Luciano
Capistrano
Professor:
Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador:
Semurb
1964: aconteceu em abril*
(Para Mailde)
Abril tempos de repensar
Falar é necessário
Democracia liberdades em risco.
52 anos de uma legalidade interrompida
Dias sombrios
Golpe não revolução!
21 anos de obscurantismo
Torturas
Prisões
Desaparecidos políticos!
(Luciano Capistrano)
*Livro de Mailde Pinto Galvão.
Sim,
foi golpe! Em 1964 o Brasil sofreu um golpe de estado, forças militares aliadas
a setores da sociedade civil, sobre o olhar e a participação do embaixador
norte americano, Lincoln Gordon, destituíram da presidência João Goulart,
interrompendo de forma violenta um mandato eleito democraticamente. Neste
sentido, amigo velho, me alinho a outros historiadores que apontam o movimento
militar/civil de 1964, como a interrupção de um governo democraticamente
eleito, por força de um golpe de estado. Pois diferente de uma revolução, o que
aconteceu no Brasil foi uma quartelada. Compreendo a revolução e o golpe de
estado como algo distinto:
[...]
enquanto a revolução é uma modificação radical das estruturas econômicas e
sociais, o golpe, em geral, é apenas a substituição pura e simples das elites
no poder, quase sempre levado a cabo pelas chamadas elites orgânicas, ou seja,
as elites inseridas no próprio Estado, como os burocratas e os militares.
(SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos
Históricos. São Paulo: Editora Contexto, 2014, p.175)
A
ruptura da ordem é a única semelhança entre “revolução” e “golpe”, fora este
dado conceitual, nada, nada mesmo indica a instauração de um governo
revolucionário em abril de 1964 no Brasil. O que ocorreu, me permitam a
repetição, foi um golpe de Estado. Hoje existe entre os historiadores uma
certeza quanto a isso, alguns ainda dizem “golpe preventivo” ou “contragolpe”,
na verdade aconteceu a implantação de um regime autoritário a serviço dos
interesses do grande capital nacional e internacional.
O
que assistimos no Brasil em 1964, foi um pacto firmado entre a elite econômica
e política resultado do fracasso da chamada “política populista”, não mais
satisfazendo os interesses da classe dominante, partem para a solução
autoritária com os objetivos nítidos de manter intactos os anseios por “fatias”
importantes das riquezas nacionais por parte dos setores empresariais,
principalmente o capital externo. Diz o sociólogo Eliézer Oliveira, sobre as
razões do golpe de Estado:
Neste
sentido, ao radicalizarem-se as posições políticas em função do esgotamento do
pacto populista, o Estado, ao mesmo tempo em que se torna o objetivo da ação
estratégica dos interesses contraditórios das classes ( e dos diferentes
setores das classes dominantes), conhece uma crise na sua legitimidade, na
medida em que não mais esconde seu caráter de classe ( do ponto de vista das
classes trabalhadoras) nem apresenta condições para garantir a dominação
capitalista ( do ponto de vista dos interesses das classes burguesas). A
conjuntura da crise de 1964 evidencia ambos os fatores, além de apontar para o
fato de que as articulações golpistas consideravam à articulação de um novo
arranjo político e de um novo modo de acumulação, no qual predominariam os
setores vinculados ao capital internacional. (OLIVEIRA, Eliézer R. de. As
Forças Armadas: política e ideologia no Brasil -1964/1969. Petrópolis: VOZES, 1976,
p.51)
Os
caminhos diante da crise institucionalizada por meio dos meios de comunicação
da época, assinalava um clima de desconfiança da classe média e dos setores
conservadores da sociedade diante do governo de caráter populista de Jango,
alçado ao cargo de Presidente da República depois da renúncia de Jânio Quadros,
serviu de campo fértil para os arquitetos do golpe instalados em diversas
instituições a se destacar o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática –
e o IPES – Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, por exemplo, forneciam
recursos financeiros e “ideológicos” aos diversos setores da classe média numa
campanha contra o governo “comunista” de João Goulart, na verdade eram,
organizações financiadas com capital do empresariado brasileiro e internacional
avido por derrubar um governo legitimo, diante das mobilizações em defesa das
ditas reformas de base.
A
sociedade civil, grande parcela da população, teve um papel importante na
consumação do golpe de Estado, é fato. Agora, faz necessário pensar na
mobilização dos “descontentes” com o governo do Presidente João Goulart, sobre
dois aspectos fundamentais, o clima vivido na época da “Guerra Fria”, com toda
a propaganda anticomunista patrocinada pelo EUA, e, a quantidade de recursos
financeiros fomentadores dos grupos “críticos” ao governo. Em 1964: a conquista
do Estado, Dreifuss, é bem claro ao informar a origem dos apoiadores de
movimentos como a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
A
ideia da organização da marcha fora defendida pelo deputado Federal Antônio
Silvio Cunha Bueno (rico proprietário de terras e diretor da Willys do Brasil),
pela Deputada Conceição da Costa Neves, José Carlos Pereira de Souza (alto
funcionário da Confederação Nacional do Comércio), Irmã Ana de Lourdes e Oscar
Thompson Filho (Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, político do
PSD e homem de confiança do governador Adhemar de Barros). De fato, a
organização da marcha se realizou no prédio da Sociedade Rural Brasileira –
SRB, sob a supervisão de ipesianos, que eram membros da Associação Comercial,
da Federação das Indústrias, da Federação das Associações Rurais, do Clube de
Diretores Lojistas e do estado-maior civil-militar do IPES. (DREIFUSS, René
Armand. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis: VOZES, 1981, p. 297-298)
As
forças civis e militares que assaltaram o poder no Brasil, tinham como motivo
os interesses do grande capital nacional e estrangeiro, manteve-se as
estruturas fundiárias, abriu-se o mercado de vez para as multinacionais.
Ao
instaurar a Junta Militar, com a deposição de João Goulart, as liberdades foram
sufocadas, a lei do silêncio imperou por 21 anos de governos dos Generais
Presidentes, tempos em que a tortura fez morada nos órgãos de segurança do
Estado. Fez-se noite sombria na pátria brasileira.
Noite sombria
1970 fez noite sombria,
tempo dos Generais Presidentes,
década do Brasil Ame ou deixe,
gritos, torturas, prisões ilegais,
julgamentos sumários,
morre-se nos calabouços,
corre o tempo, sufoca a fala,
sinal fechado, perigo,
morte na esquina,
agoniza Herzog, fantasiam suicídio,
desaparece Luiz Maranhão.
Sangue escorre na pátria amada,
mãe gentil, filhos deste solo partem,
tempos de exilio,
nos quarteis ordenam, dizem,
ordem e progresso,
torturam brasileiros,
tudo é proibido, apenas é permitido
dizer amém, noite sombria.
(Luciano Capistrano)
Finalizo
com uma provocação, em tempos de crise o Brasil precisa de uma overdose de
DEMOCRACIA e não de uma intervenção militar. Golpe Nunca Mais. 1964, um ano,
muitas reflexões
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