16 de setembro de 2014

Retalhos do Tempo

* Haidée Nóbrega Simões

            José Adalberto Targino Araújo é um poeta independente. A maioria dos seus sonetos, propositadamente, não têm o rigor da métrica. O que interessa ao autor é, sobretudo, a inspiração. Ora, recorre ao romantismo, ao observar “uma gota de orvalho numa flor”; ora se afasta do rigor da metrificação, quando afirma: “regras, fórmulas: NÃO e NÃO”. Mas, é do Simbolismo que o poeta recebe a maior influência. Os seus sonetos são cheios de cores, de luminosidade, como se ele preferisse caminhar nos “raios de lua, nas nuvens brancas”, para melhor encontrar o brilho das estrelas a explodirem na grandiosidade do infinito.
            O poeta observa, sente e se torna imaterial, a fim de atingir o ápice de sua inspiração. Nesse momento em estado contemplativo, faz, do Amor, o santuário de sua ternura e encantamento.
            Sob atitude mística, o poeta acaba envolvendo-se “com um clarão de beleza”, enaltecendo a poesia como uma inspiração divina. Muitas vezes, torna-se indeciso e, sob o impacto da dúvida, liga-se ao Sonho como se quisesse fugir da realidade. Então, vem a dúvida, ao exclamar “que sabe para onde vai, todavia não sabe quando”.
            RETALHOS DO TEMPO, seu último livro de poesia, interliga o presente ao passado com projeção em fatos que, foram e, ainda, serão vivenciados (ele que foi menino do interior, professor, Promotor de Justiça, Juiz de Direito, Secretário de Estado e é Procurador do Estado e estudioso das letras). Mas, é necessário esse entrelaçamento no Tempo poético, pois o que foi, só é, projetar-se no que será.
            É isso o que o poeta faz: a projeção de sua alma, bafejada pelo sopro da inspiração.
            AMOR e NATUREZA dão um toque de Romantismo à inspiração. “O poeta se eleva, mas, em seguida, reconhece que é um sonhador que vem a terra”, buscando a inovação, ao explodir em faíscas de emoção. E ele continua-se encantando, quando a Natureza prepara “o milagre dos frutos nascendo das flores”.
            Na sua filosofia pessimista, “o céu escuro sem estrelas, a lua perdida”... resumem o entrelaçar do Romantismo com o Simbolismo em uma simbiose de inspiração – fatalidade, apresentando, ao mesmo tempo, o estado depressivo, ao afirmar: “o que me assusta é o meu próprio deserto”.
            RETALHOS DO TEMPO aborda facetas de amor vivido ou incompreendido, de aceitação ou rejeição o que faz, desse notável poeta, um baluarte do nosso universo cultural.
            Adalberto Targino cintila, como estrela, na constelação dos sonhadores que se deixam fascinar pelo Amor. E é através do AMOR que o poeta se eleva na sublimação dos seus sonetos sob a inspiração dos lampejos da alma e da criatividade de seus versos



*A autora é escritora, poeta, e professora de Literatura e Língua Portuguesa da UFRN.

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