Jurandyr Navarro
Inspiradora a lembrança, a de se
prestar culto de gratidão a vultos veneráveis da nossa Cidadania. Gratidão pelo
que eles realizaram para o bem da coletividade em que viveram.
Manoel Rodrigues de Melo foi um
desses Varões intrépidos
da causa abraçada.
Reverenciando os cento e cinco
anos decorridos do seu nascimento, recordamos, através este panegírico, uma trajetória gloriosa em prol da Cultura, principalmente a cultura do
Rio Grande do Norte. A febricitante
capacidade de seu
espírito resoluto abordou outros questionamentos existenciais, não menos importantes, o magistério, a profissão liberal e atuação política,exercitados com dedicação e proficiência, incluindo a alma
sempre aberta de servir, sem pensar em sí.
A memória de feitos marcantes não pode ser
olvidada pela indiferença e pela
ingratidão. Gratos, deveremos
ser, pelas conquistas dos nossos antepassados famosos.
Atentos, precisamos estar para
darmos continuidade aos sucessos alcançados
pelo casamento do binômio: devotamento e inteligência.
Após a proclamação da República, em nosso
Estado, abriu-se um clarão que iluminou a disseminação da Cultura, um tanto
acanhada, antes desse período político.
A imprensa escrita
existente na época,
prosseguiu como espécie de arauto
cultural, vindo em seguida a arte, com o teatro, as belas-letras e as nascentes
Arcádias. A aurora do novo século surgido,
cujo brilho apareceu com a conferência de Manoel Dantas, em 1909, intitulada
"Natal Daqui a 50 Anos", seguindo-se a Revista Feminina "Via-Láctea", tendo à frente
Palmira Wanderley, e outros
empreendimentos literários.
Afigurava-se um diminuto renascimento,
ocorrido na província
natalense, lembrante ao celebrado movimento cultural, tendo a Europa como
palco, cuja característica apaixonante era o interesse pela Antiguidade
Clássica. Atuavam nesse
cenário eruditos intelectuais, descobridores da beleza das coisas do
pensamento. Manuscritos guardados em
Mosteiros e Bibliotecas, ilustraram essa busca pelo Humanismo, operado,
inicialmente, por Petrarca, o intelectual mais recordado dentre os italianos.
No século XV, Florença domina o cenário, ao tempo de Lourenço, o
Magnífico.
O influxo
desse movimento atravessou séculos, espraiando-se pelo mundo
ocidental, emitindo, ainda, reflexos, nos dias atuais.
De certa maneira, Manoel
Rodrigues de Melo se vinculou a essa tendência, projetada que foi, na Literatura Brasileira e
Potiguar, pela sua ação acadêmica, junto à Casa por ele edificada e dirigida
durante 21 longos anos. Interessava-o, vivamente, o fenômeno cultural.
Esse
templo literário, idealizado por Luis da Câmara Cascudo, teve, em Manoel Rodrigues de Melo, um
dos seus principais propulsores, propiciando o Humanismo que ainda hoje
contagia a nossa Cultura, pelos imortais que a integram.
Foi ele, durante largo período temporal,
uma expécie de Arconte dessa Literatura, inteligente, espécie de arauto, o anunciador, aquele que guia, iluminando o caminho.
A Academia de Letras moldada,
em parte, por esse desbravador e administrador notável, recorda, de certa forma, a
pedagogia das Artes Liberais, das Escolas Medievais, que visavam o aperfeiçoamento da Línguagem e da Retórica,
resultando, de consequência, na propagação da metódica instrução do
intelecto e educação espiritual. Tal procedimento continua a ser aplicado na
Casa "Manoel Rodrigues de Melo".
A dinâmica existencial do insigne condutor
baseou-se no trinômio: Cultura e Educação, a profissão liberal das Ciências
Contábeis e a Política. Esta última atravessou curto período: a sua militância no Integralismo, período de 1932 a 1937, a exemplo
do que fazia, em toda ocupação, entregou-se de corpo e alma a essa atividade
social, ao lado de adeptos de refinada vida pública e esclarecida inteligência,
interessados no bem-estar coletivo e no desenvolmento e da paz da nacionalidade
pátria. Após, no Partido de Representação
Popular, em cuja legenda foi eleito Vereador em Natal.
A vocação escolhida, para as lides da ciência
contábil, preencheu outro espaço, prestando serviço na Sociedade de Assistência Hospitalar, hoje, Hospital
"Onofre Lopes".
Ao lado desse labor,
dedicou-se, também, ao
magistério, lecionando na Escola Normal de
Natal, durante anos.
Identificou-se com as coisas da
educação e da
religião, que segundo Dilthey, mestre da
história pelas ideias, são as instituições mais salutares de uma
sociedade humana.
A cultura foi, finalmente, a
atividade constituinte do seu maior triunfo, a atividade do atribulado desempenho
como cidadão do torrão
norte-riograndense. Esse o desempenho que elevou a sua imagem de homem de
Letras.
Foi integrante, durante anos, da Diretoria do Instituto Histórico, do qual
era Vice-presidente.
