18 de fevereiro de 2013

Baía Formosa - Ela é bonita (e a única)


Neste mês de janeiro, faz meio século que foi instalado um novo município no Rio Grande do Norte. Pela lei de sua criação (Lei Nº 2.338, de 31 de dezembro de 1958, sancionada pelo governador Dinarte de Medeiros Mariz), ele recebeu o nome Baía Formosa, reminiscência do que a lenda conta: que um dos colonizadores portugueses, ao deparar com aquela que seria a única baía do litoral do nosso Estado, teria exclamado: “Oh, que baía formosa!” Desmembrado de Canguaretama, foi instalado a 17 de janeiro de 1959.

       RAPINAGENS, VIOLÊNCIAS

        A História da região onde o município foi instalado é mais antiga até que a de Natal. Em seu livro “Nomes da Terra” (v. a edição de 2002, pelo Sebo Vermelho), Câmara Cascudo diz que “doze anos antes de fundar-se a Cidade do Natal, BAÍA FORMOSA era habitada e centro de produção.” Antes, Cascudo explicara sobre os nomes anteriores: “O nome indígena era ARETIPICABA, ‘bebedouro dos papagaios’, deturpado em AZATIPATICANA, no apógrafo espanhol da Biblioteca Nacional de Madrid. Gabriel Soares de Souza, descrevendo a costa em 1587, informava: ‘Entre um e outro rio está a enseada ARATIPICABA, onde dos arrecifes para dentro entram naus francesas e fazem sua carga.’ Os rios eram o Goaramataí e o Camarative, os atuais Curimataú e Camaratuba. A carga constava de pau-brasil.
       Pescadores começaram a se reunir nas praias da bela enseada, principalmente para pescarem albacoras (espécie de pequeno atum), abundantes por ali de outubro a dezembro. E fazendeiros, principalmente da família Albuquerque Maranhão, também começaram a usar as praias para temporadas de veraneio. Mas um deles, com sanha de latifundiário inescrupuloso provocou um acontecimento extremamente violento, ainda hoje lembrado nos anais de Baía Formosa. Em seu livro “Terras Potiguares” (Dinâmica Editora, 1998), Marcus César Cavalcanti de Morais conta como foi:
        “Em 1877, aconteceu a famosa matança de agosto, quando o senhor do Engenho Estrela, João Albuquerque Maranhão Cunhaú, latifundiário poderoso, dizendo-se dono da área, partiu para o novo vilarejo comandando um grupo armado e disposto a expulsar os moradores da localidade. Foi aí que surgiu a figura corajosa de Francisco Magalhães que, ao lado de mais quatorze homens armados com facas e pedaços de madeira, decidiram resistir aos agressores. Travou-se uma luta terrível, com um saldo de 6 pessoas mortas. O mandante da chacina foi preso e levado a julgamento no ano de 1878, em Canguaretama, onde foi absolvido. A vocação histórica da resistência permaneceu naquela comunidade construída a partir do trabalho árduo.” A bravura e a decisiva resistência do trabalhador do campo, exemplificáveis na década 60 do século passado, no Nordeste, pelas Ligas Camponesas e atualmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – estavam sendo plantadas ali, na linda baía do litoral potiguar.

      BELEZA E RECURSOS NATURAIS

      Mas, justamente por esta beleza, pelo clima agradável de que se pode gozar por ali, sente-se que a Natureza da região faz superar-se atos indignos ou violentos, levando pessoas a bem viver, e sobreviver de paz e alegria. Até mesmo sem muita ambição no sentido de possuírem terras. Porque, é como escreveu José Luiz Silva, falando sobre Baía Formosa, em sua coluna “Municípios Um Por Dia”, em exemplar do “Diário do Natal”, de 28 de setembro de 1977: “Baía Formosa é um dos mais belos recantos do Estado. Seu nome se justifica. O município é um caso à parte em termos de propriedades. Quase não existem.”
      Produzindo culturas agrícolas, madeiras, minérios e sal marinho, além de contar com uma indústria de destilação, Baía Formosa é “modestamente” rica em sua pequena área de 222 km. É no município/baía que se encontra também a maior reserva da Mata Atlântica ainda preservada no Rio Grande do Norte: a Mata Estrela, com uma área de mais de 2000 hectares, e que a 18 de dezembro de 1990 foi tombada como Patrimônio Ecológico do Estado, em Portaria N° 460, assinada pela então Secretária de Educação e Cultura do RN, Ísis Brandão de Araújo Guerra. Quem for autorizado a visitar a Mata Estrela, vai encontrar nela coisas curiosas, como a Lagoa Araraquara, que o povo chama Lagoa da Coca-Cola, por ter características águas escuras, não por via de poluição e sim por entintamentos naturais do solo.
        Na extensão da enseada, são 26 quilômetros de praias semi-desertas, e um manguezal. Contudo, dentre as praias, algumas são bastante conhecidas por moradores e turistas: Praia do Farol, Praia de Perobas, Barreirinhas, e Praia do Pontal – local em que se realizou a 5ª etapa do Nordestino Profissional de Surf, o “Greenish Pro”, favorecido o evento pelas ondas da referida praia, que são tubulares, quebrando em formação perfeita, no sentido da direita dos surfistas. Baía Formosa é constituída da cidade-sede, das terras do município, e da localidade de Sagi, que tem bancos de areia monazítica, presença de peixes e caranguejos, e inclusive a presença do peixe-boi. Diariamemente, passam golfinhos pela baía. Em Sagi, tem um grupo remanescente de índios da tribo Potiguara.
      Embora não existam artistas famosos do Rio Grande do Norte vindos de Baía Formosa (com exceção de algumas rendeiras, como Aurelina Tomé da Silva – Nita -, que figurou até como capa do ensaio “Rendas, Bilros e Labirintos”, de Ana Luzinete P. da Silva, no contexto do Nº 9, Volume 02, de março de 2002, da revista “Galante”, do Scriptorin Candinha Bezerra e Fundação Hélio Galvão), eu diria que a própria cidade é uma obra de arte. Multissensorial. Sem prédios altos, para atrapalhar a visão da paisagem, o por do sol é inesquecível, com a luz amarela inundando de dourado águas, mata e escarpas, além dos barcos dos pescadores balançando ao sabor da maré. As falésias são um destaque. Falésias multicoloridas, adquirindo cores diferentes conforme a época do ano. Em uma das praias, a Praia dos Olhos D’Água, brota uma nascente de água doce em plena areia da praia. Ela tem um permanente marulho, suave, onde alguns acreditam até ouvirem uma escala musical.

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