Anchieta
Fernandes
Se a leitura
era uma fuga da realidade para as crianças clientes da psicanalista Melanie
Klein, no entanto, para as crianças normais de hoje ler faz parte do
aprendizado. A literatura infantil, porisso, é muito importante no processo de
formação da pessoa. E o meio mais democrático de difusão desta literatura é uma
mistura do padrão livro com o padrão dos periódicos, no contexto da imprensa
infantil apresentada em jornais e revistas. Sem se esquecer que hoje sites
existem onde a criança encontra também sua literatura preferida via on line.
Mas, como tem
sido a história da imprensa infantil aqui no Rio Grande do Norte? Façamos uma
retrospectiva: entremos na máquina do tempo. Ainda no século 19, em 1899, em
Natal eram lançados os dois primeiros jornais infantis do estado: “O Rato” e “A
Espora”. Em 1908, a Sociedade Infantil Filhos do Concerto, também em Natal,
lançava ao público de pouca idade norte-riograndense outro jornal infantil:
“Luz da Infância”, que tinha como lema a frase do Eclesiastes: “Lembra-te do
teu Criador nos dias da tua mocidade”.
Mas antes
deste novo jornal infantil de Natal, Alfredo Dias já pensara nos pequenos como
leitores de jornais, em Assu: em 1900, começou a publicar, em parceria com
Otávio Amorim, o jornalzinho “O Pintassilgo”. No ano seguinte, Alfredo D e João
Alfredo lançavam outro órgão jornalístico infantil em Assu, cujo título era o
nome de outra ave: “O Cisne”. Em 1909, em Caicó, Tudinha Nóbrega redigia e
lançava o jornal manuscrito “A Infância”. Em 1911 e 1912 circulou em Assu o
jornal “O Infantil”, tendo saído seu primeiro número a 4 de junho de 1911.
Passaram-se depois algumas décadas sem se ter notícias de outros jornais
no gênero. A 24 de novembro de 1952, contudo, alunos e professores do Grupo
Escolar Meira e Sá, de Santana do Matos lançavam “Ecos Infantis”, sob a direção
do professor Celso Arruda, embora a supervisão estivesse a cargo do “Excelente
educador” (como a ele se referiu Manoel Rodrigues de Melo, em seu livro
“Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte 1908 – 1987”, publicado em 1987)
Osvágrio Rodrigues. Era uma publicação periódica, com tiragem até de 400
exemplares.
Em 1967, a
magia do pensamento infantil se somou a uma vertente espiritual, com o
lançamento em Natal da revista “Criança Espírita”, que se dizia “revista de
orientação espírita à infância”. Em Currais Novos, também se deu um
empurrãozinho para se despertar crianças e jovens para a leitura de jornais. Na
cidade do poeta José Bezerra Gomes, a 2 de abril de 1968 começava a circular “O
Jornalzinho”. Era um órgão infantil mensal do Grêmio Domingos Sávio. Em
setembro de 1983, foi lançado em Natal o “Jornal da Criança”.
Era
uma publicação totalmente dedicada aos interesses da gente miúda (em tamanho
físico), publicando material jornalístico literário e artístico em geral sobre
crianças, e alguma parte deste material produzida pelas próprias crianças. O
jornal era uma publicação da EDITORA SACI – Projetos e Empreendimentos
Jornalísticos Ltda. No primeiro número, tem uma matéria sobre iatismo e a sua
prática pelas crianças de um curso (crianças na faixa etária de 9 a 14
anos)promovido pelo Iate Clube de Natal.
Tem também o lançamento das colunas “Literatura Infantil” (comentando no
primeiro número os livros “Os Bichos que Tive – Memórias Zoológicas”, de Sylvia
Orthof, e “Sapo Curuminho da Beira do Rio”, com texto e ilustrações de Maria
Magdalena Lana Gastelois) e “Dicas”, além das páginas “Galeria de Fotos”,
“Ateliê” (literatura e desenhos produzidos por crianças) e “Quadrinhos, Jogos e
Humor”. Na mesma década, em novembro de 1987, o jornalista Júnior Alves lançava
em Natal o jornal “A Criança”, com distribuição gratuita.
