Tarcísio
Rosas
Em
meados da década de 1830, por força de lei, o então Presidente da Província do
Rio Grande do Norte, Basílio Quaresma Torreão (1833-36), assim como os seus
pares das demais províncias, viu-se com o compromisso de coordenar a criação e
consequente instalação da Assembléia Legislativa Provincial. O Ato Adicional à
Constituição do Império, lei de 12 de agosto de 1834, da Regência, em nome do Imperador
Dom Pedro II, instituiu tais Casas Legislativas em seu artigo 1° nos seguintes
termos:
O direito reconhecido
e garantido pelo art. 71 da Constituição será exercitado pelas câmaras dos distritos
e pelas assembléias, que, substituindo os conselhos gerais, se estabelecerão em
todas as províncias com o titulo de Assembléias Legislativas Provinciais (1972,
p. 156).
Homem
eminentemente operoso e consequente (reorganizou a Alfândega, criou o Atheneu
Norte-rio-grandense e dispôs condições para ser criada a Policia Militar do Rio
Grande do Norte), tratou de imediato de identificar, e contratar, um prédio adequado
à acomodação de deputados e da respectiva secretaria. Ocorreu-lhe a Câmara Municipal,
a quem encaminhou ofício a 31 de outubro daquele mesmo ano argumentando ser
necessária uma casa que não só tenha os
cômodos mas também a majestade que exige o Poder Legislativo. Ato, contínuo,
sugeriu que os vereadores se estabelecessem no consistório da Igreja de Santo
Antônio ou no prédio que servira de sede ao extinto Conselho Geral da Província
(extinto com aquele ato de 12 de agosto).
A
Câmara, através do seu então presidente Manuel Gabriel de Carvalho, aquiesceu
prontamente, inclusive se dizendo honrada pela escolha e, mais ainda, pela cessão:
(...) nenhuma dúvida faz conceder a
mencionada casa, e antes com muito gosto desde já afirma à Vossa Excelência o
regozijo e a glória que vivamente lhe assiste em concorrer destarte para o
progresso desse respeitável e brilhante estabelecimento, etc. (op. cit., p.
191).
Dois
dias após a entusiástica resposta, precisamente a 10 de novembro, foi realizada
a primeira eleição, no âmbito da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.
Para eleger vinte deputados, conforme estabelecia a citada lei, setenta
eleitores votaram em cento e vinte e um nomes, os quais, segundo CÂMARA CASCUDO,
constituíam as figuras prestigiosas da
Província, sacerdotes, fazendeiros, funcionários públicos, proprietários, militares,
os mais conhecidos e admirados (ibidem, 101).
Dentre
os eleitos para aquela primeira legislatura nove eram sacerdotes, dos quais Padre
Francisco de Brito Guerra foi escolhido para presidi-la. Não é de admirar que
naquela oportunidade tenha sido criada uma Comissão de Negócios Eclesiásticos.
Sua
Instalação na Casa de Câmara e Cadeia, conforme acordado, ocorreu a 2 de
fevereiro de 1835. O edifício situava-se na Rua Grande, atual Praça André de
Albuquerque, e foi demolido em 1911. Coube assim a Basílio Quaresma ser o
primeiro Presidente da Província a ler sua “Fala" na abertura dos
trabalhos legislativos. Disse ele, iniciando seu discurso:
Já não é o Art. 8° da
Constituição, mas sim o Art. 8° da Carta de Lei de 12 de agosto de 1834, quem
me impõe o doce dever de vir hoje falar, não a um Conselho cujas atribuições
mesquinhas limitavam seus membros em meros projetistas; mas a vós, Digníssimos
Senhores Representantes da Província, que, reunidos em Assembléia Legislativa,
ides decidir dos destinos desta bem interessante fração do Império. Eu, pois,
congratulando-me convosco pela vossa ilustração, passo a expor-vos o estado das
cousas públicas da Província, e objetos que me parecem mais deverem às vossas solicitudes
(2001, p. 20).
Essa
antiga Assembléia foi dissolvida com a proclamação da República (1889),
posteriormente reimplementada com a Constituição Estadual de 21 de julho de
1891 com a denominação de Congresso Legislativo; sete anos mais tarde, na reforma
constitucional de 1898, passa a ser Congresso Legislativo Estadual, ou simplesmente
Congresso Estadual, e, finalmente, desde1926, na Constituição Estadual de 24 de
agosto, tem a denominação atual.
Um
último ponto a destacar - as incontáveis mudanças de endereço: hoje instalada no
imponente Palácio José Augusto, na Rua da Conceição, centro de Natal, ao deixar
a Casa de Câmara e Cadeia, por volta de 1841, ocupou um prédio onde se ergue,
hoje, o Palácio da Cultura, de frente também para a Rua da Conceição. Este edifício
foi demolido e no mesmo terreno construído
um outro, mais amplo; enquanto durou a construção, as reuniões eram realizadas
em casas alugadas ou no Atheneu. Em 1906, o Governador Tavares de Lira dotou-a
de outro prédio, na Avenida Junqueira Aires, atualmente ocupado pela OAB.
Sua
peregrinação prosseguiria, por circunstâncias diversas, e realizaria sessões no
Natal Clube, no Teatro Carlos Gomes (Alberto Maranhão), num prédio na Avenida
Getúlio Vargas erguido no Governo Sílvio Pedroza... até chegar ao atual, acima
mencionado.
Esta
é a história – uma síntese histórica – dos primeiros tempos do nosso
legislativo, um dos suportes da democracia, complementado pelo executivo e o
judiciário, conforme imaginado por Montesquieu.
FONTES:
CÂMARA CASCUDO, Luis da. Uma história da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte.
Natal: Fundação José Augusto, 1972.
ROSADO MAIA Sobrinho, Jerônimo Dix-Sept, e OLIVEIRA, Antônio
Marcos (coordenadores). Falas e relatórios
dos Presidentes da Província do Rio Grande do Norte (1835-1859), ed.
fac-similar. Mossoró: Fundação Guimarães Duque, Coleção Mossoroense, Série
"G", n° 08, 2001.
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