Sua cor de
tez morena
Com cabelo
cacheado
O corpo era
um violão
Como sendo
torneado
Tinha o
rosto de criança
Parecia um
mimo achado.
Sem nenhuma
experiência
Embrenhou-se
na desgraça
Juntamente
com as colegas
Que eram
moças de outra praça
Tomando a
sua maconha
Com
tangerina e cachaça.
Às
vezes,ela, ia no banho
Lá no rio Potengi
Em noites de
lua clara
Muitas horas
eu assisti
Seu corpo
boiando nágua
Como se
fosse a Jácí.
Aindanas
calças curtas
Residindo na
Ribeira
As mulheres
davam sopa
Vivendo numa
bebedeira
Minha vida
tinha inicio
No antro da
buraqueira.
Naquele
beco, de lama
Constantemente
vivia
Entrando de
porta adentro
Como sua
moradia
E a pobre da
inquilina
Desamparada
morria.
Sem ter pra
quem apelar
A miséria ali
reinava
Jamais a
saúde pública
Naquele beco
passava
Por isso é
que uma criança
Perdida no
mundo estava.
Muitas
doenças do mundo
Empestavam a
mocidade
E essa chaga
malditosa
Contaminava
a cidade
Pois conhece
muita gente
Morrendo na
flor da idade.
A policia
era constante
Dava ronda a
noite inteira
Mas nunca
evitou as brigas
Vivendo de
tal maneira
Que muitas
mortes ali houve
Por causa de
bebedeira.
No outro
dia, os jornais.
Lamentavam,
tinham pena.
Dando notas
alarmantes
A coluna era
pequena
Pra contar
as suas brigas
No beco da
quarentena.
O crime mais
hediondo
De que tive
conhecimento
Foi feito
por um tarado
Por nome de
nascimento
Matou a
Maria Rosa
Ex-esposa de
um detento.
Nascimento
era embarcado
Do navio D.
Vital
E passando o
ano inteiro
Afastado de
natal
Por isso
matou a Rosa
Através do
seu punhal.
Naquele beco
infeliz
Conheceu a
tal mulata
Conquistando
o seu amor
Dando-lhe
joias de prata
Assim, a
Maria Rosa.
Das
mulheres, era a nata...
Também
conheci a Rosa
E com ela
tive amor...
Era mulher
corpo de esplendor
Seu riso,
seu olhar triste.
Tinha a
ternura da flor.
Cantava
samba e modinha
Ao som do
meu violão
Recitava
alguns poemas
Com a maior
exaltação
Parecia a
voz dos pássaros
Nas manhãs
do meu sertão.
Praieira dos
meus amores
Rosa cantava
sorrindo
Ninguém
melhor do que ela
Interpretava
sentindo
O que
otoniel contou
Naquele
poema tão lindo.
Outras modas
potiguares
Rosinha
cantarolava
Abre a
janela... Do Ivo
Feita a
mulher que ele amava
E Olimpio
Batista Filho
Horas
depois, musicava.
As mulheres
mais formosas
Daquele beco
infernal
Tinham os
nomes mais lindos
Que conheci
em natal;
Rosa,
Judith, Jurema.
Jaqueline, e
Marial.
Iracema e
Jacira
Julimar,
Inês, Bonina.
Iraci,
Branca e Maria.
Isabel, Mara
e Alvina
Inês,
Pureza, cecí
Alice, Marte,
Vanina.
Foram
mulheres da vida
Eu de todas
tinha pena
Pela fome
que passavam
Como um
bando de falena
Vivendo
desabrigadas
No beco da
quarentena.
Infeliz de
uma mulher
Que morar
naquela rua
Nunca mais
terá sossego
Com a vida
que ali flutua
Pois pra
ganhar o seu pão
Tem que
ficar toda nua.
Vendendo por
mixaria
O que lhe
deu o criador
Beijos,
abraços, afetos.
Felicidade e
pudor
E seu famoso
corpinho
Oi coração,
e o amor.
Quarentena!
És um inferno
Que os
bichos-homens criaram
No reinado
da miséria
Suas vidas
estragaram
Infelizes
dos mortais
Que naquele
beco andaram.
