Homero de Oliveira Costa,
prof. do departamento de Ciências Sociais da UFRN.
Pouco antes das eleições de
outubro de 2012, houve um encontro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
o então candidato do PT a prefeitura de São Paulo com Paulo Maluf (PP) para
“selar” uma aliança para as eleições municipais de São Paulo. O encontro, que teve
ampla repercussão na mídia, especialmente a anti-petista, causou
constrangimentos e desconfortos até mesmo no PT, afinal para o partido, Maluf
sempre havia representado o que havia de pior na política, não apenas de São
Paulo, como brasileira. Embora numa pesquisa realizada pouco depois, o apoio de
Maluf tenha sido rejeitado por 62% dos eleitores e por 64% dos que já haviam
optado pelo candidato do PT (pesquisa concluída no dia 26 de junho de 2012 pelo
Datafolha) além do abandono da então candidata a vice-prefeita Luiza Erundina
(PSB), o PT venceu as eleições.
Um dos argumentos a favor
dessa e de outras alianças feitas pelo PT (e outros partidos, também vitoriosos
nas eleições) é que, sem elas, o partido ficaria isolado e certamente não
ganharia a eleição. No caso específico de São Paulo, vitoriosa, Lula agiu
dentro da lógica que o elegeu, ou seja, com o pragmatismo que o caracterizou pós-eleições
de 2002 (aprendendo com as derrotas anteriores) e até porque, no caso de São
Paulo, o apoio de Maluf não deveria causar tanta celeuma porque, afinal Maluf
apoiou o PT no segundo turno das eleições de 2004 para a prefeitura de São
Paulo (Marta Suplicy) e o PP, partido de Maluf, é da base de apoio do governo.
E mais: o PT já fez diversas alianças e coligações até mesmo com o PSDB.
As discussões a respeito das
coligações são retomadas mais uma vez em relação às eleições de 2014, quer no
plano federal, com o governo querendo não apenas manter, mas até ampliar sua
base de apoio (em que pese algumas dissidências, como a do PSB, como no plano regional, nos quais, mais uma
vez, como disse Mino Carta em relação às eleições de 2012 são alianças de
ocasião, seladas ao sabor do oportunismo contingente, sem qualquer projeto
comum e ilustra, mais uma vez a forma como se dão as coligações partidárias no
Brasil, uma das graves patologias do nosso sistema partidário e eleitoral.
Adversários de ontem se convertem em aliados de hoje e aliados de ontem em
adversários de hoje. Não há um mínimo de coerência nas alianças e coligações –
a não ser nos pequenos partidos ideológicos de esquerda (como o Psol e PSTU,
por exemplo) e as convenções partidárias servem apenas para referendar o que os
“donos” das legendas decidem com antecipação em acordos de bastidores.
Silvana
Krause que tem estudado as coligações eleitorais no país (organizou o livro
“Partidos e coligações eleitorais no Brasil”, UNESP/Konrad Adenauer, 2005) no
artigo “Coligações: o estado e o desafio da arte” utilizando dados de diversas
eleições demonstra que, em grande medida, a política nacional é refém dos acordos
e conflitos entre os chefes partidários nos estados, que seguem uma lógica
própria (partidos que são da base aliada no plano federal, são adversários no
plano regional etc.). O que prevalece é
o pragmatismo, no qual o único objetivo é o de ganhar as eleições, não
importando com quem se faz alianças.
Para alguns analistas, como o cientista
político Scott Mainwaring (“Sistemas partidários em novas democracias: o caso
do Brasil”, Porto Alegre, Mercado Aberto, 2001) o problema principal do sistema
partidário no Brasil está no sistema de representação que combina um sistema
eleitoral de listas abertas (poucos países no mundo) com ampla liberdade de
coligações, produzindo um efeito perverso que é uma enorme transferência de
votos de um determinado partido a outro distorcendo a representação (o eleitor
vota num candidato que pode não ser eleito e ajuda a eleger outro, de outro
partido, na mesma coligação, como tem acontecido com frequência).
Que alternativas existem? Há muitas propostas
tanto no Congresso Nacional como em setores organizados da sociedade civil
(OAB, CNBB, ABI etc.) como a que proíbe às coligações em eleições
proporcionais. Embora conste nos relatórios das diversas comissões especiais de
reforma política do Congresso, a proposta não consegue sequer ir à votação em
plenário das respectivas Casas, porque não é aceito pela maioria dos
congressistas (dos mais diferentes partidos) até porque a maioria foi eleita através
de coligações. Caso a proposta seja aprovada (possibilidade remota), os
candidatos seriam eleitos com votos de seu próprio capital eleitoral e apenas
os partidos capazes de eleger representantes sozinhos teriam direito à
representação, ou seja, cada partido obterá cadeiras proporcionais aos seus
votos.
As coligações se são
fundamentais para os partidos (inclusive os grandes) contribuem para a
fragmentação partidária e tem implicações para a governabilidade porque, com
composições tão amplas e díspares, é difícil, se não impossível ter um programa
coerente e consistente que possa ter consenso nas chamadas “bases aliadas”. Se
o objetivo de uma reforma política for o fortalecimento dos partidos, é
necessário que se busquem alternativas para aperfeiçoar o sistema proporcional
vigente no país e nesse sentido, se mantidas às possibilidades de coligações,
que haja pelo menos coerência programática e ideológica entre os partidos e
permanência das coligações pós-eleições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário