Katya
Regina
Hoje
é o dia dedicado ao pescador. Incrível, não? Muitos nem se lembram e a maioria
talvez nem saiba que ele é uma das figuras mais representativas da nossa cultura
e do nosso folclore. Este homem, as vicissitudes e sua vida em alto mar, a
importância sócio-econômica da atividade que desenvolve já foi e ainda é cantada
em prosa e verso pelos nossos poetas, e por diversas vezes serviu de motivo
para pintura em telas de pintores da terra.
Há
mais de 50 anos que somente na semana que antecede a data dedicada a São Pedro,
padroeiro do pescador, é que a própria classe reúne-se para organizar a festa
em sua homenagem. Como todas as comemorações festivas das populações mais humildes,
consta da programação atos litúrgicos, como novenas e celebrações eucarísticas,
além da tradicional procissão pelas águas do rio Potengi, com a imagem de São
Pedro conduzida por um barco, previamente designado e provavelmente será o
maior e mais bonito de toda Colônia. Esta é para eles uma maneira de demonstrar
sua fé e gratidão ao santo que escolheram como padroeiro.
CORDEL
O folclorista Luiz da Câmara Cascudo dedicou
ao pescador uma de suas obras: “O Jangadeiro”. O l livro aborda diversos aspectos
desse profissional dentre eles, seus problemas, seus anseios, suas alegrias e
principalmente seu trabalho, cujo produto é de extrema importância econômica e
também cultural para a região. Outros autores que mereceram destaque na
história do Rio Grande do Norte com Luiz Patriota e Ferreira Itajubá escreveram
sobre suas aventuras em “Livro D’Alma” e “Terra Natal”, respectivamente.
A
literatura de cordel também já lançou diversas edições sobre o pescador, que
tornou-se mais conhecido popularmente por serem os exemplares de preço mais
baixo e consequentemente de mais fácil poder aquisitivo. O homem que tem como
fonte de renda o pescado, ainda tem seu destaque na comida típica da região,
como peixe frito com tapioca, peixe cozido com côco, dentre outros que proporciona
tanto a população do Estado e da região, como aos turistas opções de escolha de
pratos regionais.
Os
pintores Newton Navarro e Dorian Gray retrataram através de telas e poemas a
atividade artesanal e industrial da pesca. O pescador é o homem que na
expressão popular, poderia se dizer que luta para sobreviver, no verdadeiro
sentido da expressão. Nos meses de inverno, a situação torna-se mais difícil
para ele, tendo em vista que os fortes ventos e as fortes correntes d’água
impedem que consiga trazer do alto mar, uma boa, ou até mesmo razoável
quantidade de pescado para comercializar, pois é dessa venda que consegue o
dinheiro para manter-se miseravelmente.
Na
época chuvosa, apesar de conseguirem, a custa de muito esforço e depois de
enfrentar os mais sérios perigos, os pescadores conseguem chegar ao alto mar,
que em sua linguagem simples diriam: “Só Deus sabe como...”. Aliás, eles não
tentam atingir essa dimensão da água, eles têm mesmo é que chegar lá afinal
este é seu meio de vida. Mas, em lá chegando, aluta contra a chuva e o frio, os
fortes ventos e a correnteza parecem de nada ter adiantado, pois “as carreiras
d’água impedem que os aviamentos (instrumentos que usam na pescaria de alto
mar) fiquem embaixo da água por muito tempo e a partir daí conseguir capturara
o pescado”.
PRODUÇÃO
Cerca
de 300 quilos de peixe é o que o pescador consegue trazer para comercializar no
verão, quando as condições marítimas lhe estão bem mais favoráveis, é a chamada
“época da safra”, no inverno, porém, esse total decresce até para 10 quilos. O
que é pior, é que muitas vezes voltam em seus barcos sem trazer nada, junto do
nada a preocupação e o sofrimento de não ter como adquirir comida para
abastecer a família que na maioria das vezes é numerosa.
A
pescaria praticada no Estado é do tipo artesanal. O valor total da venda do
produto conseguido pelo pescador é dividida entre ele o barco. Sim, porque 50%
do apurado são destinados a despesa do barco e os 50% restante fica para manter
a família até voltar ao mar. Grande parte dos cidadãos que dependem
economicamente da pesca moram na área que compreende o Canto do Mangue e todo
bairro das Rocas e Santos Reis. No Canto do Mangue, local que tão bem
caracteriza a atividade pode-se saborear o tradicional peixe frito com tapioca,
e os turistas levados pela curiosidade chegam até lá, não só para conhecer o
paladar da comida típica, mas também pelos excelentes quadros e paisagens
levados para seus países através de fotografia.
ATRAVESSADOR
Eles
próprios confeccionam todo material e instrumentos que são utilizados na
pescaria, como barco à vela, anzol, nylon, cordas, redes de pesca conhecidas em
seu meio por “caçueira”, mas que são fabricadas também em outros tipos e
tamanhos, que são denominadas de “tarrafa” e “espinhel”. Há também o covo, com
o qual é feita a pesca da lagosta.
Quanto
aos atravessadores, que tanto interferem no aproveitamento financeiro que os
pescadores poderiam fazer da produção, o Presidente da Colônia dos Pescadores,
Geraldo Silva Barbosa, assumiu um parecer bastante estranho aos interesses da
classe, pois assegurou que “eles não nos prejudicam”. Justificou seu
posicionamento dizendo que “nada favorece ao pescador. Eles não têm uma
Cooperativa, as colônias não têm assistência, por isso não posso falar do
atravessador. Para criticar e combater a atuação deles tem que nos estruturar
primeiro”.
Para
Geraldo o que poderia amenizar o sofrimento provocado pelas pecarias condições
de vida do pescador, é que as autoridades se interessem em fornecer recursos e
assistência as colônias, para que elas tenham condições de ajudar aos
pescadores. Nesse dia que a eles é dedicado vão procurar esquecer todas as
dificuldades, pois mesmo assim irão participar com entusiasmo e alegria das
quadrilhas, côco de roda e demais danças folclóricas características da época.
Transcrito do Jornal A REPÚBLICA (2º Caderno) 29.06.1980.
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