Tarcisio
Rosas (Sociólogo
e membro do IHGRN)
Observando o profundo
desgaste que acomete o prédio do Atheneu Norte-rio-grandense, de há muito
carente de reforma e adaptações (para cadeirantes, por exemplo), torna-se difícil
entendê-lo como um marco no processo educacional brasileiro no passado longínquo.
Difícil mas não impossível, posto que a história nos relata este fato, como se
segue.
Com efeito, o Colégio
Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense foi fundado em 1833 e instalado em 03
de fevereiro de 1834, estabelecendo-se, assim, como o mais antigo em atividade
no Brasil (precede ao Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, este datado de 1837,
com implantação e consequente início de funcionamento no ano posterior), pelo
então presidente da Província Basílio Quaresma Torreão, idealizador da iniciativa, e que se constituiria o seu
primeiro diretor-geral. Objetivava congregar num só núcleo de ensino as
disciplinas da cadeira de humanidades, assim chamado o estudo das letras
clássicas, também designadas como Aulas Maiores, compreendendo latim,
filosofia, francês, geometria e retórica. Preexistentes em Natal mas de forma
autônoma, estanque, desvinculadas totalmente entre si, conforme assinala CÂMARA
CASCUDO: "Em Natal havia as Aulas Maiores, latim, filosofia, francês,
geometria e retórica. O presidente Basílio Quaresma reuniu-as, fundando o Atheneu
do Rio Grande do Norte, instalado a 3.2.1834" (1984, p. 265).
A escolha do nome,
aliás bastante sugestiva, provém do grego Athénaion, "templo de
Atena" (Atenéia ou Palas Atenéia, em latim Minerva, deusa da sabedoria).
Pretendia ele, outrossim, plasmar e projetar a representação mental de que o
Atheneu era, ou seria a partir dali, a "casa da sabedoria, fiel a seu destino
alto e puro".
Submetido à
apreciação de um conselho consultivo, o plano foi prontamente aprovado. Dentre
os nomes que compunham referido conselho, todos de relevância política e
cultural para os padrões da época, destacamos os do Cel. Joaquim José do Rego
Barros, que presidira a Junta Constitucional Provisória (1822), Cel. Luis de
Albuquerque Maranhão, que integrara citada Junta, e o de Padre Manoel Pinto de
Castro, irmão de Padre Miguelinho e político de expressão no início do regime
imperial e que, por sua vez, presidira a Junta de Governo Provisório
(1822-1824).
Sua instalação e
consequente início de funcionamento ocorreu em dependências da corporação
militar, no âmbito da Igreja de Santo Antônio dos Militares (a polícia do
estado só seria criada em 1836), ali permanecendo até março de 1859, quando foi
transferido para um prédio da Rua da Cruz (depois Av. Junqueira Aires, hoje
Câmara Cascudo), onde atualmente funciona a Secretaria Municipal de Tributação.
Neste último cumpriria sua missão até 1954, quando passaria às instalações
definitivas, em Petrópolis, na Rua Campos Sales.
Assim surgiu o
Atheneu, há 180 anos. Vê-se, não é uma falácia dizer-se que este colégio detém
o pioneirismo no ensino secundário no
Brasil, em que pese o descaso com que tem sido tratado por sucessivas
administrações. Requer urgentes reparos de manutenção e reforma para que,
atendidas as não menos urgentes necessidades do professorado, novas levas de
estudantes venham perenizar-lhe o dístico sonhado em sua origem.
Referências
bibliográficas
CÂMARA
CASCUDO, Luís da. História do Rio Grande do Norte, 2ª Ed. Rio de Janeiro:
Fundação José Augusto/Ed. Achiamé, 1984.
Fonte eletrônica:
Http://nataldeontem.blogspot.com/2008/10/o-atheneu-norte-riograndense-texto.html
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