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Entre nascer e morrer, tem a vida,
entremeio de ambos, nascer e morrer que, decerto, não se têm o menor arbítrio —
até parece um dado por outro e que nós ganhamos dele, o dono. Não sabemos o dia
da chegada nem da partida, pode ser agora “cruz, credo” ou pode ser mais tarde,
há centenas de anos “espero”; o certo é que ambos, chegam um dia: o nascer e o
morrer — que não nos pertence. Por isso talvez é que nunca, quando procuramos,
o respostar em nós, nunca achamos — tudo está fora da gente. Ensinamentos
outros. Eh, essas lições me foram dadas pelo bom Pe Cabelo “de fala bonita”, cabelos
duros, encarapinhados (pixains) e inteligência grande... Um bom que com tristeza vi morrer, partir,
devolver sua vida ao dono dela. Igual também, a outras tantas autoridades da
minha infância, senti seu partir, como no caso do Raimundo da farmácia, o sêo
Galego do mercadinho e João que vendia peixe, carne e fígado; pelas ruas a
gritar, logo cedo: — Olha o figu!... Eh, decerto, na nossa burrice, a gente
imagina que pode tudo, ou que é o dono de nós mesmos.
Nisso, me permitam contar, dar
um alembro engraçado desses tempos “bons tempos”... Então, comendo muita letra
e muita frase — estou meio ruim da mente, esquecido “é o tempo” — digo por
demais, por esperteza também e cisma minha que, deveras, há muito que às vezes
ouvia de outros, as outras prosas sobre um ocorrido “acidente” “fatalidade” que
no fim, depois, dei por certo, o real, isto que digo agora, sobre o tal.
O tal acontecer.
Lembro também, que de muitos ouvi
dizer que a bexiga taboca de uma bruxa “mulher que bajulava Pe Cabelo”, aquela
taguaíba, diaba anhangá danada — tinha voz esganiçada, como de bruxa mesmo —
tinha aprontado para cima dele, do bom homem. Quem conhece bruxa sabe de como
é, de como elas falam, assim como pato rouco um vozear que emudece a gente que
escuta. É nessa hora, desse canto dela que o povo embarca prontinho. A exemplo
disso, o padre foi o primeiro a lasca-se quando deu para comer do cozido dessa
taguaíba e desde então, desarranjou seu estômago. Depois disso, das influências
dessa beata sobre o bom padre, começou a surgir todo tipo de estórias como essa
que conto a seguir...
Então, o cônego, bom Pe Cabelo,
aquele mesmo que dizem — e isso é estória do povo, não sei se é verdade — que
ele de costume, rezava a missa sempre depois de ir ao banheiro, obrar. De uns
tempos “depois da servidão da beata”, um frio danado na barriga do cônego, deu
de ora para outra, gostava de fazer convite, levar o bom homem, contra a
vontade, para o banheiro — decerto, não por causa do nervoso, mas por causa do
cozinho da beata.
Numa dessas, seguro de repetir sempre
igual, o ritual, o monsenhor nem se deu conta, que talvez no dia, da última
missa da quaresma, um dedo mais ou menos mais suado ou oleoso, coisa dura por
causa de alimento ou mesmo velhice, no lugar do papel, deslizou e foi temperar
a hóstia sagrada para enfim, uns ou outros, sob muita polêmica dizer, talvez
mais de maledicência do que de verdade, que gosto, lá longe de... Vocês sabem,
né? Um ou outro sentiu; da metade, muitos negaram o sabor, mas doutra parte,
uns jurava ter acontecido de ter isso. Desde então, muitos poucos, em dia de
missa que dava começo atrasado, se arriscavam de orar até o fim — comungar nem
pensar.
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