. cada vez mais ativo e
organizado. No dia 25 de junho de 1906. Mo rcira Franco fundava o Clube Regatas
Natal, com o apoio do Conselho de Sports do Remo, já filiado a Federação
Brasileira das Sociedades de Remo que organizava as competições de âmbito
nacional.
Aquela agremiação chegou a reunir 250 sócios, mas a falta de
concorrentes resultou anos depois na sua extinção.
Seus sócios, que continuavam em atividades, decidiram fundar em
28 de agostode 1910, o Clube Sport Náutico Potengi,
cujo Presidente Antônio Odilon de Amorim Garcia conseguiu reacender o entusiasmo
dos remadores convidando as famílias residentes na Ribeira, e particularmente
as alunas da Escola Doméstica, a prestigiarem as
regatas.
Nos últimos meses de
1914 o entusiasmo pelo remo era total, com número incontável de praticantes,
ensejando que, no ano seguinte, surgissem o Centro Náutico Potengi, em 3 de outubro
e o Sport Club de Natal, em 25 de novembro, graças aos esforços de Aníbal
Leite Ribeiro e do engenheiro Frederick Ernst Holder, respectivamente, clubes
que desafiaram o tempo e até hoje em atividade, aguardam a passagem para o
próximo milênio.
DEMARCAÇÃO-
Com as participações de novas agremiações,
o Conselho de Remo estabeleceu normas para as competições, definindo os locais
de partida e chegada, as distâncias dos diversos páreos e escolhendo um quadro
efetivo de autoridades que controlariam as regatas. Decidiu ainda que as
provas na distância de 1.200 metros teriam como ponto de referência nas
largadas, a residência do Dr. Décio Fonseca, onde hoje está localizado o Clube
da Rampa, enquanto as provas na distância de 2.000 metros largariam da ponta
do Morro da Limpa, hoje correspondente ao local onde estão as garagens de
barcos do Iate Clube.
As chegadas seriam todas no Caes da Alfândega,
hoje a Capitania dos Portos, na rua Chile, antiga rua do Commércio. Essas
normas foram ignoradas por remadores avulsos, que "inventaram" as
mais curiosas disputas no rio, tão de agrado dos assistentes pelo inusitado.
Uma delas foi a competição em grande estilo, idealizadas pelo remador do Sport
Clube de Natal Florêncio Damasceno, com a
participação de vários remadores.
Dada a dificuldade
em conduzir linas á força de remo, ajustaram que as disputas teriam apenas
50 metros, assim mesmo uma trabalheira para chegar ao ponto final. Tudo
revestia-se em animadas disputas, daí a aprovação do Conselho a essas iniciativas.
Foi essa comissão que organizou o
primeiro jogo de polo aquático, chamado na imprensa de "water-polo",
reunindo duas equipes. Por falta de piscinas em Natal, a Comissão delimitou
uma área. por meio de bóias e aproveitou a maré cheia para evitar que a forte
correnteza no rio atrapalhasse a disputa. No time A os jogadores Alemão, Deão,
Biú, Santos, Marcial e Avelino. Time B - Rosa de Ouro, Pinheiro, Pernambuco,
Barreto, Rocha e José Dirigiu o jogo o Ten. Aníbal Leite Ribeiro.
INCENTIVOS-
Coube a Monteiro Chaves a fundação do Clube de
Remo Natal, chegando a reunir na assembléia de fundação quase uma centena de
desportistas. Esse clube também serviu para incentivar a prática do remo entre
mulheres, tendo aquele militar entregue à sua esposa a direção do departamento,
que ao lado das filhas Dagmar e Ivanoska juntamente com outras colegas formaram
as primeiras guarnições para treinos.
