Manoel Onofre Jr.
Sinal de
vitalidade e afirmação, o samba tem vários subgêneros:
- Samba-canção
– Lento, sentimental, romântico. (Dentro deste o tipo “fossa” ou “deroedeira”,
cujo precursor foi Lupicínio Rodrigues, sambista curiosamente gaúcho. Grande
intérprete e, também, criadora: Dolores Duran).
Muitos vêem
neste sub-gênero influências do bolero e do fox-blue.
Samba de
partido alto – Tradicionalíssimo, parece-nos o de maior pureza, mais próximo às
raízes. Clementina de Jesus, uma grande intérprete.
- Samba de carnaval
– Feito em função mais da dança: muita percussão e alegria.
-Samba-choro –
Uma miscigenação musical, como o nome está dizendo.
- Samba de
breque – Resulta de um modo especial de cantar, com o qual notabilizou-se
Moreira da Silva.
Não devemos
esquecer o samba-exaltação, cujo exemplo mais famoso é “Aquarela do Brasil”, de
Ari Barroso. (Não menos belo, “A Bahia Te Espera”, de Herivelto Martins e
Chianca de Garcia). Este sub-gênero corresponde a determinada época histórica,
de ufanismo verde-amarelo, artificialmente provocado. Tempos de Getúlio.
Contemporaneamente,
o samba-exaltação se faz sentir, de certa forma, no samba-enredo das Escolas de
Samba.
Outra modalidade
digna de nota, o afro-samba de Baden Powell e Vinícius de Morais.
Para conhecer
os caminhos deste fascinante mundo musical, a pessoa precisa de guia, a fim de
que não se perca em veredas de abomináveis sambas comerciais, do tipo Benito di
Paula.
Organizamos e
apresentamos a seguir uma lista de obras-primas, com referência às respectivas
gravações.
Em tempo: Para
maiores estudos da Música Popular Brasileira deve-se ler Oneyda Alvarenga,
Mário de Andrade, José Ramos Tinhorão, Edgar de Alencar, Ary de Vasconcelos,
Sérgio Cabral, Vasco Mariz e outros cobras.
A seleção:
O Orvalho Vem
Caindo
Parceria de
Noel Rosa com Kid Pepe. Interpretação de Almirante (3.11.1933), na voz
bonachona, característica.
Pelo Telefone
Tido e havido
como o primeiro samba gravado. Autoria de Ernesto Santos (Donga) e Mauro de
Almeida (Peru dos Pés Frios). Gravação inicial feita na Casa Édison, pela Banda
Odeon, em 1917. Na coleção “Música Popular Brasileira”, da abril Cultural,
reedita-se a gravação de Baiano, surgida naquele mesmo ano.
Se Você Jurar
De Ismael
Silva, aparecendo como parceiros Francisco Alves e Nilton Bastos. Interpretação
magistral de Mário Reis e Francisco Alves (1931) fazendo dupla.
Último Desejo
Noel Rosa. Interpretação
de Araci de Almeida dos bons tempos (1.1.1937). A gravação mais recente (1967)
da mesma Araci deixa a desejar. Outra boa interpretação, a de Nelson Gonçalves
(1955). Aceitável. Isaura Garcia (1945).
Palpita
Infeliz
Noel Rosa
(Motivado pela polêmica com Wilson Batista). Interpretações de Araci de Almeida
(1936) e Nelson Gonçalves (1955).
Se Acaso Você
Chegasse
Lupicínio
Rodrigues. Interpretação original de Ciro Monteiro (1938). Boa, mas a de Elza
Soares (1959) é melhor.
Feitiço da
Vila
Parceria Noel
Rosa/Vadico. Cantam Nelson Gonçalves (1955) e Araci de Almeida (1967).
Aquarela do
Brasil
Ary Barroso.
Interpretação de Sìlvio Caldas (1942). Há dezenas e dezenas de outras.
Espécie de
segundo hino nacional, esta música talvez seja, das nossas, a mais conhecida no
exterior.
Maria
Música de Ary
Barroso, versos de Luís Peixoto. Valoriza-a muito a interpretação de Sílvio
Caldas (1939), verdadeiramente genial.
Ai, que Saudades
da Amélia.
Parceria
Ataulfo Alves/Mário Lago. Na voz do próprio Ataulfo. Destaque para a gravação
de 1968.
No Rancho
Fundo
Parceria Ary
Barroso/Lamartine Babo. Outra interpretação marcante de Silvio Caldas (1939).
Jura
Sinhô. Com
jeito amaxixado, pode não ser classificado samba. Culminância. Mário Reis é o
intérprete clássico.
Vida de Minha
Vida
Ataulfo Alves.
Melhor exemplo do exarcebado romantismo (mulher-deusa, etc.) que tão bem define
o compositor e intérprete. Gravação de 1968, com as famosas pastoras.
Fez Bobagem
Assis Valente.
Intérpretes: Nara Leão e Araci de Almeida; aquela um tanto apagada, esta
esplêndida, definitiva (1942).
Segredo
Herivelto
Martins em parceria com Marino Pinto. Bela amostra da música passional do
primeiro. Tem uma gravação com Nelson Gonçalves, mas a clássica é com Dalva de
Oliveira (1947).
Favela
Roberto Martins/Waldemar
Silva. Chico Alves revela a profunda melancolia da música, bem melhor do que
Helena de Lima e Ataulfo Alves.
Tenha Pena de
Mim
Cyro de
Souza/Babahu. Araci de Almeida canta como ninguém, no tempo em que era a tal
(1937).
Na Virada da
Montanha
Lamartine
Babo/Ari Barroso. Belíssima melodia. Chico Alves, intérprete (1953).
