21 de março de 2017

QUANDO O BRASIL COMEÇOU A FALAR



Bené Chaves

                   As primeiras experiências sonoras no país foram realizadas entre 1927/29 através de filmes (curtos) produzidos por Luis de Barros, Paulo Benedetti e outros. E nossa primeira fita de longa-metragem(falada, evidentemente) foi ‘Acabaram-se os otários’(29), dirigida pelo Luis de Barros, enquanto o primeiro filme-revista viria logo depois com ‘Coisas Nossas’(30/31), do norte-americano Wallace Downey, que era o diretor da Colúmbia e representante local de Byington & Company.
                   O som, finalmente, seria dominado  com ‘Carnaval em 1933’ que a equipe de Fausto Muniz realizara. A seguir lançaram ‘A voz do carnaval’, uma realização da dupla Ademar Gonzaga e Humberto Mauro com equipamentos já importados. E em 1935, associando-se ao Downey, Gonzaga inaugurava o filme pré-carnavalesco ‘Alô, alô Brasil’ e no ano seguinte repetiria a dose com ‘Alô, alô Carnaval’ que teve maior sucesso e formaram as primeiras platéias do cinema brasileiro.
                   No mesmo ano o Oduvaldo Viana fazia ‘Bonequinha de seda’, pretendendo, com padrões técnicos sofisticados, transplantar o modelo hollywoodiano para nossa região. Seu outro filme(‘Alegria’) ficaria inacabado em face de um desentendimento com o Ademar Gonzaga.
                   Mas, foi em 1937 que três películas anunciaram a maturidade do som: o cineasta Humberto Mauro realiza obra de reconstituição histórica em ‘O descobrimento do Brasil’; o Raul Roulien(‘Aves sem ninho’/39)  faz
‘Grito da mocidade’ e tenta mostrar que aprendeu o dinamismo americano; e Mesquitinha realiza obra de inspiração chapliniana com ‘João ninguém’. Contudo, a produção de filmes de ficção que já era diminuta na década de 30, quase acabou no início da seguinte.
                   Entre os anos de 1944/54 surgiram Oscarito e Grande Otelo que encarnaram a gíria do momento e estabeleceram um primeiro clima de intimidade com o público. Filmes como ‘Carnaval no fogo’(Watson Macedo), ‘De vento em popa’ / ‘O homem do Sputnik’, ambos de Carlos Manga e ‘É com este que eu vou’(José Carlos Burle) mostraram os (tre)jeitos desengonçados dos dois grandes humoristas da época.
                   No entremeio, contudo, apareceram também as figuras de Ankito e Zé Trindade. Foram todos eles, sem dúvida, os primeiros nomes de bilheteria das ditas ‘chanchadas nacionais’. Porém, acredito que sim, nenhum que se comparasse ao iniciante ator de origem luso-espanhola.
                   Também e paralelamente(na década de 50)começaram a surgir novas mentalidades. Um grupo de jovens rebelou-se contra o falso populismo das chanchadas e produções advindas da Vera Cruz. E fitas como ‘Agulha no palheiro’(Alex Viany, 53),‘O canto do mar’(Alberto Cavalcanti, 54), ‘Rio 40 graus’(Nelson P. dos Santos, 55), ‘O grande momento’(Roberto Santos, 58) e outras, começaram a aflorar na nossa cinematografia.
                   Em documentários (curtos) como ‘Arraial do Cabo’(Paulo César Sarraceni, 59) e ‘Aruanda’((Linduarte Noronha, 60); em ficção como ‘Couro de Gato’(J. Pedro de Andrade, 60) e ‘O menino da calça branca’(Sérgio Ricardo, 61), o movimento tenderia a tomar forma mais precisa. E por volta do começo dos anos 60 já se falava no que seria chamado de Cinema-Novo.
                   Filmes muitos surgiram e contribuíram para a renovação do nosso cinema brasileiro, como ‘Barravento’(Glauber Rocha, 61), ‘Porto das Caixas’( Sarraceni, 62), ‘Os Cafajestes(Rui Guerra, 62), ‘O pagador de promessas’(Anselmo Duarte, 62) e outros. Daí em diante, portanto, o lema seria de ‘uma câmera na mão e uma idéia na cabeça’, sentença proferida pelo Glauber Rocha e contestada por alguns que se diziam independentes.
                   Mas, ‘o que a gente pode ver hoje é que o resultado principal do Cinema-Novo foi a afirmação cultural do cinema brasileiro’, dizia depois o Nelson Pereira dos Santos. E a sua maturidade foi atingida, principalmente, a partir de ‘Vidas Secas’(1963), versão baseada no vigoroso romance de Gaciliano Ramos e que o próprio Nelson dirigiu.      
                   Então, a literatura de cordel, os cantadores das feiras nordestinas, o mundo mítico e místico de um povo sofredor e fanático nas suas crenças religiosas e sempre atuantes, fizeram surgir um mentor que já iniciara a visão de um período. E reaparece o Glauber Rocha com ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’(1964), para alguns, o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Acreditamos que tal fita imortalizou o saudoso cineasta.
                   Tivemos, a partir deste momento, alguns nomes importantes na cinematografia nacional.  Bom... Porém aí já é outra história...     
                         


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