Na regata do dia
12 de maio dc 1918, o conselho decidiu incluir entre páreos masculinos,
também guarnições femininas. Foram utilizadas baleeiras de cinco e seis remos
para as mulheres, sendo os barcos patroados por homens. A guarnição de cinco
remos era formada por Dagmar Chaves, Eunice Marinho, Maria e Inêz Aranha,
tendo como patrão Cícero Aranha. O páreo com barco de 6 remos era formadopor Suzane Loison, uma professora suíça que residia em
Natal, bem como Rosinha Fernandes, Nair, Francisqúinha, Odete e Neusa Seabra,
tendo como patrão Luiz Potiguar Pinheiro.
Para estimular
mais ainda o interesse pelo remo. Monteiro Chaves chegou a lançar um jornal
mensal "O Remo", com farto material, notícias, entrevistas, disputado,
avidamente, pelos adeptos daquela modalidade.
BRILHANTISMO-
Um fato histórico para o remo potiguar aconteceu em 1920 quando foi
recebido um honroso convite da Federação Brasileira das Sociedade do Remo para
participar no Rio de Janeiro, pela primeira vez, de um campeonato brasileiro de
remo ao lado dos paulistas, cariocas, gaúchos e baianos na enseada de Botafogo.
A Comissão Natalense do Remo, levando em conta as melhores
condições técnicas do Centro Náutico, credenciou o alvinegro a organizar e
treinar as equipes nos barcos de sua flotinha. onde se destacava a iole
"Netuno", construída nos estaleiros dc Max Plunk do Rio, detentora
de inúmeras vitórias no Potengi.
Para chefiar a delegação foi convidado
o nadador e remador Moisés Soares, um dos fundadores e presidente do América,
ficando a parte técnica da delegação com Enéas Reis. presidente do ABC, muito idenificado
nos meios náuticos.
Os potiguares participariam das provas com ioles dc 2 e 4
remos, a primeira integrada por Avelino Freire, fundador do ABC, Arthur Veiga
e o timoneiro Ivo Filho no barco "Dr. Frontim". enquanto a de quatro
com patrão teria José Paes Barreto (voga), Raimundo Pereira de Araújo (sota voga),
João Elpidio dos Santos (sota proa),
Pedro Ferreira da
Silva (proa) com Aníbal Leile Ribeiro (patrão).
No Caes do Porto as
faixas no embarque em a viagem a bordo do vapor "Acre" do Loite
Brasileiro No Rio as recepções dos poliguares residentes na capital da República,
no Select Hotel da praia do Flamengo.
Naquele campeonato
o remo potiguar
brilhou
conseguindo um honrosoprimeirolugar por contagem de pontos, sendo a façanha registrada
nos jornais, cujos velhos exemplares em poder de familiares daqueles
participantes, dão conta da importância daquele feito
INDEPENDÊNCIA-
Em suas permanências no Rio, os Norte-Riograndenses conheceram
detalhes da festiva programação a ser executada dentro das comemorações do I* Centenário da
independência, e as recomendações da comissão organizadora feitas às sociedades
esportivas do país, no sentido de prestigiarem o acontecimento promovendo competições
de vulto em terra e no mar, ressaltando o valor e a coragem dos brasileiros.
Os jornais
anunciavam inclusive um raide de remo entre Rio e Santos - 206 milhas - por
remadores cariocas. Como não podia deixar de ser, aquele anúncio assanhou os
potiguares que idealizaram também um raide Natal/Recife, Enquanto isso,
dispostos a superar as façanhas, doze pescadores bolaram uma aventura náutica,
nao menos temerária, de levar ao Rio três frágeis barcos pesqueiros a vela, sem
qualquer auxilio de instrumento de navegação, tendo no farnel apenas carne
seca, rapadura e farinha.
Conseguiram, por empréstimo, os barcos
"República", "Pinta" e "íris" aos scikproprietários Dr. Luiz Lucarino, José Afonso Tinoco e Francisco
Batista Filadelpho,Respectivamente. Cada barco levava quatro integrantes.
