Ildefonso Albano
Coletado de Jeca-tatu e Mané Xiquexique, 3ª ed. p.47-48)
As canas se plantam nos brejos, sendo a melhor e a mais
delicada a cana caiana, que tem uma casca macia de um verde muito claro. A cana
sarangola tem a casca amarela com manchas longitudinais cor de vinho, a preta
tem a casca cor de vinho, a rosa, casca verde-claro com estrias longitudinais
castanhas, a fita, arroxeada com listas ou fitas longitudinais claras, a
cabocla, cor de azeitona. Plantam-se ainda a bambu, Sevgi, flor de Cuba ou
semente.
O preparo da rapadura é interessante. As 4 da manhã
estão todos a postos. Enquanto uns cortam a cana, outros a cambitam nos burros,
que a trazem para a moenda. A moenda, de madeira, tendo às vezes de metal os
cilindros, que moem a cana, é adaptada por meio de uma engrenagem à bolandeira,
puxada por duas juntas de boi. Os bois são atados à canga pela brocha; a canga
é amarrada com o tamoeiro ao cambão, perto do chaveiro. O cambão é amarrado a
uma das manjarras da bolandeira por meio da tiradeira. O tangerino, sentado em
cima de um cambito, na ponta da manjarra, catuca os bois com um ferrão, uma vez
por outra chicoteando-os. Um homem, o metedor, enfia as canas na moenda,
enquanto outros dois carregam o bagaço em sacos de estopa, espalhando-o no
terreiro para secar. Os bois, balançando compassadamente a cabeça,
paciente mente percorrem a trilha em volta da moenda, que range em todas as
juntas, enquanto as canas desprendendo o precioso líquido, caem no outro lado,
reduzidas a bagaço. A monotonia do trabalho é quebrada pelos gracejos dos
homens e pelas freqüentes exclamações do tangerino a animar os bois.
A garapa escorre para o parol, depósito receptor, colocado
na casa do fabrico. Daí o mestre, encarregado da fabricação da rapadura, a
despeja no primeiro tacho, que está assentado em cima da fornalha; aí fica até
ferver. Deita-se nela então uma solução de cal ou cinza; corta-se o mel.Daí com
uma passadeira o mestre vai passando o mel para sucessivos tachos, enquanto com
uma espumadeira retira de cima da mesma a baba, uma espuma preta. Assim vai o
mestre apurando o mel, até lhe dar o ponto no sexto tacho. Dois homens,
segurando nas alças do último tacho, despejam então o conteúdo em uma gamela de
madeira, onde o mel é remexido até esfriar, sendo então despejado nas formas de
madeira, previamente molhadas, para que as rapaduras se desprendam mais
facilmente. Em dez minutos está o mel coalhado e as rapaduras prontas.
Na fabricação da aguardente, corre a garapa para a
destilação ou casa da destilação, por um cano subterrâneo, para um depósito de
madeira. Daí, por meio de uma bomba de madeira, é elevada para as dornas ou
depósitos do cortume, onde fermenta durante quatro ou oito dias, até ficar
chegada, garapa chegada. "Quando a cana tá forte, afermenta, que chega
fumaça. Quando esfria, tá chegada!" Daí passa para o alambique, onde é
destilada; a água do depósito da serpentina é mudada de vez em quando, descendo
a água fria por um cano chamado resfriador, saindo por cima a água quente pelo
esgoto. A aguardente corre por uma torneira para as pipas, enquanto no fundo do
alambique se acumula a borra da garapa, a tiborna, bebida açucarada muito
apreciada pelos animais.
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