9 de março de 2016

Padre LUIZ MONTE



Jurandyr Navarro

As individualidades animadas de propósitos generosos são tendentes a abraçar causas elevadas. O estudo da Ciência é uma das preocupações mais altas do espírito humano. No seu livro “Futuro da Ciência”, Ernesto Renan a considera uma Religião.E o estado de espírito religioso é um êxtase, uma contemplação, um entusiasmo recolhido, na exclamação de Amiel.
Encontrou este estado de espírito? rejubile-se!
Num instante de inspiração afirmou Agostinho Thierry: “Há no mundo algo mais do que as forças materiais, mais que a fortuna, mais que a própria saúde: é o devotamento à Ciência”.
Tal devotamento por estudo tão desafiador foi uma das belas causas abraçadas pelo Padre Luiz Monte. Dentre outras ocupações de caráter religioso e de homem de cultura, devotou tempo precioso da sua existência a investigação científica.
Não somente teórico esse seu empenho, foi ele, também, um homem da praxis. A sua curiosidade científica chegou ao ponto dele próprio montar um pequeno laboratório no Seminário de “São Pedro”, onde fez muitas experiências, inclusive, análise de minérios. Foi ele o detector da shelita na região do Seridó do nosso Estado. Adquiriu uma acuidade toda especial em detectar essas pedras, que o fazia, para algumas delas, somente atra­vés das suas propriedades organoléticas.
O seu saber abarcava outros conhecimentos científicos por ele divulgados nos livros que escreveu - "Fundamentos Biológicos da Castidade" (“Fisiologia da Castidade”), “Biolo­gia” e a obra sobre o Espiritismo, ainda inédita. Muitos escritos seus foram publicados pela imprensa.
A Psicologia e a Psicanálise foram investigação precursora entre nós, da sua inten­sa curiosidade científica.
A Teoria da Relatividade, do emérito sábio germânico, mereceu dele estudo exausti­vo, discordando em certos pontos.
O seu pioneirismo, entre nós, alcançou, também, a Biotipologia, a Sexologia, a Embriologia e a Endocrinologia.
Interessantes os seus trabalhos espelhados pelas páginas da nossa imprensa, tra­tando assuntos os mais diversos, hoje encontradiços na Antologia que recebeu o seu nome. Publicou textos sobre Astronomia, Antropologia, Endocrinologia, Fisiologia, Psiquia­tria, Biologia, Química, Física, Matemática, Botânica, Geologia, Paleontologia e outros.
Na década de 40, do século XX, recebeu o Padre Monte elogio do então conceituado médico psiquiatra Dr.João da Costa Machado, que dissera numa de suas alocuções, ouvi­da pela Professora Albertina Guilherme, nos termos: “- O padre Monte está em dia com a Ciência atual.
Lembra a opinião do escritor Manoel Onofre Júnior, segundo a qual “Padre Monte sabia tudo, ou quase tudo...”
O seu devotamento por causa tão nobre o fez um dos arquitetos do belo adificio da ciência experimental do Rio Grande do Norte.
Consagrou grande parte da sua existência, embora curta, pois viveu somente 39 (trinta e nove) anos, a este ramo cientifico, onde tão intensamente brilhou a sua inteligência privilegiada. Interessou-se, outrossim, por outros ângulos da Cultura.
Discorrendo sobre a história da Medicina! assim se expressou:
“A Medicina antes de ser iátrica, foi primeiramente heráltica. Foi ritual e mágica antes de ser ciência positiva e experimental. As escrituras cuneiforme e hieroglífica trouxeram até nós a origem sacerdotal da medicina”.
O Padre Luiz Monte foi o primeiro vulto eminente da Cultura do Rio Grande do Norte aclamado sábio. Os seus estudos transcendentes devassaram múltiplas ciências.
A sua extraordinária capacidade de assimilação fez com que acumulasse imenso cabedal de cultura com apenas 39 (trinta e nove) anos de vida, quando muitos outros não alcançaram esse limite mesmo vivendo a idade octagenária.
Por proposta do Acadêmico-fundador Vingt-un Rosado, o seu nome figura como Patrono de uma das cadeiras da Academia de Ciências do Rio Grande do Norte, tendo o seu irmão médico e emérito pesquisador de Biologia Marinha, Sebastião Monte, como o seu primeiro ocupante.
A respeito da sua obra “Fundamentos Biológicos da Castidade”, disse o seu biógrafo Cônego Jorge O'Grady, numa das páginas do livro “Verdade Vida”:
