Anchieta Fernandes
Antes que termine este ano de 2008, quero comemorar os 110 anos da primeira mostragem de filmes em nosso Estado , e o centenário da inauguração do primeiro cinema no Rio Grande do Norte. Esta comemoração a concretizo através destas notinhas:
A primeira vez que foi visto cinema no Rio Grande do Norte: 16 de abril de 1898, um sábado à noite, quando o empresário Nicolau Maria Parente exibiu em um depósito de açúcar na Rua Chile, na Ribeira, estas primeiras imagens de cinema vistas no Estado, constituindo-se a mostragem de pequenos filmes (na época se dizia “fitas”) intitulados: Banhos da Alvorada, A Catedral de Milão, O Casamento do Príncipe de Nápoles, O Panorama de Veneza, A Chegada em Gôndola, A Comida aos Pombos na Praça de São Marcos, e A Chegada do Trem – filmes estes produzidos por Luis Lumière, o inventor do cinema.
Primeiro cinema no Rio Grande do Norte: Cine-Teatro Almeida Castro, inaugurado em Mossoró em 1908, por iniciativa do apodiense Francisco Ricarte de Freitas. O prédio do cinema já fora sede do Clube Dramático Familiar (e mesmo como cinema, passaram depois pelo seu palco muitas companhias teatrais). Este primeiro cinema não tinha inicialmente uma orquestra própria, como foi depois comum em cinemas natalenses, e sim uma pianola, que girava automaticamente, tocando valsas e mais valsas. O público pagava quinhentos réis por pessoa, para entrar. O primeiro seriado que passou em Mossoró, foi no cinema de Chico Ricarte: O Az de Ouro. A forma de Chico Ricarte anunciar que ia passar “fitas” em seu cinema era soltando foguetões em frente ao cinema, sinal de que alguma “fita” nova tinha chegado. Primeiro cinema em Natal: foi o Cinema Natal, da empresa Juvenal & Cia., inaugurado no prédio do então Teatro Carlos Gomes a 21 de agosto de 1909. O primeiro cinema natalense inaugurado em prédio próprio: Cinema Politeama, inaugurado na Ribeira a 08 de dezembro de 1911, uma sexta-feira. Era de propriedade da empresa Gurgel & Paiva. Apresentou no primeiro dia os filmes curtos: Em Busca da Felicidade, Espada do Spirita, Paciência, Bebê Atacada de Peste, Miss Jones e o Oficial de Justiça, O Novo Comissário, Mademoiselle Somberenil e uma versão cinematográfica do Hamlet, de Shakespeare.
Primeira filmagem de terras norte-riograndenses: a 21 de dezembro de 1922, uma quinta-feira, descendo do hidro-avião Sampaio Correia II (primeira aeronave a cruzar os céus do Brasil vinda dos Estados Unidos, e também a primeira a sobrevoar e pousar no Rio Potengi), o cinegrafista John Thomas Baltzel, da companhia de produções cinematográficas norte-americana Pathé News, inaugurava a filmagem de terras potiguares, a partir do Cais Tavares de Lira.
O cinema norte-riograndense pioneiro na apresentação de filmes sonoros foi o referido cinema Politeama, mostrando a 24 de abril de 1915 um filme conjugado ao kinetofone, sincronização de som e imagem.
Primeiro filme realizado no Rio Grande do Norte sob a direção de gente da terra: Cine-Jornal do Rio Grande do Norte, realizado em 1924 sob a direção de Anfilóquio Câmara, natalense que já havia ocupado o cargo de Inspetor do Ensino, reformando o ensino no Estado.
As novas tecnologias cinematográficas, de avanço técnico para melhor transmitir imagem e som ao espectador chegaram a Natal com o cinema Rio Grande, inaugurado a 11 de fevereiro de 1949, com o filme em tecnicolor Minha Rosa Silvestre, dirigido por David Butler. Além da técnica tecnicolor, o Rio Grande apresentou pioneiramente em 3D (terceira dimensão), e a técnica do cinemascope, que amplia a imagem tornando-a quase em relevo. O Rio Grande também foi precursor da mostragem de nus em filmes especiais, definidos como “científicos”, apresentados somente para adultos, a partir da meia-noite; mas não eram ainda filmes pornôs e sim estórias com cenas de parto, estudos ginecológicos etc. Em Mossoró, um cinema que mostrava este tipo de filmes era o Glória, de Cornélio Mendes e Bonifácio Costa. Estes filmes só podiam ser vistos por adultos do sexo masculino; nem mulheres podiam vê-los.