Quantas
vidas preciosas
No beco da
perdição
Tiveram sua
má sorte
Pois não
indo pra prisão
Findavam no
cemitério
Sem ter uma
extrema-unção.
Faca,
peixeira, quicé.
Canivete e
ate porrete
Eram armas
que se usavam
Quando havia
tirinete
E a
soldadada fugia
Pra se
livrar do cacete.
Meu amigo Zé
Vicente
Que morava
em Caicó
Foi um
menino educado
Pela sua bisavó
Logo cedo
foi ao beco
Saindo da
lá, cotó.
Numa briga
de malandros
Defendendo o
Pedro Tasso
Duma bruta
covardia
Levou um
forte balaço
Indo ficar
no hospital
Perdendo
afinal, um braço.
Pederastas, cafétinos
Maconheiros
afamados
Frequentavam
o tal beco
Sendo
bastante estimados
Avistando
com seus homens
Com os quais
eram amigados.
Hoje sou
velho e doente
Residindo no
Alecrim
Viajei todo
o Brasil
Conheci o
bom e o ruim, mas igual aquele beco.
Só praga de
mucuim.
E salvei-me
porque deus
O senhor da
humanidade
Atendeu as
minhas preces
Teve de mim,
piedade.
Dando luz e
suas bênçãos
Ainda na
flor da idade.
________o0o_______
Me despeço
dos amigos
Motivado de
emoções
No beco da
quarentena
Tem mulheres
e violões
Muita
cachaça e maconha
Pederastas e
ladrões!
A célebre
rua estreita e curta, na sua longa existência tem aparecido através de musica,
teatro, prosa, quadra e poemas modernos, mas, nunca em versaria completa,
historiando sua vida passional, como agora o fazemos, dando-lhe o titulo de
CANTILENA DO BECO DA QUARENTENA. O metre Castilho, em sua época, condenou as Sextilhas,
mas os cantadores de viola, principalmente Nordestinos, escreveram seus poemas
no estilo tradicional, também conhecido por versos-de-seis pés.
A
Sextilha-setissilábica em varias formas de rimas, mas, adotamos, como o maiorla
dos cantadores-matutos, na formula mais popularizada ABCBDB, muito usada a
começar do século XVI. Mesmo os poetas
eruditos, versejaram neste estilo e eram aplaudidos porque o canto logo cedo
seria decorado pelo emparelhamento das rimas visivelmente aparecendo quase
juntas.
Sobre o
termo CANTILENA, que tanto pode ser uma cantiga suave, como também ema narraçãofastidiosa,
impertinente e enfadonha, resolvemos situá-la fora da canção que, na
musicologia aparece insignificante, inexpressiva , atoa, e J.J., Rousseau
chegou a dizer que não era aconselhável seu nome aparecer nos dictorios
musicais. Contudo, o dicionarista português Ernesto Vieira afirmou “hoje
emprega-se o termo num sentido desprezível para designar uma melodia trivial e
monótona”. E num dos versos de Camões OS LUSIADAS encontramos: “as doces
Cantilenas que cantavam os zemicapros deuses”.
No nosso
livro ADAGIARIO MUSIOCAL BRASILEIRO; editado por saraiva S. A. S. Paulo, pg. 41
sobre o termo, escrevemos: “Acaba com essa cantilena que é uma canção suave,
cantiga simples”. No sentido em que se emprega o adagio, quer dizer,
entretanto, que se deve acabar com a maneira usada para dizer iludir, com a astúcia.Acabe
com cantilena isto é, deixe de querer tapear, iludir, enganar”.
Estando,
portanto, cantilena em vários dicionários de musicas, chegamos a conclusão que
o vocábulo de tão simples formação, representa um insignificado aspecto na
fonologia de um povo. E de sua inexpressividade, apelidamos a versaria contida
neste trabalho.
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A promiscuidade dos sexos, o oficialismo da prostituição, a
desmoralização da sociedade com seus costumes educativos, a perversão
desenfreada, edificaram-se em Natal no inicio do século XVII e talvez atravesse
outros tempos que vierem pela frente, porque continua cada vez mais alargado o
caminho espaçoso, tenso e amplo da miséria humana, vivida no centenário “Beco
da Quarentena”.
