3 de setembro de 2014

O Cinema em Mossoró

Embora Natal tenha uma intensa e bonita história da presença da arte cinematográfica na capital, Mossoró também não deixou de marcar sua presença pioneira (v. primeira eleitora no Brasil, libertação dos escravos antes da Lei Áurea da Princesa Isabel) no setor. Veja-se bem: o primeiro cinema a existir no Rio Grande do Norte foi em Mossoró. Muito cedo, aliás, quase na infância da 7ª Arte, em 1908, Francisco Ricarte de Freitas inaugurou naquela cidade seu Cine-Teatro Dr. Almeida Castro.
                                 Quando começavam a espocar foguetões na praça do Almeida Castro, era sinal de que a fita havia chegado de Aracati; à noite haveria sessão de cinema – relembrou Lauro da Escóssia no livro “Memórias de um Jornalista de Província.” O Cine Almeida Castro, aliás, foi o primeiro que exibiu filme falado na capital do Oeste, o que ocorreu a 22 de novembro de 1933, apresentando a película “Ama-me Esta Noite”, com o ator e cantor Maurice Chevalier e a atriz Jeanethe McDonald. Outros cinemas mossoroenses foram:
                                   Cine Ferreira Chaves, inaugurado por J.Soeiros à Rua do Comércio (hoje, Rua Vicente Sabóia). Este cinema passou a ser chamado Cine Politeama quando José Vasconcelos e Antônio Filgueira o adquiriram. Em 1925, Bonifácio Costa e Cornélio Mendes inauguraram à Rua João Pessoa o Cine Glória, cujos proprietários deixaram existir “uma segunda classe, ao relento, por trás de sua tela. O letreiro aparecia pelo avesso”, e então os espectadores (e eram muitos) resolveram contratar um professor para ler as legendas em voz alta.
                                     Depois do Glória, foi a vez do Cine-Teatro Pax, de propriedade da empresa Cine-Teatro Mossoró S/A (Jorge de Albuquerque Pinto), localizado à Praça Rodolfo Fernandes, e inaugurado a 23 de janeiro de 1943 com o filme “A Formosa Bandida”. O Pax foi inaugurado com 1.200 cadeiras. Em entrevista concedida ao suplemento “Domingo”, do Jornal de Fato, edição 225, de 5 de novembro de 2006, o então proprietário do Pax, Luiz Pinto, revelou que os filmes que mais lotaram o cinema foram “Os Dez Mandamentos”, “O Ébrio”, e “Dio Como Te Amo.”
                                        Na reportagem “Decadência do cinema em Mossoró”, publicada no jornal natalense O Poti (edição de domingo, 22 de outubro de 1995), Emery Costa faz o levantamento histórico de todos os cinemas que existiram em Mossoró. Pelo qual, fica-se sabendo que após o Pax, veio o Cine Déa, no ano de 1944, de propriedade de José de Oliveira Costa, e gerenciado por José Moreira. Emery registra: “Em 28 de maio de 1955, o Cine Caiçara, inaugurado por Renato Costa, que dotaria ainda a cidade de um cinema de bairro, o Jandaia, à Avenida Alberto Maranhão.”

                                          Houve ainda o Cine São José, no bairro Paredões, por iniciativa de “José Bedéo”. Segundo o levantamento histórico de Emery, houve ainda o Cinema Rivoli, à Avenida Rio Branco, de propriedade de Lenilton Moreira Maia, e inaugurado em 1962 com o filme “Pecados de Amor”. A 22 de julho de 1964, foi inaugurado o Cine Cid, de um grupo liderado pelo político e empresário Dix-Huit Rosado. O primeiro filme apresentado foi “O Candelabro Italiano”. O Cine Centenário e o Cine Imperial foram os últimos cinemas de rua em Mossoró.