Escreveu
vários livros,dentre os quais se destacam: "Várzea do Açu" -
São Paulo, Edição dos Cadernos, 1940 –“Usos e Costumes''187 páginas;
"Augusto Franklin, Sacerdote, Jornalista e Orador" - Natal, 1954 - 64
páginas - Biografia; "Terras de Camundá" - Rio de Janeiro, Editora
Pongetti, 1972 - 242 páginas -Romance; "Chico Caboclo e Outros
Poemas" - Rio de Janeiro, Edição Pongetti, 1957 - Coleção "Ferreira
de Itajubá" - 02 volumes - Poemas Brasileiros; "Patriarcas &
Carreiros" - Recife - Editora Tradição, 1944, 64 páginas - 03 volumes -
Rio G. do Norte -Vida Social e Costumes; "Cavalo de Pau" - 1953, Rio
de Janeiro -Editora Pongetti - 157 páginas - Inclui Bibliografia (Criança Sertaneja); "Dicionário da Imprensa no Rio
Grande do Norte”- 1909 /1987 - São Paulo, Editora Cortez - Fundação José
Augusto, Natal/RN - 269 páginas (documentos potiguares), Imprensa RN, Jornais
Brasileiros - Dicionários.
Criou Revistas em associação com outros
e colaborou em todos os jornais da nossa imprensa citadina.
E para coroamento numa vida de
preocupação
intelectual, diplomou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, já em idade avançada.
Empolgou a crítica
histórico-literária, o lançamento do livro mencionado "Dicionário da
Imprensa", editado pela FJA. Essa obra foi considerada como o livro do
século, na opinião de RaimundoNonato da Silva, Acadêmico e Escritor notável, seu
prefaciador.
Tal obra deu continuidade à laboriosa
pesquisa do Desembargador Luis Fernandes compreendida de 1832 a 1908, esta
espelhada que foi realizada por Alfredo de Carvalho, anteriormente.
A pesquisa de Manoel Rodrigues
de Melo foi sincrônica,
acompanhando as anteriores na sequêcia cronológica. Fez aquisição de material
coletado e o transmitiu. E não só. Serviu de marco histórico. Partilhou,
assim,de uma "memória comum", como diria o sociólogo nacional Fêlix
Torres.
No dito
livro refez ele a história dos jornais, catalogando, nome a nome, nas
cidades potiguares em que eles circularam, registrando, nominalmente, seus
diretores e colaboradores e fazendo a sua datação.
Nasceu
Manoel Rodrigues de Melo, no Vale do Açu.
Recebeu o título de Doutor
Honoris Causa, concedido em 1995, pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, gestão do magnifico Reitor
Geraldo Queiroz.
Cristão fervoroso, fez parte da Congregação
Mariana dos Moços da Catedral, fundada pelo 2o Bispo de Natal, Dom
Antônio dos Santos Cabral e durante anos, sob a direção criteriosa do professor
Ulisses de Góes. Tomou parte, também, do “Centro de Imprensa”, orgão criado durante a gestão do Prelado Dom Marcolino Dantas,
Centro responsável pela edição do jornal católico, "A Ordem", 1935,
cujo editorial do primeiro número, foi redigido pelo então Padre Luiz Monte, de
saudosa memória. Jornal que perdurou o final do Bispado
de Dom Eugênio Sales, seu
grande incentivador, e para lizado, desde o
início da gestão de Dom Nivaldo Monte, até a presente data.
Após o vespertino "A Ordem", funcionou durantes alguns anos, o Jornal
"A Verdade", criado por Ulisses de Góes e dirigido por leigos.
Dispensável é afirmar a falta de um jornal católico, numa
capital brasileira de mais de um milhão de almas!
Manoel Rodrigues de Melo, anos
seguidos, vivendo e trabalhando, sob o manto protetor da Igreja, teria idêndica opinião,
sobre um veículo de informação, pregador da moral, da ética e dos bons costumes.
Deixou sua
Biblioteca particular composta de livros escolhidos, dentre autores, os melhores, no presente sob a guarda da Fundação"José
Augusto”. O coração arrastou a paixão paraos livros, os apontamentos, a
pesquisa nos jornais. Possuiu também uma pequena
Hemeroteca, coleções de
revistas e jornais diversificados, em cujas páginas,
debruçava-se, durante noites insones à
procura da pérola preciosa da cultura histórica.
Na Presidência da ANRL, construiu a sua séde
própria deixando-a mobiliada e organizou a sua Biblioteca, dentre outros melhoramentos indispensáveis ao seu funcionamento
pleno.
Do depoimento do jornalista
Arlindo Freire, no vespertino o "Jornal de Hoje", consta essa
passagem: "ao deixar Pendências, para estudar e trabalhar em Currais Novos, fez
250 km montado em cavalo, pensando no que estava
para acontecer em sua vida, olhando e admirando os horizontes das serras, planaltos, vales, rios e riachos, com árvores e arbustos da Caatinga. Durante aquela viagem,as lágrimas secasde
tio Badéo, por haver deixado Pendências com seus pais, irmãose amigos, eram
enxugadas, não com o lenço de pano, mas com apoeira
do solo serrano carregada pelo vento".
Em casa, na velhice, disse,
certo dia, que já poderia morrer,pois havia dançado com a neta, Lalita, nos seus 15 anos, ter publicado o seu livro "Dicionário da Imprensa" e recebido o título de Doutor Honoris Causa, pela
UFRN, consoante palavras da filha, na imprensa, Ligia Maria, aqui presente.
Senhoras e Senhores, em
Manoel Rodrigues de Melo, o ardente coração deu cumprimento pleno às promessas do
cérebro.
O que ele idealizou, foi
realizado, e, o seu espírito de fé resoluta,pôde, assim,
contemplar, ainda em vida, o céu estrelado de sua humana aspiração.
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