8 de junho de 2017

Congado


                                                                                                   Fotos: Adrovando Claro


Wilson de Lima Bastos

Os congados autênticos usam numerosos instrumentos musicais, mas todos de percussão. Pare até que sem tais instrumentos não haveria congado. Marcam o ritmo, controlando a melodia concentrada no canto, de que todos participam. O enredo é variável conforme a região e daí designações diferentes para o que se conhece sob o nome de congado.
Eis que assim fala Luís da Câmara Cascudo: “Quanto ao enredo, os cucumbis diferem dos congos. Para o Norte não há feiticeiro ressuscitando príncipe e, sim, este morrendo às mãos do embaixador da rainha Ginga, indo prisioneiro o velho rei. No registro de Melo Morais Filho, é um caboclo (indígena) o matador do príncipe que volta a viver e há uma guerra entre os dois partidos. O cucumbi se espalhou para o Sul. O congo recolhido por Pereira da Costa termina em festas e pazes entre o embaixador e o rei. Em São Paulo, informa-me de Atibaia, o senhor João Batista Conti, não há morte do príncipe e intervenção subsequente do feiticeiro e sim uma guerra entre o rei e um general invasor, que é derrotado e batizado, lembrando as cheganças. Em Goiás, o congado é uma embaixada da princesa Migúcia ao rei seu primo que recebe com armas o enviado e depois de breve escaramuça o proclama duque e mirante mor”.

O regionalismo desempenha, então, função muito importante, sobretudo num país de tão notáveis disparidades regionais como é o Brasil. O mesmo assunto folclórico apresenta variantes interessantes, de região a região. O ambiente físico e geológico muito contribuem para tal. Daí o necessário estudo das bases regionais da cultura para a formação de uma verdadeira consciência do folclore. Os próprios nomes são regionais, o que leva o pesquisador ao estudo comparativo dos usos, costumes e folguedos, para as distinções entre um caso e outro. Por exemplo: O que seria maracatu? É o mesmo Luís da Câmara Cascudo quem diz: “Os maracatus são desfiles pomposos de um soberano negro com sua corte, bichos, totens, a umbela muçulmana rodando sempre, ornamental e privativa dos reis, ostentação magnífica de movimento e cor, seguida de cantigas com ou sem ligação com os personagens”.
Terminemos esta série de artigos sobre congado com o próprio autor do Dicionário do folclore brasileiro: “As representações do rei de Congo, eram comuns em Portugal, e Teófilo Braga, citando João Pedro Ribeiro, refere à festa de Nossa Senhora do Rosário, no Porto: ‘ Acabou, porém, já no Porto outra mascarada, em que se representava a corte del Rei de Congo, com seu rei e rainha e imaginária corte, com que os pretos se persuadiam render culto à sua padroeira, a Senhora do Rosário, função muito apreciada dos rapazes e que durava três dias de julho’ (O povo português e seus costumes, crenças e tradições, v.1, Lisboa, 1855, p.313)”.
Wilson de Lima Bastos. “Congado”. Lux Jornal. 02 de outubro de 1966 (Transcrito de Jangada Brasil)

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