Luciano
Fábio Dantas Capistrano
Historiador/SEMURB -
Professor/Esc.Est. Myriam Coeli
A história, da expansão urbana de
Natal deveria ser disseminada nas nossas escolas de ensino
fundamental e médio, pois é lá nos bancos escolares que se forma
grande parte da consciência cidadã. É com o objetivo de contribuir
neste processo de conhecimento, que busco, através deste espaço
democrático, discorrer sobre a urbanização da cidade de Câmara
Cascuda. Vejamos, então, um pouco sobre, a evolução de Natal.
A década de 1920 foi um marco na
história urbanística de Natal. O tema da higienização pública,
abordado pelo médico Januário Cicco em “como se higienizaria
Natal”, passou a fazer parte das preocupações da engenharia.
Estudos técnico-científicos foram financiados pelos governos,
estadual e municipal, com o objetivo de prover Natal de saneamento e
rede de abastecimento de água potável. Neste sentido:”Iniciou-se,
então, um período de desenvolvimento de estudos técnico-científico
para o embasamento das propostas de melhoramentos para a cidade.
Dentre esses se destacam: os levantamentos das fontes de
abastecimento d’água, realizados em 1924 pelo engenheiro Henrique
Novaes; o reconhecimento do nível topográfico do bairro da Ribeira,
realizado em 1925, para embasar as obras de calçamento do sistema
viário que seriam efetivadas durante a administração do engenheiro
Omar O’Grady, bem como as análises geofísicas sobre o nível do
subsolo natalense em água potável, também a cargo dessa
Intendência Municipal” (FERREIRA, 2008, p. 95).
Neste novo contexto é criada a
Comissão de Saneamento de Natal (CSN), tendo como engenheiro-chefe
Henrique Novaes, seguindo as normas do decreto nº 231 de 26 de abril
de 1924, assinado pelo governador José Augusto de Medeiros. Em 17 de
maio de 1924, o jornal a República publica o relatório da CSN,
informando ao governador da execução de seus serviços.
Prestação de contas, o relatório do
engenheiro Henrique Novaes ganha caráter importante no estudo dos
mananciais de água potável, apresentando várias fontes de grande
potencial para o abastecimento da cidade. Analisa neste estudo a
bacia de Pitimbu, as lagoas de Manoel Felipe e do Jiqui, verificando
também a possibilidade de utilização da lagoa de Extremoz no
fornecimento de água.
O progresso “chegava” de bonde,
transformando e redesenhado a cidade. As dunas, o Potengy e as
praias, beleza naturais da terra de Câmara Cascudo, por algum tempo
ficaram como despercebidas dos cidadãos desejosos do moderno. As
letras natalenses registram este novo momento, como Jorge Fernandes
em seu “Livro de Poemas”:
“...E os passageiros
todos nem olham pro mar...Só vêem o bonde novo...”
A paisagem urbana se transforma, é o
bonde a iluminação pública, serviços executados pela empresa
Força e Luz, fazendo de Natal uma cidade de ares modernos,
avançando, mesmo de forma lenta, para além de seus limites urbanos,
abrindo novos caminhos, construindo novos lugares de morada.
Redefinir os limites estabelecidos com a promulgação da Lei nº 4
de 1929, era uma necessidade das novas demandas, de uma cidade que
constantemente afirmava-se como capital potiguar.
Natal cidade dos Reis Magos, a Nova
Amsterdã, transforma-se no Trampolim da Vitória, localização mais
próxima das Américas em relação ao Continente Africano, foi na
década de 1940 escolhida pelos norte-americanos para sediar uma base
de apoio à suas forças militares, durante a Segunda Guerra Mundial.
Como diz a poesia, Natal virou mesmo Hollywood, very
good era dito em cada
esquina. O esforço de guerra fez Natal saltar de um contingente de
aproximadamente 50.000 habitantes para mais de 60.000, crescimento,
este, causador de problemas de moradia e abastecimento. A cidade
cosmopolita foi palco da maior mobilização de militares americanos
fora dos Estados Unidos. Diante desta situação foram implantados
novos mecanismos de infra-estrutura na capital Potiguar.
