Bené Chaves
Tudo começou com
invencionices, partindo da premissa de que o universo fora criado em apenas uma
semana. Se for verdade, o que eu não acredito, nunca soube de outra tamanha
engenhosidade. Mas, deixa isso pra lá. Afinal de contas todas as coisas não
passam de símbolos, ilusões e desilusões. E entre o fictício e o verdadeiro
pode existir um curto caminho. Sei, porém, que a caverna abrigou a geração
precípua, o labrego, primeiros sinais de desenvolvimento e adaptação aos
costumes terrestres.
As
pedras apareceram, os insetos se acasalaram e os rudes se mesclaram. E surgiu,
então, o homo-sapiens. Depois emergiu a estória de Adão e Eva.
Mas foi tudo somente estultícia, porque o primeiro homem comeu –não
literalmente – a primeira mulher, claro. E eles, Adão e Eva, nunca souberam
disso.
Coisa de acasalamento dos
tempos idos, selvageria de antanho, que, acho, não deve ser muito diferente da
atual. Apenas diverge quanto ao meio ambiente.
Não
é mesmo tudo uma trapaça?
Daí
surgiram novos povos, a linguagem tomou impulso e aprenderam a cultivar a
terra. E o chafurdo iniciou.
Nada
tenho a ver com feitos anteriores, suposições, superstições ou fés inabaláveis.
Apenas acho que são calabouços que nos prendem ao infinito. Somos mesmos uns
tontos a perambular algures, alhures, indefinidos e perplexos ante a magnitude
de um universo em decomposição.
Enquanto
digo isso, em lugares estranhos à nossa percepção visual, acontecem as mais
esquisitas façanhas, manhas e artimanhas. Milhões de pessoas morrem de fome,
existe guerra, autodestruições, desespero, desamor e, conseqüentemente, a não
solidariedade ao próximo. E o ser (dito) humano continua a trair seus
semelhantes em farsas, hipocrisias e delações.
O mundo, portanto, surgiu a emaranhar,
a confundir e até a consagrar cousas, lero-lero e lousas. Em um arrebatamento
contínuo também de mediocridade. E o que
eu sei? Posso dizer apenas que ele foi inventado
e não criado.
Nestas crônicas que reúno agora em um livro, pouca coisa foi criada
de novo e algumas foram inventadas mesmo. Noutras, porém,
houve uma mistura de ficção e realidade. E tudo começou quando eu inventei
no ano de 1982 uma cidade chamada Gupiara e lancei em 1986 o livro ‘O que
aconteceu em Gupiara’. Daí em diante ela se tornou a cidade de meus sonhos, de
minha infância e da adolescência. Talvez a Natal da atualidade...
Antes,
porém, no ano de 1979, lancei o meu primeiro livro de ficção. ‘A explovisão’ reuniu
alguns contos como uma experiência na arte de tentar escrever algo. Depois, já
em 1984, publiquei outra coletânea, aqui partindo mais para a temática de
interesse social. E surgiu ‘Castelos de areiamar’, fazendo eu uma mesclagem e
mostrando relatos variados, desde a vida do povo sofrendo as intempéries da
vida e também discorrendo acontecimentos da existência do mesmo. Era uma
tentativa entre a realidade e a ilusão.
Em
1986 publiquei o livro ‘O que aconteceu em Gupiara’, já mencionado aqui. Dei,
então, um pulo de 11 anos e escrevi, no ano de 1997, uma pequena novela de
cunho surrealista de nome ‘O menino de sangue azul’. Era mais uma tentativa do
tal ‘realismo mágico’ e também com pretensões de mostrar certa inovação na parte
literária. Tentei valorizar a estrutura narrativa com alguma criatividade na
linguagem coloquial.
No
ano de 2001 publiquei o romance ‘A mágica ilusão’ e adentrei na autobiografia.
Lembranças de minha infância, adolescência e o amor pelo cinema. Retratos do
dia-a-dia, dramas cotidianos, as ilusões
e também os idealismos da juventude.
Em
2003 tentei a poesia e publiquei ‘Cinzas ao amanhecer’, alguns poemas
experimentais borbulhando entre o melancólico e o existencial. Temas da
brevidade da vida, das impossibilidades e da temível velhice. E alguns versos
também sutilmente eróticos.
Depois de dez anos, portanto, vão aqui
cinqüenta textos e que fazem parte do
livro ‘Crônicas docemente amorosas’(2013),
contando pequenos episódios de uma experiência de vida minha, mas que
também pode ser de todos vocês. Quem já não se deliciou ou se iludiu com
grandes amores em suas vidas desde uma pré-adolescência? Quem não viveu uma
infância de encantos e também atropelos? Porém muito tem de verdade mesmo em
tudo que exponho, assim como de utopia e também de uma mesclagem entre um fato
e outro. Afinal a vida se resume nisso, entre o imaginário e o autêntico.
Eis
aí uma pequena amostragem dos livros que publiquei até o presente ano. As
edições iniciais eu acho que é difícil alguém ainda encontrar por aí. Ficam as
lembranças do que foi dito e não dito.
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