Por Flávio Rezende*
Toda viagem
agrega uma série de acontecimentos. As mais comuns, que carregam nosso ser em
deslocamentos curtos e locais, exigem apenas pequenas providências e, muitas delas,
são realizadas praticamente no piloto automático, uma vez que ficamos tão
condicionados aos roteiros repetidamente utilizados, que os seguimos sem nem
mesmo pensar a respeito das curvas e sinalizações existentes.
As viagens
mais longas exigem atenção mais apurada, posto que nos remetendo ao novo, pedem
um olhar mais atento, uma mala que substitui o guarda-roupa e vigilância para
evitar que os malfeitores se interponham em nosso roteiro, transformando o bem
bom num baixo astral daqueles.
Tenho
viajado bastante, colocando em prática real aquela música dos Novos Baianos que
em bela letra revela, “vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando
meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos
encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de
lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta...”.
Num desses
deslocamentos, nem tão automático e nem tanto vigilante, fui bater na bela
praia da Pipa, pertinho de Natal, recanto que albergou parte de minha
juventude, onde maconha, surf, comida enlatada, água de coco e cerveja gelada,
eram tão presentes quanto o sol e as moças bonitas, numa mistura emoldurada por
rock progressivo e MPB e que deixou até hoje, boas recordações de um tempo
muito interessante e bem curtido.
Neste
deslocamento pude presenciar e participar graças à bondade da amiga Yanna
Medeiros, do Festival Literário da Pipa, conhecido como Flipipa. Foi puro
encantamento. O desfrute da pousada Bicho Preguiça com Deinha e Mel, o banho de
mar, o passeio pela rua principal e, o êxtase de ouvir palestrantes, bebendo
cultura e me alimentando de conversas paralelas de teor literário, reavivaram
em meu ser, o grande e fantástico prazer das coisas culturais, dando novo ânimo
a minha vida e imantando potente satisfação a meu viver.
Ouvir
pessoas interessantes, falando de coisas legais, sorrir internamente em
prazeroso gozo de absorção de saberes, é uma coisa extraordinária, mostrando
mais uma vez para este escrevinhador, o quanto é importante e necessário este
processo nutricional de alimentação cultural, tão salutar quanto as demais
formas de sobrevivência, tais como respirar e comer, uma vez que um ser sem o
usufruto da informação que edifica, é um ser sem essência, ficando faltando
algo, como se sem alma passasse por sua existência material.
A praia da
Pipa vai nos brindar novamente com esse tipo de alimentação, agora na incrível
área da música, aquele setor onde essa nutrição essencial adquire igual
potência. Lá vai ocorrer, de 21 a 24 deste mês de agosto, o Fest Bossa &
Jazz, tão bem organizado pela amiga Juçara Figueiredo, que promete colocar no
palco gente muito boa do jazz como Street Band, Ricardo Silveira Quarteto, Mark
Rapp Quartet, Rogério Pitomba, Nuno Mindelis, Camila Masiso, Marcos Valle,
Roberto Menescal, Glen David Andrews Band, Sambossamba & Blues, Jaques
Morelenbaum & Cello Samba Trio e o Eric Gales.
Gente da
qualidade de Dácio Galvão, Juçara Figueiredo, Yanna Medeiros e outros
produtores e fomentadores culturais da cidade como Marcelo Veni, Diana Fontes,
Zé Dias, Gustavo Wanderley, Zelma Furtado, Toinho Silveira, Candinha Bezerra,
Jomardo Jomas, Daniel Rezende, Margot Ferreira, Claudia Soares, Alexandre
Dunga, Jorge Elali, Abmael Silva, Carito Cavalcanti, Rodrigo Cruz, Alexandre
Barros, William Collier, Ivonete Albano, Buca Dantas, Daliana Cascudo, Civone
Medeiros, Laumir Barreto, Carlos Fialho, Marcílio Amorim, Cinthya Lopes, Yuno
Silva, João Hélio, Fernando Mineiro, Hugo Manso, Neiwaldo Guedes, Franklin
Jorge, Conrado Carlos, Marcos Sá de Paula, Marília Sá, Chico Guedes, Véscio
Lisboa, Rejane Souza, Nalva Melo e Jeane Bezerril, entre tantos outros que me
anistiem pela falta de memória momentânea, além de entidades culturais,
deveriam ser reverenciados, uma vez que fornecedores de alimentação da melhor
qualidade para nossas vidas tornam as passagens por estas paragens mais
interessantes e agregam valor de alto nível ao nosso existir terreno.
Quando
escolhemos um destino para jogar nossos corpos, se nele estiver inserido o item
cultura, pode colocar no automático e relaxar quanto à segurança, certamente
você vai levitar e no fim achar, que valeu a pena ter estado ali para viajar
numa fina estampa de alto valor espiritual, carnal e emocional.
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