Outros locais de exibição

                             Na referida entrevista concedida ao suplemento “Domingo”, do Jornal de Fato (aliás, em excelente trabalho de jornalismo cultural, produzido por Izaira Thalita), Luiz Pinto explica os contatos para a distribuição dos filmes: “O nosso contato de negociação é direto com São Paulo através de companhias como Fox, Warner, Columbia e de acordo com a exibição dos filmes, eles autorizam Fortaleza a fornecer esses filmes, mandam cópia para cá de Recife, de São Paulo ou de Natal.” Segundo a reportagem de Emery Costa, a empresa também distribuía para 12 municípios da região.
                                 Mas além de salas específicas, há outras formas de se ver filmes. No ano de 2005, por ocasião da programação do Mossoró Cidade Junina, foi incluído o projeto “cinema na roça”, onde, desde o dia 11 de junho, um total de 33 filmes foram exibidos para o público que compareceu ao Auditório Jornalista Dorian Jorge Freire, da Estação das Artes Elizeu Ventania. A escolha era variada, inclusive uma fatia destinada às crianças, com matinês aos sábados e domingos, a partir das 16h, podendo-se apreciar desde clássicos como “A Dama e o Vagabundo” (Estúdios Disney) ao recente “Procurando Nemo”, de Andrew Stanton.
                                    No mesmo ano, a partir do dia 05 de julho, já estava sendo concretizado em Mossoró outro interessante projeto: era o “cinema itinerante”, que o grupo de teatro e cinema “O Pessoal do Tarará” desenvolvia, exibindo filmes em locais nos bairros mossoroenses, com entrada gratuita. E o mais interessante ainda é que o filme exibido a 05 de julho de 2005, na Rua José Vítor de Carvalho, no bairro de Santo Antônio, foi “Um Chão de Esperança”, produção do próprio grupo de teatro e cinema “O Pessoal do Tarará”, com direção de Dionízio do Apodi. O filme aborda temas de cunho social, mas com apresentação de perspectivas de dias melhores.
                                       Em época de salas de cinema rareando, em Mossoró as bibliotecas viram locais de exibição cinematográfica. Foi o caso da Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte, que ao final de 2008 passou a sediar o projeto “cinemateca Mazzaropi”, com exibição semanal de filmes, às sextas-feiras e sábados, no auditório da biblioteca, com entrada franca. O nome do projeto, que foi uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Mossoró, por intermédio da Fundação Municipal de Cultura, é porque, contando com um acervo de filmes raros, inclue os do cineasta brasileiro.
                                          Mossoró foi também uma das cidades contempladas com o projeto “cine BR em movimento”, considerado o “maior circuito não comercial de exibição da América Latina”. Tendo começado em 2000, apresentando mais de 13 mil sessões gratuitas em quase mil municípios brasileiros, o “cine BR em movimento” foi apresentado em Mossoró a 09 de setembro de 2009, no Núcleo de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) Barrocas. Na programação, a animação infantil Cine Gibi 3 e o famoso filme nacional “Meu Nome Não é Johnny”, dirigido por Mauro Lima, e tendo como um dos intérpretes o ator Selton Mello.
                                              Além de exibir filmes realizados em outros territórios, a cidade de Mossoró também foi palco para a realização de filmes. Em 1994, por exemplo, o cineasta Alberto Sales realizou o curta “A Cidade de Quatro Torres”, relatando a vitória da cidade oestana sobre o bando de cangaceiros de Lampião, quando da tentativa de invasão da cidade, em 1927. Aliás, Mossoró já havia sido não totalmente, mas uma das locações do filme “Jesuíno Brilhante”, de 1973, dirigido pelo ipanguaçuense William Cobbett, e com fotografia a cargo do competente piauiense Carlos Tourinho, que está agora dirigindo seus próprios filmes.
                                                Enfim, o cinema em Mossoró foi também, como em muitas outras cidades pelo mundo afora, este universo de encantamento. A memória dos mossoroenses que freqüentaram o velho Cine-Teatro Pax, cujo desenho do prédio foi elaborado pelo arquiteto francês George Lumier, está saudavelmente plena de imagens de belas mulheres (por exemplo, a de Rita Hayworth em “Gilda”) e de sons inesquecíveis (por exemplo, os da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, na abertura de cada sessão). E lembra seriados, desenhos animados e os noticiários cinematográficos, como a Actualité Française. 

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