Participaram dessa
jornada, largando da praia da Limpa no dia 22 de maio de 1922, ano do centenário, os seguintes
pescadores; João Miguel Félix (Piaba), Sebastião Paulino da Silva, Aparício Paulino,
Francisco Cândido de Oliveira (Chico Carnaúba), Benjamim Alves Mendonça, Miguel
Duarte, João Soares do Nascimento (Joca), Manuel Cazuza, Manuel Claudino da
Silva (Manoel Ivo), Manuel Reynaldo, Manoel Olímpio e Thomaz Marinho (Mestre
Filó).
VITORIOSOS-
No dia 18 de
setembro daquele ano, dois dos três barcos chegaram ao destino, enquanto o barco
"íris", sob o comando do Mestre Manuel Claudino somente dois dias
depois, após ter-se desgarrado nos baixios de São Tomé e ficado a deriva até
ser encontrado por um destróier da Marinha, que teve recusada a oferta de
reboca-lo. E sozinho, o "Ins" entrava na baia de Guanabara 105 dias
depois de sua largada.
Reunidos, os doze heróis desfilaram
pela av. Rio Branco recebendo a ovação dos cariocas, sendo saudados por Epitácio
Pessoa, Catulo da Paixão Cearense, Senador Antônio Azevedo, tendo discursado
Rui Barbosa, presidente da Comissão Organizadora dos festejos do 1oCentenário da
Independência, que encerrou seu discurso, com esta frase: - "Potiguares, sois
o símbolo vivo da vitória, coroada por suas próprias mãos".
Indispensável dizer o que foi a recepção desses bravos, saudados no Natal Clube
por Luiz da Câmara Cascudo,à época diretor do Sport Clube de Natal e fazendo
entrega das medalhas de ouro oferecidas pelo Governo.
PROJEÇÕES-
As façanhas dos
potiguares no campeonato brasileiro de remo renderam frutos. Não faltaram
convites dos estados vizinhos para competições náuticas, dentre eles a
participação efetiva no Torneio Pernambuco-R.G.Norte, com regatas simultâneas
em Recife e Natal durante anos. Os dois principais clubes - Sport e Centro
Náutico -enquanto isso, disputavam acirrados embates no Potengi, até com
muitas brigas na disputa pela hegemonia do remo.
Este era o clima no ano de 1929. quando os clubes
promoveram regatas comemorativas dos seus 14° aniversários.
Enquanto o Sport trazia o Capibaribe para participar da regata comemorativa, o
Náutico trazia uma guarnição do Sport Recife.
Naquele ano em suas regatas os clubes atuavam com excelentes
remadores. O Centro Náutico contava com Arlindo Aurélio, Edgar Siqueira, Antônio
de Souza, Alfredo Ferreira. Jeremias Pinheiro. Aldo Dantas, José Rebouças Lima.
Luiz Trindade. Ovidio Cabral, Reinaldo Mendes Barbosa, Rodoval Cabral, Luiz
Siqueira, Nilton Fagundes, Luiz Trindade,Lucylo Leite, Nazareno Itajubá,
Manuel Kiplanada, Alfredo Galdino, Pedro Ferreira, José Alves, João Ricardo,
Sólon Aranha, Humberto Nési, João da Costa Machado, Raimundo Luz e José Antônio
O Sport por sua vez, tinha no elenco remadores como
Reinaldo Praça, Assis Mansur, Jobel Tinoco, Jairo Tinoco, José Melo, José David, Manuel
Canuto, Eurico Borges, Helmuth Emst, João Alfredo, José e Ricardo da Cruz, Francisco
Melo, Clodoaldo Bakker, Walfredo Coelho, Francisco Figueiredo, Gileno Silva,
Evilásio Lima, Francisco Costa,Alarísio Moura, Manoel Severino, Sylas Câmara,
Raimundo Mesquita, Lourival Rodrigues, Rodolpho Pereira, Lupércio Calixto, Antônio Bento, Antônio Leite, Alberto
Mansur além de outros.
