* Haidée Nóbrega Simões
José Adalberto Targino Araújo é um poeta
independente. A maioria dos seus sonetos, propositadamente, não têm o rigor da
métrica. O que interessa ao autor é, sobretudo, a inspiração. Ora, recorre ao
romantismo, ao observar “uma gota de orvalho numa flor”; ora se afasta do rigor
da metrificação, quando afirma: “regras, fórmulas: NÃO e NÃO”. Mas, é do
Simbolismo que o poeta recebe a maior influência. Os seus sonetos são cheios de
cores, de luminosidade, como se ele preferisse caminhar nos “raios de lua, nas
nuvens brancas”, para melhor encontrar o brilho das estrelas a explodirem na
grandiosidade do infinito.
O poeta observa, sente e
se torna imaterial, a fim de atingir o ápice de sua inspiração. Nesse momento
em estado contemplativo, faz, do Amor, o santuário de sua ternura e
encantamento.
Sob atitude mística, o
poeta acaba envolvendo-se “com um clarão de beleza”, enaltecendo a poesia como
uma inspiração divina. Muitas vezes, torna-se indeciso e, sob o impacto da
dúvida, liga-se ao Sonho como se quisesse fugir da realidade. Então, vem a
dúvida, ao exclamar “que sabe para onde vai, todavia não sabe quando”.
RETALHOS DO TEMPO, seu
último livro de poesia, interliga o presente ao passado com projeção em fatos
que, foram e, ainda, serão vivenciados (ele que foi menino do interior,
professor, Promotor de Justiça, Juiz de Direito, Secretário de Estado e é
Procurador do Estado e estudioso das letras). Mas, é necessário esse
entrelaçamento no Tempo poético, pois o que foi, só é, projetar-se no que será.
É isso o que o poeta
faz: a projeção de sua alma, bafejada pelo sopro da inspiração.
AMOR e NATUREZA dão um
toque de Romantismo à inspiração. “O poeta se eleva, mas, em seguida, reconhece
que é um sonhador que vem a terra”, buscando a inovação, ao explodir em faíscas
de emoção. E ele continua-se encantando, quando a Natureza prepara “o milagre
dos frutos nascendo das flores”.
Na sua filosofia
pessimista, “o céu escuro sem estrelas, a lua perdida”... resumem o entrelaçar
do Romantismo com o Simbolismo em uma simbiose de inspiração – fatalidade,
apresentando, ao mesmo tempo, o estado depressivo, ao afirmar: “o que me
assusta é o meu próprio deserto”.
RETALHOS DO TEMPO aborda
facetas de amor vivido ou incompreendido, de aceitação ou rejeição o que faz,
desse notável poeta, um baluarte do nosso universo cultural.
Adalberto Targino
cintila, como estrela, na constelação dos sonhadores que se deixam fascinar
pelo Amor. E é através do AMOR que o poeta se eleva na sublimação dos seus
sonetos sob a inspiração dos lampejos da alma e da criatividade de seus versos
*A autora é escritora, poeta, e
professora de Literatura e Língua Portuguesa da UFRN.
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