A fase áurea dos cinemas em Natal foi nos anos 50 e 60. Nestas duas décadas, além do cinema, das matinês para se ver seriados e filmes de caubói, a criançada também era fanática por revistas de estórias em quadrinhos. E então, sempre aos domingos, antes dos filmes havia uma verdadeira feirinha de gibis, revistas e mais revistas espalhadas nas calçadas dos cinemas, principalmente do Rex, e os meninos vendendo, comprando e trocando revistas de heróis como Tom Mix, Zorro, Tarzam, Hopalong Cassidy, Roy Rogers, além dos gibis com as fantásticas aventuras espaciais de Flash Gordon.
O primeiro jornal norte-riograndense totalmente dedicado a assuntos cinematográficos foi O Cinema, publicação natalense lançada em outubro de 1957 pelo crítico Valério Marinho de Andrade. Antes, muito antes, desde as primeiras mostragens de filmes no Estado, em 1898, a crítica cinematográfica já se ensaiava inserida no contexto das reportagens que os jornais publicavam sobre o acontecimento. A crítica cinematográfica pelo rádio começou na década 40, quando a Rádio Poti teve o programa Cinema do Ar Lever. Na televisão local, as primeiras críticas começaram a partir de março de 1980, em forma de debate, quando a Tv Universitária começou a transmitir o programa Sessão Macunaíma, no qual eram exibidos de cada vez um filme brasileiro, e após a exibição havia um debate de críticos, professores universitários e o pessoal do Cine-Clube Tirol expressando opiniões e análises técnicas, políticas e estéticas sobre o filme apresentado.
O primeiro cineclube do Rio Grande do Norte: foi o Clube de Cinema, criado por alguns estudantes natalenses por volta de 1956, e que durante alguns anos promoveu as Semanas do Cinema Brasileiro, mostrando nas casas exibidoras documentários do Instituto Nacional do Cinema Educativo. A 16 de fevereiro de 1963, outro cineclube, o já referido Cine-Clube Tirol (fundado a 02 de julho de 1961)lançou a primeira sessão de Cinema de Arte da cidade, fazendo-o no Cinema Rex, estreando com o filme Glória Feita de Sangue, de Stanley Kubrick.
Embora os cinemas natalenses já tivessem mostrado outros tipos de festivais (Festival do Cinema Japonês, Festival de Cinemascope, Festival Hitchcock), o I Festival de Cinema de Natal, com premiação de diretores e atores/atrizes e entrega do troféu Estrela do Mar começou a 19 de outubro de 1987, mostrando no Centro de Convenções o filme Um Trem Para as Estrelas, de Cacá Diegues. O filme mais premiado neste primeiro ano no festival foi Ele, o Boto, de Walter Lima Junior. Presidiu o júri o crítico cinematográfico Antônio Moniz Viana.
Os donos dos cinemas, em determinada época criaram uma variação para utilização do espaço do prédio: os programas de auditório. Em Natal, o primeiro foi o Domingo Alegre, apresentado no palco do Cinema São Luiz, no Alecrim, a partir de 21 de agosto de 1948, e retransmitido pela Rádio Poti. Foi exemplo para outros cinemas criarem seus programas de auditório, como A Hora da Alegria, no Rex, o Bingo (com sorteio de prêmios oferecidos pelo comércio), no Cinema Rio Grande etc.
Durante as décadas 70 e 80 do século passado, um dos tipos de filmes que mais passavam nos cinemas natalenses eram os de karatê e kung-fu, principalmente os interpretados pelo ator Bruce Lee. Embora também fizesse sucesso filmes com Os Trapalhões, faroeste italiano e filmes pornôs da mais medíocre linguagem e com títulos como As Taras de Meninas Virgens.
Publicado no Suplemento Cultural "Nós, do RN" no ano de 2008
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