Há muitos anos virmos realizando uma pesquisa em torno de logradouros
natalenses, mas, o “beco da quarentena” foi o que mais impressionou ao
estudioso dos costumes e tradições norte-rio-grandenses, porque em nossa
meninice fomos assíduos frequentadores daquele antro de vícios, juntamente com
outros colegas que já se foram do nosso convívio. Consequentemente, jamais no
bairro da ribeira uma rua ilustrou tanto as paginas de jornais, com assiduidade
e constância, a boemia, a vagabundagem, a imoralidade e a falta de decoro na
ocisiosidade daquele ambiente de degenerescência moral.
Anos passados, nunca das aulas que dermos no “curso João Caetano”,
promoção de “teatro de Amadores de Natal”, a convite de teatrólogo Sandoval
Wanderley, no prédio do “instituto Histórico e geográfico do Rio g. do Norte,
abordamos o tema da poesia popular, ocasião em que lermos o trabalho agora
transformado numa plaquete, a nosso ver, sem nenhum fator literário”.
Oferecendo em seguida a versaria, eis que Sandoval Wanderley transformou o
assunto numa peça de sua autoria.
No decorrer do tempo, outros poetas e escritores escreveram trabalhos
literários enriquecendo a cultura norte-rio-grandense, envolvendo fatos
existidos no famigerado logradouro que ainda hoje vive seus dias amargurados
porque ainda e notória e ate de “utilidade piblica” sua vivencia repleta de
mulheres ”perdidas”, alcoólicos inveterados e toxicômanos encontrando nos
entorpecentes as sensações anômalas de uma geração cheia de complexos sociais.
A historia contada pelo meu amigo que pediu segredo e verdadeira.
Ouvimo-la e a levamos para a versaria já conhecida por alguns intelectuais de
nossa terra, pois há precisamente cinco anos fizermos publicação em a tribuna
do norte 22-7-73 de uma parte da narração e, em seguida, um grupo de oficiais
da policia militar do estado tirou vários exemplares em xeros.
Cumercindo . saraiva.
Natal, março de 1979.
Vou narrar a
triste historia
Que um amigo
me contou
Pedindo
ocultar seu nome
Que o poeta
concordou.
Entre
soluços e prantos
Ele, assim,
desabafou:
“a criança e
tal como a ave”
Que voando
na amplidão
Não conhece
o bom caminho
Segue em
qualquer direção
Por isso, às
vezes baqueia.
Recebendo
após perdão.
Atira pedra,
faz arte.
E também não
obedece
Os conselhos
de seus pais
Sempre,
sempre ela padece.
Porque o
mundo e quem ensina
E quando
adulto, agradece.
Meu velho
avo me dizia
Que este
mundo era uma escola:
Aprendia
quem apanhava
Cem pancadas
na cachola
Vivi rolando
na infância
Como se
fosse uma bola...
Nascendo na
ver-baixa
Vim pra
Natal logo cedo.
A criança destemida
Enfrenta a
vida sem medo
Mas precisou
muitos anos
Pra contar
este segredo.
De fato, de
minha terra.
Sai feliz, satisfeito.
Encontrando
esta Natal
Sem maldade4
e sem defeito
Pois ela
tinha o sabor
De alfinin,
raiva e confeito.
Que as
crianças saboreiam
Como faz o
beija-flor
Sugando todo
o aroma
No complexo
do amor
Não e que os
pássaros beijam
As flores
com muito ardor?
Em Natal fui
avisado
Pra não
fazer tal asneira:
Cuidado com
certo beco
Incravado na
Ribeira
Onde vive a
perdição
Em forma de escarredeira....
Mas não
tomei os conselhos
Que me davam
todo o dia
Ate que
desnorteado
Naquele Beco
caia
E agora
conto pra todos
Fruto de uma
rebeldia:
No ”Beco da
Quarentena”
Conheci a
perdição
No meu tempo
de criança
Sem ter da
vida noção
Convivendo com
a mulher
Que enlutou
meu coração.
De lá sai
arruinado
Me lembrando
da besteira
O amor era
ali feito
Em cima de
uma esteira
Sob a luz da
lamparina
Que era
acesa a noite inteira.
Minha amante
e mais nova
Inquilina da
pensão
Chegada
ainda menina
Vinha do
alto sertão
Trazendo um
velho vestido
Uma calça e
um sutião.
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