Claudio Galvão
O ano de 2007 marcou o centenário de nascimento de
MANOEL RODRIGUES DE MELO, um dos mais sinceros e autênticos intelectuais do Rio
Grande do Norte. Sua obra não foi numerosa em quantidade, mas poucos escreveram
tão aprofundadamente, com tanto conhecimento e amor por sua terra e sua gente.
Merece, pois, as mais agradecidas homenagens de seu Estado.
Homenagear um escritor de seu porte só será possível
a quem tiver um mínimo de acesso e conhecimento de sua obra. Daí o silêncio e
omissão de muitas entidades, autoridades e instituições culturais. Ainda bem
que o Instituto Histórico e Geográfico do RN – que foi honrado pela sua
presença entre seus sócios – fará a sua parte, dedicando à sua memória uma
sessão solene na noite de 13 de novembro corrente.
Qual a importância de Manoel Rodrigues de Melo na
vida intelectual do Rio Grande do Norte?
Nascido a 7 de julho de 1907 na casa grande da
fazenda “Queimado” – na várzea do Açu – era o quarto dos oito filhos de Manoel
de Melo Andrade Filho e Maria Rodrigues de Melo. Teve a infância típica dos
meninos do interior, ausente da influência das coisas das cidades grandes, mas
crescido e alimentado pelo rico cabedal da sabedoria ingênua e ao mesmo tempo
profunda de seus ancestrais. Vivendo num meio estritamente rural, aprendeu a
conviver com os rigores do clima, vivenciou as secas e fugiu das cheias e
sofreu as conseqüências que a todos atingiam. O eixo de sua obra é, portanto, o
reflexo de sua vida. A sua cultura brotou muito antes dos livros, do espontâneo
contato com a terra e o povo, auferindo a sabedoria que refletem a lenta
sedimentação de usos e costumes seculares.
Sua educação formal se deu longe das escolas
burguesas, dos sofisticados ambientes, das pomposas bibliotecas. Não teve mais
que estudos primários com modestos professores, escolas simples em Macau,
continuação de estudos em Currais Novos, tudo nos limites que o tempo e a
região impunham. Naquela cidade seridoense nasceu a sua primeira manifestação
literária: redigiu e publicou o jornal estudantil O PORVIR, datilografado,
lançado em 1926, tendo ele 19 anos.
Uma referência mais detalhada à caminhada intelectual de Manoel
Rodrigues de Melo alongaria por demais estes comentários. Melhor tentar o que
mais interessa no momento: uma visão dos trabalhos que publicou. Tudo começou
quando, depois de numerosa matéria em jornais e periódicos veio a publico seu
primeiro livro, em 1940: VÁRZEA DO ASSU. Luís da Câmara Cascudo, em seu prefácio
afirmou, indiscutível e definitivo: Manoel
Rodrigues de Melo é o cronista da Várzea do Açu.
Quatro anos depois (1944) é a vez de PATRIARCAS E CARREIROS. Nesta obra
se refletem as lembranças de sua infância distante, a evocação dos lentos
carros-de-boi sulcando, vagarosamente, as ora secas, ora enlameadas estradas do
seu rincão, e a monótona melodia do áspero rangido de suas rodas roçando os
eixos de madeira. Revela-se, mais uma vez, o profundo conhecedor da sociologia
rural, dos usos e costumes e, principalmente, dos homens que fizeram a vida dos
rincões distantes do Estado.
1953 é o ano de
CAVALO DE PAU. Evocando uma de suas brincadeiras prediletas quando criança, o
escritor introduz o leitor na geografia humana do sertão norte-rio-grandense e
o leva a um contato com suas emoções de menino sertanejo, sua educação no
severo sistema patriarcal, as lendas, o folclore, os tipos humanos que ainda
viviam em sua memória. É mais uma preciosa contribuição para o estudo da
cultura regional, alicerçada na vivência e experiência.
Uma pouco conhecida faceta da produção intelectual
de Manoel Rodrigues de Melo é o seu lado de poeta. Foram poemas uma boa parte
de sua colaboração quando mais jovem, em jornais e periódicos. CHICO CABOCLO E
OUTROS POEMAS, cuja edição é dada a público em 1957, é uma retomada deste
caminho que fora relegado a plano secundário frente aos estudos e pesquisas
elaborados e publicados.
Um outro Manoel Rodrigues de Melo, agora como
romancista se revela em um livro diferente: é a vez de TERRAS DE CAMUNDÁ, seu
primeiro e único romance, publicado em 1972.
A paixão pelos jornais o levou a possuir uma rica
coleção, composta até de exemplares raros da imprensa do Estado. Quantas vezes
foi visto no Instituto Histórico, debruçado sobre um volume de velhos jornais,
concentrado, a tomar notas?... Deste longo e paciente trabalho resultaram dois
livros que mostram o autor como pesquisador em novas áreas de ação. Em 1987
publicava-se o DICIONÁRIO DA IMPRENSA NO RIO GRANDE DO NORTE, logo tornado
indispensável. A outra obra, assim como o DICIONÁRIO, era fruto de antigas
pesquisas e estava já esquecido pelo autor, quando a pesquisadora Teresa Aranha
encontrou na biblioteca do escritor os manuscritos de uma extensa bibliografia
de autores norte-rio-grandenses, abordando desde os mais antigos até o ano de
1970, o que resultou na publicação, em 1994, de MEMÓRIA DO LIVRO POTIGUAR.
Isto é apenas uma tentativa de se avaliar a importância deste
intelectual e sua contribuição para o Estado. Por exigüidade de espaço não foi
referida sua vasta colaboração em periódicos. E, se fosse abordada a sua vida
como administrador de entidades culturais certamente haveria mais motivos para
admiração e aplauso.
É, pois, Manoel Rodrigues de Melo, pela sua obra e
vida retilínea e realizadora, um exemplo a ser admirado, digno das mais justas
homenagens do povo a que tanto se dedicou.
BIBLIOGRAFIA DE MANOEL RODRIGUES DE MELO – Livros.
1 – VÁRZEA DO AÇU. 1ª edição: EDIGRAF – Edição dos Cadernos. São Paulo,
1940. Prefácio de Luis da Câmara Cascudo. 2ª edição: AGIR, Rio de Janeiro,
1951. 3ª edição: São Paulo, IBRASA, [Brasília], INL, 1979.
2 – PATRIARCAS E CARREIROS. 1ª edição: Editora Tradição, Recife, 1944. 2ª
edição: Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 1954. 3ª edição: Editora
Universitária, Natal, 1985.
3 – CHICO CABOCLO E OUTROS POEMAS. Irmãos Pongetti Editores, Rio de
Janeiro, 1957.
4 – CAVALO DE PAU. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 1953.
5 – TERRAS DE CAMUNDÁ. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 1972.
6 – DICIONÁRIO DA IMPRENSA NO RIO GRANDE DO NORTE. Fundação José
Augusto/Cortez Editora. Natal/São Paulo, 1987.
7 – MEMÓRIA DO LIVRO POTIGUAR. Editora Universitária, Natal, 1994.
A colaboração em
periódicos pode ser encontrada em ARANHA, Terezinha – GALVÃO, Claudio. MANOEL
RODRIGUES DE MELO – Biobibliografia 1926-1995. Editora da UFRN, Natal, 1995.
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