5 de junho de 2017

MANOEL RODRIGUES DE MELO – Uma vida dedicada ao estudo de sua terra.

Claudio Galvão

O ano de 2007 marcou o centenário de nascimento de MANOEL RODRIGUES DE MELO, um dos mais sinceros e autênticos intelectuais do Rio Grande do Norte. Sua obra não foi numerosa em quantidade, mas poucos escreveram tão aprofundadamente, com tanto conhecimento e amor por sua terra e sua gente. Merece, pois, as mais agradecidas homenagens de seu Estado.
Homenagear um escritor de seu porte só será possível a quem tiver um mínimo de acesso e conhecimento de sua obra. Daí o silêncio e omissão de muitas entidades, autoridades e instituições culturais. Ainda bem que o Instituto Histórico e Geográfico do RN – que foi honrado pela sua presença entre seus sócios – fará a sua parte, dedicando à sua memória uma sessão solene na noite de 13 de novembro corrente.
Qual a importância de Manoel Rodrigues de Melo na vida intelectual do Rio Grande do Norte?
Nascido a 7 de julho de 1907 na casa grande da fazenda “Queimado” – na várzea do Açu – era o quarto dos oito filhos de Manoel de Melo Andrade Filho e Maria Rodrigues de Melo. Teve a infância típica dos meninos do interior, ausente da influência das coisas das cidades grandes, mas crescido e alimentado pelo rico cabedal da sabedoria ingênua e ao mesmo tempo profunda de seus ancestrais. Vivendo num meio estritamente rural, aprendeu a conviver com os rigores do clima, vivenciou as secas e fugiu das cheias e sofreu as conseqüências que a todos atingiam. O eixo de sua obra é, portanto, o reflexo de sua vida. A sua cultura brotou muito antes dos livros, do espontâneo contato com a terra e o povo, auferindo a sabedoria que refletem a lenta sedimentação de usos e costumes seculares.  
Sua educação formal se deu longe das escolas burguesas, dos sofisticados ambientes, das pomposas bibliotecas. Não teve mais que estudos primários com modestos professores, escolas simples em Macau, continuação de estudos em Currais Novos, tudo nos limites que o tempo e a região impunham. Naquela cidade seridoense nasceu a sua primeira manifestação literária: redigiu e publicou o jornal estudantil O PORVIR, datilografado, lançado em 1926, tendo ele 19 anos.
Uma referência mais detalhada à caminhada intelectual de Manoel Rodrigues de Melo alongaria por demais estes comentários. Melhor tentar o que mais interessa no momento: uma visão dos trabalhos que publicou. Tudo começou quando, depois de numerosa matéria em jornais e periódicos veio a publico seu primeiro livro, em 1940: VÁRZEA DO ASSU. Luís da Câmara Cascudo, em seu prefácio afirmou, indiscutível e definitivo: Manoel Rodrigues de Melo é o cronista da Várzea do Açu.
Quatro anos depois (1944) é a vez de PATRIARCAS E CARREIROS. Nesta obra se refletem as lembranças de sua infância distante, a evocação dos lentos carros-de-boi sulcando, vagarosamente, as ora secas, ora enlameadas estradas do seu rincão, e a monótona melodia do áspero rangido de suas rodas roçando os eixos de madeira. Revela-se, mais uma vez, o profundo conhecedor da sociologia rural, dos usos e costumes e, principalmente, dos homens que fizeram a vida dos rincões distantes do Estado.
                1953 é o ano de CAVALO DE PAU. Evocando uma de suas brincadeiras prediletas quando criança, o escritor introduz o leitor na geografia humana do sertão norte-rio-grandense e o leva a um contato com suas emoções de menino sertanejo, sua educação no severo sistema patriarcal, as lendas, o folclore, os tipos humanos que ainda viviam em sua memória. É mais uma preciosa contribuição para o estudo da cultura regional, alicerçada na vivência e experiência.
Uma pouco conhecida faceta da produção intelectual de Manoel Rodrigues de Melo é o seu lado de poeta. Foram poemas uma boa parte de sua colaboração quando mais jovem, em jornais e periódicos. CHICO CABOCLO E OUTROS POEMAS, cuja edição é dada a público em 1957, é uma retomada deste caminho que fora relegado a plano secundário frente aos estudos e pesquisas elaborados e publicados.
Um outro Manoel Rodrigues de Melo, agora como romancista se revela em um livro diferente: é a vez de TERRAS DE CAMUNDÁ, seu primeiro e único romance, publicado em 1972.
A paixão pelos jornais o levou a possuir uma rica coleção, composta até de exemplares raros da imprensa do Estado. Quantas vezes foi visto no Instituto Histórico, debruçado sobre um volume de velhos jornais, concentrado, a tomar notas?... Deste longo e paciente trabalho resultaram dois livros que mostram o autor como pesquisador em novas áreas de ação. Em 1987 publicava-se o DICIONÁRIO DA IMPRENSA NO RIO GRANDE DO NORTE, logo tornado indispensável. A outra obra, assim como o DICIONÁRIO, era fruto de antigas pesquisas e estava já esquecido pelo autor, quando a pesquisadora Teresa Aranha encontrou na biblioteca do escritor os manuscritos de uma extensa bibliografia de autores norte-rio-grandenses, abordando desde os mais antigos até o ano de 1970, o que resultou na publicação, em 1994, de MEMÓRIA DO LIVRO POTIGUAR.
Isto é apenas uma tentativa de se avaliar a importância deste intelectual e sua contribuição para o Estado. Por exigüidade de espaço não foi referida sua vasta colaboração em periódicos. E, se fosse abordada a sua vida como administrador de entidades culturais certamente haveria mais motivos para admiração e aplauso.
É, pois, Manoel Rodrigues de Melo, pela sua obra e vida retilínea e realizadora, um exemplo a ser admirado, digno das mais justas homenagens do povo a que tanto se dedicou.

BIBLIOGRAFIA DE MANOEL RODRIGUES DE MELO – Livros.
1 – VÁRZEA DO AÇU. 1ª edição: EDIGRAF – Edição dos Cadernos. São Paulo, 1940. Prefácio de Luis da Câmara Cascudo. 2ª edição: AGIR, Rio de Janeiro, 1951. 3ª edição: São Paulo, IBRASA, [Brasília], INL, 1979.
2 – PATRIARCAS E CARREIROS. 1ª edição: Editora Tradição, Recife, 1944. 2ª edição: Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 1954. 3ª edição: Editora Universitária, Natal, 1985.
3 – CHICO CABOCLO E OUTROS POEMAS. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 1957.
4 – CAVALO DE PAU. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 1953.
5 – TERRAS DE CAMUNDÁ. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 1972.
6 – DICIONÁRIO DA IMPRENSA NO RIO GRANDE DO NORTE. Fundação José Augusto/Cortez Editora. Natal/São Paulo, 1987.
7 – MEMÓRIA DO LIVRO POTIGUAR. Editora Universitária, Natal, 1994.

                A colaboração em periódicos pode ser encontrada em ARANHA, Terezinha – GALVÃO, Claudio. MANOEL RODRIGUES DE MELO – Biobibliografia 1926-1995. Editora da UFRN, Natal, 1995.













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