Neste mês de janeiro, faz meio século
que foi instalado um novo município no Rio Grande do Norte. Pela lei de sua
criação (Lei Nº 2.338, de 31 de dezembro de 1958, sancionada pelo governador
Dinarte de Medeiros Mariz), ele recebeu o nome Baía Formosa, reminiscência do
que a lenda conta: que um dos colonizadores portugueses, ao deparar com aquela
que seria a única baía do litoral do nosso Estado, teria exclamado: “Oh, que
baía formosa!” Desmembrado de Canguaretama, foi instalado a 17 de janeiro de
1959.
RAPINAGENS, VIOLÊNCIAS
A História da região onde o município
foi instalado é mais antiga até que a de Natal. Em seu livro “Nomes da Terra”
(v. a edição de 2002, pelo Sebo Vermelho), Câmara Cascudo diz que “doze anos
antes de fundar-se a Cidade do Natal, BAÍA FORMOSA era habitada e centro de
produção.” Antes, Cascudo explicara sobre os nomes anteriores: “O nome indígena
era ARETIPICABA, ‘bebedouro dos papagaios’, deturpado em AZATIPATICANA, no apógrafo
espanhol da Biblioteca Nacional de Madrid. Gabriel Soares de Souza, descrevendo
a costa em 1587, informava: ‘Entre um e outro rio está a enseada ARATIPICABA,
onde dos arrecifes para dentro entram naus francesas e fazem sua carga.’ Os
rios eram o Goaramataí e o Camarative, os atuais Curimataú e Camaratuba. A
carga constava de pau-brasil.
Pescadores começaram a se reunir nas
praias da bela enseada, principalmente para pescarem albacoras (espécie de
pequeno atum), abundantes por ali de outubro a dezembro. E fazendeiros,
principalmente da família Albuquerque Maranhão, também começaram a usar as
praias para temporadas de veraneio. Mas um deles, com sanha de latifundiário
inescrupuloso provocou um acontecimento extremamente violento, ainda hoje lembrado
nos anais de Baía Formosa. Em seu livro “Terras Potiguares” (Dinâmica Editora,
1998), Marcus César Cavalcanti de Morais conta como foi:
“Em 1877, aconteceu a famosa matança de
agosto, quando o senhor do Engenho Estrela, João Albuquerque Maranhão Cunhaú,
latifundiário poderoso, dizendo-se dono da área, partiu para o novo vilarejo
comandando um grupo armado e disposto a expulsar os moradores da localidade.
Foi aí que surgiu a figura corajosa de Francisco Magalhães que, ao lado de mais
quatorze homens armados com facas e pedaços de madeira, decidiram resistir aos
agressores. Travou-se uma luta terrível, com um saldo de 6 pessoas mortas. O
mandante da chacina foi preso e levado a julgamento no ano de 1878, em
Canguaretama, onde foi absolvido. A vocação histórica da resistência permaneceu
naquela comunidade construída a partir do trabalho árduo.” A bravura e a
decisiva resistência do trabalhador do campo, exemplificáveis na década 60 do
século passado, no Nordeste, pelas Ligas Camponesas e atualmente pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – estavam sendo plantadas ali, na linda baía
do litoral potiguar.
BELEZA E RECURSOS NATURAIS
Mas, justamente por esta beleza, pelo
clima agradável de que se pode gozar por ali, sente-se que a Natureza da região
faz superar-se atos indignos ou violentos, levando pessoas a bem viver, e
sobreviver de paz e alegria. Até mesmo sem muita ambição no sentido de
possuírem terras. Porque, é como escreveu José Luiz Silva, falando sobre Baía
Formosa, em sua coluna “Municípios Um Por Dia”, em exemplar do “Diário do
Natal”, de 28 de setembro de 1977: “Baía Formosa é um dos mais belos recantos
do Estado. Seu nome se justifica. O município é um caso à parte em termos de
propriedades. Quase não existem.”
Produzindo culturas agrícolas, madeiras,
minérios e sal marinho, além de contar com uma indústria de destilação, Baía
Formosa é “modestamente” rica em sua pequena área de 222 km . É no município/baía
que se encontra também a maior reserva da Mata Atlântica ainda preservada no
Rio Grande do Norte: a Mata Estrela, com uma área de mais de 2000 hectares , e que
a 18 de dezembro de 1990 foi tombada como Patrimônio Ecológico do Estado, em Portaria N ° 460,
assinada pela então Secretária de Educação e Cultura do RN, Ísis Brandão de
Araújo Guerra. Quem for autorizado a visitar a Mata Estrela, vai encontrar nela
coisas curiosas, como a Lagoa Araraquara, que o povo chama Lagoa da Coca-Cola,
por ter características águas escuras, não por via de poluição e sim por
entintamentos naturais do solo.
Na extensão da enseada, são 26 quilômetros de
praias semi-desertas, e um manguezal. Contudo, dentre as praias, algumas são
bastante conhecidas por moradores e turistas: Praia do Farol, Praia de Perobas,
Barreirinhas, e Praia do Pontal – local em que se realizou a 5ª etapa do
Nordestino Profissional de Surf, o “Greenish Pro”, favorecido o evento pelas
ondas da referida praia, que são tubulares, quebrando em formação perfeita, no
sentido da direita dos surfistas. Baía Formosa é constituída da cidade-sede,
das terras do município, e da localidade de Sagi, que tem bancos de areia
monazítica, presença de peixes e caranguejos, e inclusive a presença do
peixe-boi. Diariamemente, passam golfinhos pela baía. Em Sagi, tem um grupo
remanescente de índios da tribo Potiguara.
Embora não existam artistas famosos do
Rio Grande do Norte vindos de Baía Formosa (com exceção de algumas rendeiras,
como Aurelina Tomé da Silva – Nita -, que figurou até como capa do ensaio
“Rendas, Bilros e Labirintos”, de Ana Luzinete P. da Silva, no contexto do Nº
9, Volume 02, de março de 2002, da revista “Galante”, do Scriptorin Candinha
Bezerra e Fundação Hélio Galvão), eu diria que a própria cidade é uma obra de
arte. Multissensorial. Sem prédios altos, para atrapalhar a visão da paisagem,
o por do sol é inesquecível, com a luz amarela inundando de dourado águas, mata
e escarpas, além dos barcos dos pescadores balançando ao sabor da maré. As
falésias são um destaque. Falésias multicoloridas, adquirindo cores diferentes
conforme a época do ano. Em uma das praias, a Praia dos Olhos D’Água, brota uma
nascente de água doce em plena areia da praia. Ela tem um permanente marulho,
suave, onde alguns acreditam até ouvirem uma escala musical.
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