Fundamentos Biológicos da Castidade” responde a Ribbing, médico e cientista sue­co que, à página 167 da sua obra "Higiene Sexual e suas consequências Morais", (pub. em Paris, F. Ancan, Ed, 1901) pergunta: "Será possível ao Clero examinar essa questão (fisio­logia da castidade) em toda sua extensão?". Ejulgando que "a instrução e a educação dos sacerdotes não comportam conhecimentos de fisiologia", reclama para a classe médica a exclusiva orientação da mocidade, nesse particular. Responde o Pe. Monte, ainda, a todos os detratores da castidade, pulverizando os velhos e arraigados preconceitos de que a continência atenta contra a natureza e é prejudicial ao corpo e à alma".
Do livro "Fundamentos Biológicos da Castidade", disse o Dr.Henrique Tanner de Abreu, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, seu Prefaciador:
"(...) A extensa e seleta bibliografia e as citações mostram bem a louvável preocupa­ção de senhorear o assunto apropriando-se das noções mais importantes e de interesse para a matéria a desenvolver. Nela figuram tratados de anatomia, histologia, fisiologia, endocrinologia, psiquiatria, psicopatologia sexual etc, além de muitas contribuições especializadas. Apercebido de todos esses abundantes recursos o talentoso autor soube criteriosamente aproveitá-los no esmiuçar, esclarecer e comprovar teses da maior rele­vância.
Depois de apresentar os fundamentos biológicos da castidade e de demonstrar a influência trófica e a possibilidade fisiológica da continência o escritor culto e ponderado dá notícia, em capítulos sucessivos, das mais recentes conquistas científicas e as aprecia no que entende com o papel da castidade em suas relações com a eugenia, a alienação mental e a delinquência. (...)
A propósito desse devotamento à Ciência, disse João Batista Dumas:
"Ah: se fosse possível que eu viesse a perder a avidez pelo saber e pela investigaçâo,a sede pela ciência que pomada se apagará, a vida não me ofereceria mais nenhuma consolação. Que deleites acompanham o exercício das faculdades intelectuais: Diz-se do saber o que se diz do poder: é o banquete dos deuses".
O Padre Luiz Monte foi Professor de Matemática e de Latim no Atheneu Norte-Rio-Grandense, no Colégio Marista e da Imaculada Conceição. Na docência do Seminário lecionou outras disciplinas.
Era um professor que falava em pátria, na família e da religião, argumentando o seu valor de grandeza moral e espiritual. O que muitos hoje têm vergonha e covardia de tratartemas tão importantes para a mocidade, sobre a educação e a cidadania. Dai, o surgimen­to dos chamados párias sociais: alienados da prática social saudável, formando para a vida uma juventude destituída de idealismo e sem orientação pautada na moral religiosa, atrativa do sublime e do belo.
As suas aulas transmitiam e refletiam reverberações de luz da moral católica. Ja­mais dissociou a ciência da religião. Os grandes sábios assim procediam. Cito apenas um deles: Einstein: “- Não posso concordar um cientista autêntico que não tenha uma fé pro­funda. A situação pode se resumir numa imagem: a ciência sem religião é manca”.
O imediatismo da vida atual, a velocidade do tempo, as ocupações supérfluas do modismo impedem que a inteligência se debruce, em escritos considerados eruditos. E assim os grandes nomes da nossa Ciência vão sendo esquecidos, dando lugar a outros de lavra mais superficial. Tudo bem, isso é o natural das coisas humanas.
Todavia, a memória dos grandes homens não deve ser relegada a segundo plano, porque eles foram os guieiros, os lideres do pensamento, e portanto, eternos.
Não se deixe que o comodismo urda contra memória tão sagrada a sinistra "conspi­ração do silêncio", de que falava Émile Faguet.
Inobstante a tudo isso, os grandes nomes, qual "coluna de fogo", continuarão a bri­lhar, intensamente, nas noites escuras do deserto do comodismo, da indiferença e da insensibilidade cultural.
Até o seu derradeiro dia, o Padre Luiz Monte permaneceu no seu trabalho intelectual à luz da Fé, chamada “senhora da verdade”. E os homens de fé na vanguarda sempre estiveram.


       

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