Luiz Gonzaga Cortez.
Nós somos copiadores e
imitadores. E preconceituosos. De quê? De tudo. Mas, um lembrete: vou escrever
sobre o comportamento dos nossos ilustres colegas jornalistas brasileiros. Além
da decadência do jornalismo investigativo, aliás, acompanhando o rumo (ou sem
rumo?) da grande imprensa do eixo Rio de Janeiro - São Paulo-Brasília, que de “grande
imprensa” só tem a fama, os repórteres e redatores dos jornais potiguares foram
contaminados pelo vírus da copiação, da imitação e da cultura preconceituosa. E
imitam errado. Como, rapaz, diga aí?
Vamos devagar.
Observem o noticiário da imprensa
do eixo que antigamente era chamado de “sul
maravilha” e as notícias dos jornais diários da província potengina sobre
um assunto atual: a caixa com os gravadores do avião da Air France que caiu no
Oceano Atlântico em 2009, no trajeto Rio de Janeiro-Paris. Essas caixas são laranjas (outros dizem que
são rosas, vermelhas), mas os jornais e
televisões do Brasil chamam-nas de “caixas pretas”. Elas sempre foram laranjas
para facilitar a sua identificação na terra e no mar e em qualquer lugar do
planeta.
Você já pensou uma caixa preta no fundo do oceano, a três, quatro ou
cinco metros de profundidade, ao lado ou dentro de possíveis vegetações
marinhas? Claro, seria mais difícil a sua localização. Mas, todos os
comunicadores já estão habituados a tachar de preta, negra ou preto os eventos
e acontecimentos ruins. Recentemente, a Tribuna do Norte fez uma chamada de primeira
página intitulada de “noite negra no
futebol brasileiro”, se reportando as derrotas de times do América e do Grêmio,
no Brasil e num país vizinho.
E a matéria na página interna acompanhava a
chamada de capa. Essa “cultura” já está incorporada na imprensa nacional? Creio
que sim. “A coisa tá preta”, uma expressão preconceituosa que ouvimos desde
criança, é dito quando se refere a uma situação ruim, difícil e desagradável.
Ou exemplo: estive numa casa de
câmbio no “Praia Shoping”, na avenida Roberto Freire, e vi um pequeno cartaz
com os seguintes dizeres: “Mercado negro
é crime federal”. Aí eu pergunto: onde
está o mercado branco, o mercado amarelo? Cambiar moedas estrangeiras se faz em
qualquer esquina deste país, nas calçadas de bancos particulares e estatais. A
moda agora é cambiar nos bares e restaurantes chiques, digo, freqüentados por
pessoas de maior poder aquisitivo. O cartaz da casa de cambio não poderia se
referir ao criminoso mercado paralelo?
È por isso que concordo com
Alberto Einstein (1879-1955), cientista alemão naturalizado americano, quando
disse que “è mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
Além de preconceituosa, a
imprensa e a mídia nacional é imitadora e copiadora do que se diz, do que se veste, do que se usa, no
estrangeiro. E nós embarcamos nessa canoa. Estamos copiando o que se diz e se
faz nas televisões do novo “Eixão”
(Rio de Janeiro-São Paulo-Brasília). Querem um exemplo? Trocaram a palavra
comum por recorrente. Quando querem
dizer que o caso é comum, os empavonados apresentadores e noticiaristas da
Globo e das demais redes de televisão dizem que o caso é recorrente.
Mestre
Aurélio diz que recorrente é quem recorre de um feito judicial, de uma sentença para outra instância
superior, etc. Vejam os dicionários. E substituíram a palavra classificação por
“ranking” (palavra americana que significaria colocação nos campeonatos de
voleibol nos EUA). Em tempo: Cascudo, na
década de 30, escreveu que copiamos tudo do estrangeiro. Menino, essa cultura
obtusa é antiga...
Luiz Gonzaga Cortez, jornalista.
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