17 de abril de 2017

1964, um ano, muitas reflexões


Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Semurb

1964: aconteceu em abril*
(Para Mailde)

Abril tempos de repensar
Falar é necessário
Democracia liberdades em risco.
52 anos de uma legalidade interrompida
Dias sombrios
Golpe não revolução!
21 anos de obscurantismo
Torturas
Prisões
Desaparecidos políticos!
(Luciano Capistrano)
*Livro de Mailde Pinto Galvão.

            Sim, foi golpe! Em 1964 o Brasil sofreu um golpe de estado, forças militares aliadas a setores da sociedade civil, sobre o olhar e a participação do embaixador norte americano, Lincoln Gordon, destituíram da presidência João Goulart, interrompendo de forma violenta um mandato eleito democraticamente. Neste sentido, amigo velho, me alinho a outros historiadores que apontam o movimento militar/civil de 1964, como a interrupção de um governo democraticamente eleito, por força de um golpe de estado. Pois diferente de uma revolução, o que aconteceu no Brasil foi uma quartelada. Compreendo a revolução e o golpe de estado como algo distinto:
[...] enquanto a revolução é uma modificação radical das estruturas econômicas e sociais, o golpe, em geral, é apenas a substituição pura e simples das elites no poder, quase sempre levado a cabo pelas chamadas elites orgânicas, ou seja, as elites inseridas no próprio Estado, como os burocratas e os militares. (SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Editora Contexto, 2014, p.175)

            A ruptura da ordem é a única semelhança entre “revolução” e “golpe”, fora este dado conceitual, nada, nada mesmo indica a instauração de um governo revolucionário em abril de 1964 no Brasil. O que ocorreu, me permitam a repetição, foi um golpe de Estado. Hoje existe entre os historiadores uma certeza quanto a isso, alguns ainda dizem “golpe preventivo” ou “contragolpe”, na verdade aconteceu a implantação de um regime autoritário a serviço dos interesses do grande capital nacional e internacional.
            O que assistimos no Brasil em 1964, foi um pacto firmado entre a elite econômica e política resultado do fracasso da chamada “política populista”, não mais satisfazendo os interesses da classe dominante, partem para a solução autoritária com os objetivos nítidos de manter intactos os anseios por “fatias” importantes das riquezas nacionais por parte dos setores empresariais, principalmente o capital externo. Diz o sociólogo Eliézer Oliveira, sobre as razões do golpe de Estado:
Neste sentido, ao radicalizarem-se as posições políticas em função do esgotamento do pacto populista, o Estado, ao mesmo tempo em que se torna o objetivo da ação estratégica dos interesses contraditórios das classes ( e dos diferentes setores das classes dominantes), conhece uma crise na sua legitimidade, na medida em que não mais esconde seu caráter de classe ( do ponto de vista das classes trabalhadoras) nem apresenta condições para garantir a dominação capitalista ( do ponto de vista dos interesses das classes burguesas). A conjuntura da crise de 1964 evidencia ambos os fatores, além de apontar para o fato de que as articulações golpistas consideravam à articulação de um novo arranjo político e de um novo modo de acumulação, no qual predominariam os setores vinculados ao capital internacional. (OLIVEIRA, Eliézer R. de. As Forças Armadas: política e ideologia no Brasil -1964/1969. Petrópolis: VOZES, 1976, p.51)
           
            Os caminhos diante da crise institucionalizada por meio dos meios de comunicação da época, assinalava um clima de desconfiança da classe média e dos setores conservadores da sociedade diante do governo de caráter populista de Jango, alçado ao cargo de Presidente da República depois da renúncia de Jânio Quadros, serviu de campo fértil para os arquitetos do golpe instalados em diversas instituições a se destacar o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática – e o IPES – Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, por exemplo, forneciam recursos financeiros e “ideológicos” aos diversos setores da classe média numa campanha contra o governo “comunista” de João Goulart, na verdade eram, organizações financiadas com capital do empresariado brasileiro e internacional avido por derrubar um governo legitimo, diante das mobilizações em defesa das ditas reformas de base.
            A sociedade civil, grande parcela da população, teve um papel importante na consumação do golpe de Estado, é fato. Agora, faz necessário pensar na mobilização dos “descontentes” com o governo do Presidente João Goulart, sobre dois aspectos fundamentais, o clima vivido na época da “Guerra Fria”, com toda a propaganda anticomunista patrocinada pelo EUA, e, a quantidade de recursos financeiros fomentadores dos grupos “críticos” ao governo. Em 1964: a conquista do Estado, Dreifuss, é bem claro ao informar a origem dos apoiadores de movimentos como a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
A ideia da organização da marcha fora defendida pelo deputado Federal Antônio Silvio Cunha Bueno (rico proprietário de terras e diretor da Willys do Brasil), pela Deputada Conceição da Costa Neves, José Carlos Pereira de Souza (alto funcionário da Confederação Nacional do Comércio), Irmã Ana de Lourdes e Oscar Thompson Filho (Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, político do PSD e homem de confiança do governador Adhemar de Barros). De fato, a organização da marcha se realizou no prédio da Sociedade Rural Brasileira – SRB, sob a supervisão de ipesianos, que eram membros da Associação Comercial, da Federação das Indústrias, da Federação das Associações Rurais, do Clube de Diretores Lojistas e do estado-maior civil-militar do IPES. (DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis: VOZES, 1981, p. 297-298)

            As forças civis e militares que assaltaram o poder no Brasil, tinham como motivo os interesses do grande capital nacional e estrangeiro, manteve-se as estruturas fundiárias, abriu-se o mercado de vez para as multinacionais.
            Ao instaurar a Junta Militar, com a deposição de João Goulart, as liberdades foram sufocadas, a lei do silêncio imperou por 21 anos de governos dos Generais Presidentes, tempos em que a tortura fez morada nos órgãos de segurança do Estado. Fez-se noite sombria na pátria brasileira.

Noite sombria

1970 fez noite sombria,
tempo dos Generais Presidentes,
década do Brasil Ame ou deixe,
gritos, torturas, prisões ilegais,
julgamentos sumários,
morre-se nos calabouços,
corre o tempo, sufoca a fala,
sinal fechado, perigo,
morte na esquina,
agoniza Herzog, fantasiam suicídio,
desaparece Luiz Maranhão.
 Sangue escorre na pátria amada,
mãe gentil, filhos deste solo partem,
tempos de exilio,
nos quarteis ordenam, dizem,
ordem e progresso,
torturam brasileiros,
tudo é proibido, apenas é permitido
dizer amém, noite sombria.
 (Luciano Capistrano)

                Finalizo com uma provocação, em tempos de crise o Brasil precisa de uma overdose de DEMOCRACIA e não de uma intervenção militar. Golpe Nunca Mais. 1964, um ano, muitas reflexões


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