O slogan no cabeçalho era: “O jornal de quem quer saber mais”. Artigos,
poesias (transcrito no primeiro número trecho de um poema do grande poeta
mineiro Carlos Drummond de Andrade, acompanhado de uma foto dele quando
menino), notícias, contos (no primeiro número, um conto escrito pelo garoto
Rodrigo Fonseca Alves de Andrade, de 9 anos de idade), e muitas fotos de
crianças e adolescentes norte-riograndenses. Algumas das colunas lançadas no
primeiro número: “Trenzinho da Alegria”, “Curiosidades”, “Juventude em
Destaque”.
No 2º bimestre de 1998, foi lançado em Natal o jornalzinho “Lápis de Cor
em Notícia”, ´´orgão do Jardim Escola Lápis de Cor, de Natal, com artigos
pedagógicos. Também em 1998, no mês de julho, foi lançado em Natal o boletim
informativo “Vida”, da Casa de Apoio á Criança com Câncer. Para a mesma
entidade (isto é, Casa de Apoio à Criança com Câncer), a Oficina da Notícia
produziu, a partir de setembro de 1999, o informativo “Jornal da Casa”. Em
dezembro do mesmo ano, a mesma agência começou a produzir o “Jornal do Hospital
Infantil Maria Alice Fernandes (Zona Norte de Natal).
Em junho de 2000, foi lançado em Natal o boletim informativo (apenas uma
folha, impressa de um lado) “Criança Cidadã”, do Projeto Criança Cidadã, da
Associação de Amigos do Bairro de Felipe Camarão. O jornal foi fundado por
Francisco Ranilson Nascimento, com distribuição gratuita. O “Jornal CEI”, do
Centro de Educação Integrada, de Natal, foi lançado em agosto de 2000, para
mostrar trabalhos e atividades desenvolvidas pelos alunos da Educação Infantil,
Ensino Fundamental e também do Ensino Médio.
SUPLEMENTOS
Além dos jornais totalmente dedicados às crianças, deve-se mencionar
também os suplementos infantis de jornais noticiosos. No ano de 1959, por
exemplo, o Diario de Natal começou a publicar, a partir do dia 9 de junho, a
página-suplemento “Recreio”. Fixou-se a sua publicação semanal às
terças-feiras. Apresentava contos infantis, passatempos, poesias, curiosidades
e até uma “Enciclopédia Mirim”. A página era organizada por Serquiz Farkatt,
com ilustrações pelo desenhista Poti (pseudônimo de José Potiguar Pinheiro).
Aliás, foi em “Recreio” que Poti lançou a estória em quadrinhos “O Fogo
Através dos Tempos”, de conotação hamliniana (v. “Brucutu”, ou “Alley Oop”, no
original), e que marcou o quadrinho norte-riograndense (antes do Grupehq) como
a primeira produção no gênero, de um artista da terra, publicada aqui mesmo, em
jornal local. Na década setenta (anos 70), o Diario de Natal lançou o caderno
“O Diarinho” (precisamente a 22 de agosto de 1977), com quadrinhos de Maurício
de Sousa, uma página de Divertimentos (enigmas, cruzadismo) e fotos de
crianças.
É também da década 70 o suplemento “Tribuninha”, do jornal Tribuna do
Norte, que publicou também os quadrinhos de Maurício de Sousa, jogos, adivinhações,
poesias infantis. Seguindo o exemplo do fundador do jornal, Aluízio Alves (que,
ainda menino, aos 11 anos, já lançava seu jornal “O Clarim”, todo
datilografado, em Angicos), a “Tribuninha” valorizou e incentivou a
criatividade artística das crianças natalenses, inclusive promovendo concursos
para os mini-leitores produzirem versões quadrinizadas de famosos contos de
fada universais.
Também compreendendo que as crianlas devem ser levadas a sério no contexto
jornalístico, e que a sua educação cultural deve ser cuidada inclusive na
formação do hábito de ler jornais, o extinto jornal da Imprensa Oficial, A
República, manteve de 17 de dezembro de 1978 a dezembro de 1983 o suplemento “A
República Infantil”; para o qual se comprava, através de mala direta, o
excelente material do desenhista baiano Luiz Cedraz (quadrinhos, lições de
desenho e páginas para colorir). Além da prata da casa, como os contos infantis
do funcionário Ivanaldo Xavier.
Nenhum comentário:
Postar um comentário