Enquanto isso a
idéia de um grande raide tomava corpo. Uma difícil prova que
merecia apurado trabalho de preparação e principalmente a escolha de uma guarnição
forte, capaz de enfrentar a fúria do mar num frágil barco destinado às águas
mansas do Potengi.
Para o primeiro
teste de resistência foi escolhida a iole "Satélite", construída em 1919. e
integrante da flotinha do Centro Náutico Potengi. Os serviços de melhoria e
adaptação do barco as condições de navegação no mar, foram feitos rapidamente
sob a orientação de Ricardo da Cruz, idealizador do raide.
Pronta e reforçada a iole, os seus integrantes iniciaram treinos
levando-a além da embocadura do rio, e aventurando-se as jornadas preliminares
até Pirangi. A iole resistiu satisfatóriamente e foi marcada a partida para o
dia 28 de maio de 1932. quando a iole batizada como "Rio Grande do
Norte" deixava a cidade rumo ao Recife, levando, além de Ricardo da Cruz
como patrão, os remadores Antônio de Souza Duarte. Aldo da Costa Dantas e
Jeremias Pinheiro Filho.
No dia 30 de maio, depois de percorrerem 150 milhas em
19 horas e dez minutos os potiguares alcançaram a capital
pernambucana lépidos e fagueiros.
FRUSTRAÇÃO-
Transposto esse obstáculo, tal era a
disposição dos seus integrantes que tiveram a certeza da viabilidade do que a
princípio parecia um sonho, o raide até o Rio de Janeiro, mesmo sabedores de
que teriam de percorrer as 1.703 milhas que separam os portos das duas cidades.
Passaram então a manter
contatos com autoridades navais, distribuindo planos e rota a ser cumprida. Não
levaram em consideração os difíceis caminhos burocráticos, que o pedido de
autorização teria de percorrer, sofrendo idas e vindas, indagações, recebendo
alguns pareceres favoráveis e outros contrários, o que atrasou por anos a
realização do raide, até que afinal chegara a informação de que o Almirante
Aristides Guilhen, ministro da marinha do governo Vargas, vetara sua realização
no ano de 1937.
O principal argumento para a recusa foi a idade dos
integrantes da guarnição, considerada por demais avançada para tão grande
jornada. Ricardo da Cruz tinha então 47 anos, Clodoaldo Bakker 44, Luiz Enéas e
Antônio Souza Duarte, ambos com 36. Tudo levava a crer que a decisão ministerial
sepultaria as esperanças dos bravos potiguares.
PERSISTÊNCIA-
O tempo passava inexorável e quinze anos
depois do indeferimento, assumia a presidência da República, o norte- riograndense
Café Filho, no lugar de Vargas. Nascido a criado nas Rocas, conhecendo os
integrantes da guarnição. Café recebeu novo pedido de autorização para
realização do raide, encaminhado-o ao Almirante Renato Guilhobel, seu Ministro
da Marinha, para ver as possibilidades, mesmo reconhecendo que talvez a idade
os fizesse desistir da aventura.
Não havendo qualquer sinal de desistência do raide por
parte de Ricardo da Cruz e seus comandados, foi deferida a permissão solicitada
ao ministério da marinha.
A largada aconteceu na manhã de 30 de março
de 1952, levando a Rio Grande do Norte uma tripulação onde o caçulaOscar Simões, tinha 35 anos, enquanto os demais, de avançada idade
para tanto arrojo, acenavam para os potiguares que lotavam as margens do
Potengi. O Patrão era Ricardo da Cruz, com seus 62, ao lado de Clodoaldo Bakker
com 59 anos, Luiz Enéas com 51, Antônio de Souza Duarte 51 e Francisco de Paula
Madureira, com 44 anos.
