Por Ciro Leandro Costa da
Fonsêca*
O filósofo Walter Benjamin
em seu célebre ensaio O Narrador nos apresenta dois tipos: o narrador
sedentário, que não saiu da sua terra e conhece pelo convívio o seu povo e as
suas tradições; e o narrador viajante, este que sai para conhecer outras
terras, outros mundos e quando volta a sua terra natal traz na bagagem do
viajante muitas histórias e personagens para compartilhar com os membros do seu
grupo.
Franklin Jorge segue a esteira não só
do gênero em que Benjamin categorizou os dois tipos de narradores, mas como a
encarnação de ambos. Sedentário, por ser um sertanejo que conhece bem o seu
Brasil, um nordestino observador das tradições e da cultura da sua gente, mas
viajante pela sua terra como um antropólogo atento, um etnógrafo pronto a
transmitir pela pena o que os ouvidos lhe oportunizaram. Viajante pela sua
terra e por outras Terras Prometidas, como vislumbrou Ítalo Calvino, as terras
literárias visitadas por olhos sensíveis leitores.
A literatura estrangeira
buscada como a terra prometida, numa travessia que permitiu o retorno e a
transmissão memorial das leituras através da pena. Nessa trajetória a linguagem
constitui o real, vivido, lido, imaginado e transmitido, aquilo que na verdade
não só deveria, mas poderia ser. Terras estrangeiras apresentadas por Franklin,
pensadores, escritores, numa memória crítica de leitura que enxerga as contradições
humanas por trás também de célebres escritores, fazendo a memória de cada época
em que se inscrevem os usuários da pena.
Narrador viajante, cheio de
bagagens, como A Bagagem do Viajante de José Saramago, repleta de crônicas,
frutos de leituras de uma vida inteira, porém sem a condescendência com os
ditadores que envolveu as relações do autor português. A Bagagem de Franklin
Jorge se assemelha muito mais com a de Adélia Prado, que em sua obra poética se
faz narradora do híbrido, do simples cotidiano às leituras filosóficas
despertadas por seu olhar artístico. Como o avô de Thomas Bernhard, Franklin
Jorge ensaista e memorialista de leituras literárias e de vida, no exercício do
seu ofício, atravessa os seus dias escrevendo livros de uma vida inteira, feitos
com a tinta da realidade, da ficção, da degustação do pão espiritual
literários, entregando-se também “ao risco de fazer de sua vida uma
obra-prima”.
O nosso narrador se
inscreve, dentre as categorias do escritor descritas por Schopenhauer,nas duas
últimas, os que pensam enquanto escrevem e os que pensam antes de escrever,
principalmente quando se escreve sobre livros alheios. Numa rotação pelos
países impulsionada pela pena de seus representantes na li teratura, o viajante
nos abre a sua bagagem e como escrivão de muitas terras prometidas, nos abre as
portas de uma leitura que se faz “grande narrativa”, uma travessia pelo mundo
nas asas da literatura universal.
*Aluno do Doutorado do
Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte.
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