João Valentão
Dorival
Caymmi. Gravação de 1953, com o próprio autor.
A Felicidade
Tom
Jobim/Vinicius de Morais. Interpretações várias: Agostinho dos Santos, Maysa,
etc. Nenhuma, porém, definitiva.
Desafinado
Tom Jobim em
parceria com Newton Mendonça. Composição das mais representativas do movimento
bossa-nova. Intérprete: João Gilberto, claro.
Olê, olá
Chico Buarque
de Holanda. Admiravelmente bem casadas letra e música. Canta o próprio compositor
(Seu 1º LP).
Pressentimento
Elton
Medeiros/Hermínio Bello de Carvalho. Elza \Soares, com a sua voz quente e
selvagem, salienta a beleza da composição.
Sei lá, Mangueira.
Paulinho da
Viola/Hermínio Bello de Carvalho. Interpretação magistral de Elizeth Cardoso.
As melhores
marchas
Continuando
este roteiro da MPB, selecionamos as melhores marchinhas e marchas- rancho. Vamos
a elas, animação de todos os carnavais:
O Teu Cabelo
não Nega
Irmãos
Valença/Lamartine Babo. Esta é o clássico por excelência. Gravação original em
21.12.1931, com Castro Barbosa e o Grupo da ‘Guarda Velha’. No LP “Os Carnavais
de Lamartine Babo” (1968), o próprio autor a interpreta com sua voz fina e
engraçada.
Taí (Pra Você
Gostar de Mim)
Joubert de
Carvalho. Gravação original em 21.01.1930, por Carmem Miranda, que começava,
então, a sua carreira. Ela canta quase gritando, por conta das deficiências do
sistema de gravação à época. Mas, ninguém a superou. No filme “Quando o
Carnaval Chegar”, de Carlos Diegues, Nara Leão dá uma interpretação toda diferente,
infelizmente não incluída no LP homônimo.
Cidade
Maravilhosa
André Filho. Espécie
de hino do Rio de Janeiro. Aurora Miranda a interpreta, numa empolgação
ufanista, beirando o ridículo, em dueto com o autor. Foi um dos maiores sucessos
do carnaval de 1935.
Grau Dez
Lamartine
Babo/Ary Barroso. Interpretação de Chico Alves (10.10.1934), do próprio
Lamartine (LP citado), além de outras.
Ala-lá-ô
Haroldo Lobo/Milton
de Oliveira. Uns longes de orientalismo na música e na letra. Carlos Galhardo
canta, definitivo (gravação de 21.11.1940).
Touradas em
Madri
João de Barro/Alberto
Ribeiro. Inscrita em concurso famoso de músicas carnavalescas, foi
desclassificada, sob alegativa de ser mais um “paso doble” que uma marcha.
Gravação original com Almirante em 28.11.1937.
Boas Festas
Assis Valente.
Marcha natalina, verdadeiro clássico. Ao contrário da esfusiante alegria, que
caracteriza músicas do gênero, esta marcha é repassada de amarga e suave
ironia. Carlos Galhardo é intérprete insuperável.
Sonhos de
Papel
Marcha junina
de Alberto Ribeiro. Outro clássico. Gravação original de Carmem Miranda (10.05.1935).
Rasguei a
Minha Fantasia
Lamartine
babo. Boas interpretações: do Quarteto em Cy e do próprio “rei da marchinha”
(1963)
Pastorinhas
Noel Rosa/João
de Barro, Sílvio Caldas é quem canta melhor (Gravação de 13.12.1937).
Anda Luzia
João de Barro.
Em seu primeiro LP, Maria Bethânia valoriza a composição.
Marcha da
Quarta Feira de Cinzas
Carlos
Lira/Vinicius de Morais. Interpretação famosa: Nara Leão. Um hino ao espírito
otimista.
Porta
Estandarte
Geraldo
Vandré/Fernando Lona. Canta Vandré (gravação de novembro de 1966). Outra
mensagem de esperança.
Noite dos
Mascarados
Chico Buarque
de Holanda. Feita para ser cantada em dueto. Melhor gravação: Chico e Odete
Lara, com participação do MPB-4 (05.12.1966).
Não devemos
encerrar estas notas sem falar no baião e no frevo.
Mestre no primeiro
é Luiz Gonzaga, realmente um compositor da maior importância. Ele, sozinho ou
em parceria com Humberto Teixeira e, depois, com Zé Dantas, além de outros,
criou pequenas obras-primas, inspiradas no sertão do Nordeste. Destacamos “Asa
Branca”, “Juazeiro”, “Baião”, “Que Nem Jiló”, “Algodão”, “A Volta da Asa
Branca”, todas interpretadas pelo próprio Gonzaga, sanfoneiro e cantor.
De primeiro subestimadas,
apesar de grande sucesso popular, essa música vem sendo, hoje, muito bem recebida
em círculos intelectualizados e sofisticados. Sensível a sua influência sobre
Gilberto Gil, que a fundiu com o rock, Outros músicos e compositores, como os integrantes
do Quinteto Violado, limitam-se a repeti-la em novos arranjos.
O frevo –
essencialmente uma dança – é cultivado no Recife (em cujos carnavais nasceu),
por –entre outros – dois compositores ainda não suficientemente louvados:
Capiba e Nelson Ferreira.
Há duas
modalidades principais: o frevo de rua – orquestrado, num esbanjamento de metais,
e o frevo-canção, de que é exemplo notável o “Evocação nº. 1” .
Música
regional, não vingou bem no Rio de Janeiro – principal ponto de irradiação
cultural do país, já dominado pelo samba e pela marchinha -, porque o frevo,
talvez a mais engenhosa manifestação musical brasileira, ficou meio enjeitado.
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