Durante sessenta e dois dias, a frágil embarcação
enfrentou os constantes obstáculos, contra as fortes ondas de um período
chuvoso e frio.A iole perdeu a luta no embate com o mar revolto do litoral
sergipano, sendo inteiramente destruída ao entardecer de 2 de junho, nas
proximidades da localidade Mangue Seco.
Foram os remadores salvos milagrosamente, alguns porém com sérios
cortes e machucaduras em todo corpo. Lamentaram a perda, principalmente da
imagem da Santa Padroeira de Natal que ia no compartimento da proa.
Mergulharam várias vezes tentando localizar a imagem, não conseguindo.
O sonho do raide Natal/Rio parecia ter chegado ao fim.
Puro engano.
REALIZAÇÃO-
Após retornarem a Natal trataram da construção de nova
iole, mais sólida, capaz de suportar o desafio e concluir a jornada a partir do
local do acidente. Instalaram todo o material doado pelo ministro da marinha
nas oficinas do 5o Distrito de Portos, Rios e Canais, sob a
orientação do mestre carpinteiro Luiz Enéas, convidado para ocupar o lugar de
Clodoaldo Bakker, que bastante enfermo não poderia continuar. Os trabalhos
iniciados em 21 de outubro, foram concluídos em 18 de dezembro de 1952, sendo
batizada com o nome de RioGrande do Norte II pela
"madrinha" D. Jandira Café, primeira dama
da nação.
O transporte da iole e sua tripulação foi feita no
caça minas "Piranhas", sob o comando do 1o" Tenente José Maury
de Aguiar Coelho até Aracaju. Da capital sergipana foram de transporte
especial até o local do desastre. A partida sofrera várias interrupções, tal o
estado violento do mar e ainda pela enfermidade de que foi acometido o patrão
Ricardo da Cruz, que durante dias esteve hospitalizado no hospital da capital
sergipana, vitimado por violenta intoxicação.
Finalmente, na
manhã de 5 de fevereiro de 1953, partiu a iole ao Rio de Janeiro onde chegou a
21 de maio, sob escolta de número incontável de embarcações. Na guarnição,
Walter Fernandes substituíra Francisco de Paula Madureira, que doente, deixou a
função de sota-prôa. A concretização do raide, mereceu citação inclusive da
estatal radiofônica britânica - BBC, que registrou o feito como um dos mais
audazes feitos do remo.
INJUSTIÇADOS-
Muitas promessas
até hoje não cumpridas, foram feitas aos tripulantes da iole, entre elas a
da construção de um mausoléo pela Prefeitura para descanso eterno dos heróis.
O projeto de lei
nesse sentido, de autoria de Gilberto Rodrigues, foi esquecido.
O único sobrevivente - Oscar Simões, hoje residente em
Santos, chegou a gravar um depoimento dramático para o Museu do Esporte,
pedindo apoio dos governantes.
Até o Museu não saiu
do papel.
Apesar das inúmeras
dificuldades, muitos problemas, repetidas crises e até interrupções de
calendários, os clubes de remo decidiram tomar seus próprios rumos após noventa
anos de submissão as entidades ecléticas. Primeiramente, pediram desligamento
da Federação Aquática, que desde sua fundação em 24 de agosto de 1977, dirigia
o remo juntamente com a natação, saltos ornamentais polo aquático e o nado
sincronizado.
O remo foi
dirigido, inicialmente, por um Conselho de Sports em 1897, substituído pela
Associação de Clubes Náuticos em 1909, depois Associação Norteriograndense de
Atletismo (1928), Federação Norte-Riograndense de Desportos (1941), Federação
Aquática (1977), até que em 1988 os clubes náuticos, ao lado de ABC e América,
decidiram fundar a Federação Norte-Riograndense de Remo, escolhendo Geraldo
Belo Moreno para dirigir e organizar a nova entidade e promovendo as primeiras
competições, entregando-a devidamente organizada ao sucessor Sr. Fernando José
de Resende Nési.
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