Aldo Tinoco
Valério Mesquita
Relembro a figura desse
sãogonçalense/macaibense nascido em julho de 1926. Falecido em abril passado,
Aldo viveu as descobertas sucessivas das terras em que viveu, nas paisagens do
tempo e no mistério das claridades e sombras exteriores. Prestativo e
atencioso, agia assim para viver mais intensamente, como se sonhar fosse o
único bem que a gente obtém gratuitamente.
Era dentista, advogado, professor da UFRN e titular da USP, onde fez
mestrado em planejamento e prática de saúde, além de doutorado e pós-doutorado.
E nos voos de longo curso, obteve o brevê de aviação. Como político não
cortejou a popularidade. Elegeu-se vice-prefeito de Macaíba em 1953, na chapa
com o médico José Jorge Maciel e chegou a titularidade quando Maciel foi ser secretário de saúde do
então governo de Dinarte Mariz, após 1956.
Nesse ofício, Aldo
gostava de se portar com firmeza e idealismo. Participou da vida pública sem
dela nunca haver tirado proveito próprio ou se conspurcado. Era autêntico e
personalíssimo. Não corrompeu ninguém e
nem se deixou corromper pela lisonja ou pela erosiva ação de adjetivos
laudatórios. Conheci-o lá em Macaíba
quando instalou o seu consultório odontológico na rua João Pessoa, perto da
ponte. Fui seu cliente e por ele “torturado” pelo “mortozinho” removedor de
cáries e de obturações. E como sofri, apesar dele ser amigo pessoal e político
de seu Mesquita.
Aldo da Fonseca Tinoco
foi um homem plural. Além de haver exercido os mandatos de deputado estadual e
federal, posteriormente, destacou-se como líder atuante nas hostes do Partido
Social Progressista presidido por João Café Filho e depois militou no PTB, ao
lado de Clóvis Mota, João Goulart e Leonel Brizola. Nos idos de março (1964),
Aldo foi perseguido e detido pelos agentes da revolução, sem jamais haver abjurado
as suas crenças políticas. Com a redemocratização do país, em meados da década
de 1980, ingressou no Partido Democrático Trabalhista (PDT), sendo candidato ao
governo do Rio Grande do Norte, disputando o cargo com Geraldo Melo (PMDB) e
João Faustino pelo PFL.
Aldo esteve preso por
quatro meses em Natal durante o movimento de 64. Foi transferido, juntamente
com o ex-deputado Floriano Bezerra, Djalma Maranhão e Luis Maranhão Filho, para
Fernando de Noronha, mesmo com um harbeas-corpus já concedido pela justiça
militar. Na ilha ficou detido por mais de trinta dias. Todavia, tratado com
respeito. Saiu da prisão de Fernando de Noronha, com a chegada do general
Ernesto Geisel, então chefe da Casa Civil da presidência da República, que fora
verificar a situação dos presos políticos. Aldo e o governador de Pernambuco
Miguel Arraes seguiram viagem, posteriormente, para Recife no mesmo avião com o
general.
Posto em liberdade, em
vez de retornar a Natal seguiu para o Rio de Janeiro e depois São Paulo, onde
as portas da USP se abriram e lhe permitiram levar a esposa e os filhos, que
tiveram toda a sua formação instrucional em escolas e universidades paulistas.
A fazenda “Milharada”
em São Gonçalo do Amarante era o seu
paraíso. Nesse eldorado além de criar gado e caprinos, produziu coco, cana de
açúcar, caju e graviola. Mas não fica aí, a sua visão e criatividade.
Introduziu a fabricação de mel de abelha, rapadura, mel de engenho, farinha de
milho e cajuína. Reflete-se nesse elenco de atividades a sua dimensão humana, simples,
voltada ao cultivo da terra, como exemplo significativo de autêntica
nordestinidade. Do casamento com dona Martha Bezerra de Melo Tinoco, nasceram
Eleonora, Rômulo, Aldo Filho, Petrônio, Marcelo e Leonardo. Aldo deixou netos e
bisnetos. Nesse espaço em que se relembra o seu exemplo, constato que morreu em
paz. Teve existência longeva entre nós e como paradigma legou a sua vida de
possibilidades e descobertas.
(*) Escritor.
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