Souza (apud. LIMA, 2001) registra que
nesse período houve, de fato, um saldo migratório de 38.237
habitantes. Este crescimento populacional foi resultado das
oportunidades surgidas, com a “indústria” da guerra. Aqui
chegaram das mais diversas cidades do interior e também de outros
estados, homens e mulheres, trabalhadores desejosos de melhores
condições de vida. A cidade mudou: Em pouco tempo, Natal deixou de
ser uma pacata capital de estado nordestino, assumindo ares de uma
cidade cosmopolita. A cidade pós-Segunda Guerra, expandiu-se, novas
terras foram ocupadas e o antes limite urbano foi alem das áreas
rurais. Novos problemas e novos desafios surgiram com a Natal depois
da Guerra.
O
pós-guerra além da alegria com a chegada de tempos de paz, foi
caracterizado também com uma forte desaceleração da economia. A
população crescente criava urgentes demandas por habitações,
provocando a ocupação irregular da cidade, neste sentido à
expansão urbana ocorre sem planejamento fazendo nascerem novos
núcleos de moradia. Como informa Miranda (1999, p. 75): Nasciam
novos núcleos de população de baixa renda, marginalizada por falta
de emprego, popularmente classificados como biscateiros, tendo como
principal ocupação ser vendedores ambulantes, lavadeiras,
empregadas domésticas e outros.
Esta expansão urbana desordenada
causava uma sobre-carga, em serviços, como por exemplo, o de
abastecimento de água, criando deste modo, a necessidade de poder
público construir ou ampliar a rede de atendimento para os novos
locais de moradia, que se estendiam para além das “Quintas”. Nas
décadas de 1950 e 1960, foram registrados diversos loteamentos, a
cidade sofria grande pressão do mercado imobiliário. Estas
mudanças: [...]
iriam colocar em xeque o controle e a gestão do espaço urbano e dos
serviços públicos, [...] Tais mudanças se referem tanto ao aumento
do poder do setor imobiliário na ordenação física da cidade como
à forma de definição do parcelamento e da trama viária e a
rapidez com que inúmeros loteamentos foram projetados, registrados e
implantados, embora, muitas vezes, apenas parcialmente ocupados.
(FERREIRA, 2008, p. 224-225).
O poder público municipal, diante do
quadro construído a partir destas ocupações, procurava pensar o
espaço urbano, planejar a cidade. Surgia, então, órgãos
especializados em planejamento, nesta perspectiva o prefeito Agnelo
Alves, entrega aos cidadãos em 1968, o Plano Urbanístico e de
Desenvolvimento de Natal. Considerado o primeiro Plano Diretor de
Natal, apesar de não ter sido implementado na sua totalidade, seu
êxito foi a “A formação de um corpo técnico especializado em
planejamento urbano, o que possibilitou a criação de órgãos
específicos na execução de ações urbanas. (NATAL, 2007, p. 33)”.
Estas intervenções urbanas segundo
Lima (2001), seguiram a lógica do Plano Polidrelli, de segregação
social, os excluídos sociais continuavam sendo empurrados para os
limites de Natal. Deste modo, a parcela carente da população, subia
as dunas, descia as encostas, habitava as áreas “distantes” da
cidade. Natal como diz o poeta:
...cresce paralela
aos cursos do rio e do mar
e pelo sul se bifurca
em duas pernas de A.
em ambas, até bem pouco
áreas de todo desertas,
se estendem: Boa Sorte,
bairro Nova Descoberta
e o alto da Esperança.
nomes sonoros que são
a fantasia do povo,
até sua remissão.
(CASTRO, 2004, p. 49)
REFERENCIAS
CASTRO,
Ney Leandro de. Romance da
cidade de Natal. Natal:
Sebo Vermelho, 2004.
FERREIRA,
Ângela Lúcia. . .[ et al.]. Uma
cidade sã e bela: a
trajetória do saneamento de Natal - 1850 a 1969. Natal: IAB/RN;
CREA/RN, 2008.
LIMA,
Pedro de. Natal século XX:
do urbanismo ao planejamento urbano. Natal: EDUFRN, 2001.
NATAL.
Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Urbanismo. Ordenamento
urbano de Natal: do Plano
Polidrelli ao Plano Diretor 2007. Natal: Departamento de Informação,
Pesquisa e Estatística, 2007.
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