Marcha dos Trabalhadores, 10 de novembro de 1938 - Avenida Deodoro -
Hospital Infantil Varela Santiago
Praça Sete de Setembro
Rua João Pessoa com avenida Rio Branco
Luciano Capistrano
Professor: Escola
Estadual Myriam Coeli
Historiador: Parque da
Cidade
Em minhas andanças nas
salas do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, IHGRN, em
meados de 2008/2009, historiador da SEMURB, me deparei com uma série de
fotografias de cenas da cidade de Natal. Eram imagens da Avenida Rio Branco com
a Rua João Pessoa, imagens da Avenida Deodoro, e, outras da Ribeira, nas imediações
da Praça Augusto Severo até a subida da Avenida Junqueira Ayres, hoje, Avenida Câmara
Cascudo. Fotos datadas de 10 de outubro de 1938.
O que chamou a atenção,
minha e dos estagiários que me acompanhavam nesta pesquisa no IHGRN, foram as
faixas de apoio e celebração por um ano de instalação do Estado Novo. Vários
sindicatos de trabalhadores, de todo o Rio Grande do Norte, participaram deste
desfile pelas principais ruas da capital, numa clara demonstração de adesão ao
projeto político do Presidente Getúlio Vargas.
A cidade palco da
primeira insurreição comunista da américa - em novembro de 1935 ocorreu em Natal a Revolta
Comunista -, vivia em outros tempos, sindicatos e o governo intervencionista
demonstrava nas ruas o apoio ao ditador do Estado Novo, Getúlio Vargas, reflexo
do cenário nacional, como sinalizou Oscar Pilagallo:
Os
sindicatos, previsivelmente, também estavam com Getúlio. O presidente golpista
ainda não fixara a imagem de “Pai dos Pobres”, mas desde o início da década era
popular entre as camadas de menor renda. A Revolução de 30 pusera na agenda a
questão trabalhista, criando um ministério para tratar do assunto. Os
sindicatos foram colocados sob a tutela de Getúlio. De um lado, os
trabalhadores obtinham vantagens corporativas determinadas pela legislação; de
outro, submetiam-se ao controle ideológico. (PIGALLO, p. 83)
As fotos não deixam
dúvidas quanto a influência getulista no movimento sindical norte-rio-grandense,
o que corrobora com a afirmação do jornalista Pigallo, sobre as relações do
governo com os movimentos sociais. Além do mais, existia toda uma máquina
governamental movendo suas “garras” sobre os trabalhadores. Assim se expressa,
o historiador Sérgio Trindade, sobre a relação do governo com os movimentos
sociais:
Satisfazendo
as reivindicações dos trabalhadores urbanos por meio de uma legislação
trabalhista muito ampla, o presidente aproximava-se das camadas populares.
Foram concedidos benefícios aos trabalhadores como forma de eliminar possíveis
reivindicações, afastando assim a possibilidade de uma participação mais ativa
dos trabalhadores na política. Também foi estabelecido um rígido controle sobre
os sindicatos, submetidos ao Ministério do Trabalho e aos pelegos. (TRINDADE,
p.292)
Faço essas
considerações iniciais para convidar a reflexão sobre o uso da fotografia como
fonte histórica importante, a muito já não se discute a foto como documento
histórico, neste sentido, apenas me alinho aos historiadores que utilizam a
fotografia, não apenas como “ilustração” da pesquisa, ou do texto final, a
fotografia, a imagem, tem um papel fundamental enquanto documento histórico,
assim, não se trata de ilustrações, mas, sim de fonte documental. Compreendo:
A
imagem retida pela fotografia (quando preservada ou reproduzida) fornece o
testemunho visual e material dos fatos aos espectadores ausentes da cena. A
imagem fotográfica é o que resta do acontecido, fragmento congelado de uma
realidade passada, informação maior de vida e morte, além de ser produto final
que caracteriza a intromissão de um ser fotografo num instante dos tempos.
(KOSSOY, p.22)
A
Praça Augusto Severo, toda arborizada, com arvores de grande porte, ao longe o
Grande Hotel, são vestígios eternizados nos clicks, de um 10 de novembro de
1938, fotos realizadas para apresentar a participação popular, através dos
sindicatos, nos festejos comemorativos de um ano de instauração do Estado Novo,
hoje essas imagens captadas naquele distante 10 de novembro, nos diz muito da
cidade.
Ao
acompanhar o desfile dos trabalhadores, fazemos uma viagem por ruas, prédios,
vestuários, enfim, encontramos uma gama de informações a nos ajudar a
compreender as transformações urbanas ocorridas na cidade de Natal. Os trilhos,
caminhos do bonde, as linhas arquitetônicas, tudo caracterizando a Natal da
década de 1930, uma cidade ainda não impactada com os efeitos da Segunda Guerra
Mundial.
A
cidade de Natal, vista através da lente de um fotografo anônimo (não consegui
identificar o autor das imagens), surgi em movimento, pessoas, faixas, ações
cotidianas, tradutora do fazer de sua gente, no hotel Avenida, nos trilhos do
bonde cortando a Rio Branco e a João Pessoa, a Praça Augusto Severo, e, suas
arvores a simbolizarem uma cidade em um determinado tempo. Muito mais do que a
manifestação celebrando um ano de Estado Novo, a série de fotografias,
encontrada nos arquivos do IHGRN, abrem
horizontes sobre a cena urbana da capital Potiguar.
Amigo
velho, este, “Uns clicks, uma cidade a descortinar”, é um artigo em construção,
o objetivo é fazer um diálogo entre a fotografia e a história, acreditando
contribuir para a construção de uma melhor compreensão da fotografia como fonte
documental. Façamos o diálogo.
REFERENCIA
PIGALLO, Oscar. A história do Brasil no
século 20 (1920-1940). São Paulo: Publifolha, 2009.
KOSSOY, Boris. Fotografia e história.
São Paulo: Ática, 1989.
TRINDADE, Sérgio Luiz Bezerra. História
do Rio Grande do Norte. Natal: Sebo Vermelho, 2015.
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