30 de junho de 2016

CENTENÁRIO DE MANOEL RODRIGUES DE MELO



Jurandyr Navarro

Inspiradora a lembrança, a de se prestar culto de gratidão a vultos veneráveis da nossa Cidadania. Gratidão pelo que eles realizaram para o bem da coletividade em que viveram.
Manoel Rodrigues de Melo foi um desses Varões intrépidos da causa abraçada.
Reverenciando os cento e cinco anos decorridos do seu nascimento, recordamos, através este panegírico, uma trajetória gloriosa em prol da Cultura, principalmente a cultura do Rio Grande do Norte.   A   febricitante  capacidade   de   seu   espírito   resoluto abordou outros questionamentos existenciais, não menos importantes, o magistério, a profissão liberal e atuação política,exercitados com dedicação e proficiência, incluindo a alma sempre aberta de servir, sem pensar em sí.
A memória de feitos marcantes não pode ser olvidada pela indiferença   e   pela   ingratidão.   Gratos,   deveremos   ser,    pelas   conquistas dos nossos antepassados famosos. Atentos, precisamos      estar para darmos continuidade aos sucessos alcançados  pelo casamento do binômio: devotamento e inteligência.
Após a proclamação da República, em nosso Estado, abriu-se um clarão que iluminou a disseminação da Cultura, um tanto acanhada, antes desse período político.
A  imprensa  escrita  existente  na  época,   prosseguiu  como espécie de arauto cultural, vindo em seguida a arte, com o teatro, as belas-letras e as nascentes Arcádias. A aurora do novo século surgido, cujo brilho apareceu com a conferência de Manoel Dantas, em 1909, intitulada "Natal Daqui a 50 Anos", seguindo-se a Revista Feminina "Via-Láctea", tendo à frente Palmira Wanderley,  e outros empreendimentos literários.
Afigurava-se um diminuto renascimento, ocorrido na província natalense, lembrante ao celebrado movimento cultural, tendo a Europa como palco, cuja característica apaixonante era o interesse pela  Antiguidade   Clássica.   Atuavam   nesse   cenário   eruditos intelectuais, descobridores da beleza das coisas do pensamento. Manuscritos guardados em Mosteiros e Bibliotecas, ilustraram essa busca pelo Humanismo, operado, inicialmente, por Petrarca, o intelectual mais recordado dentre os italianos. No século XV, Florença domina o cenário, ao tempo de Lourenço, o Magnífico.
O influxo desse movimento atravessou séculos, espraiando-se pelo mundo ocidental, emitindo, ainda, reflexos, nos dias atuais.
De certa maneira, Manoel Rodrigues de Melo se vinculou a essa tendência, projetada que foi, na Literatura Brasileira e Potiguar, pela sua ação acadêmica, junto à Casa por ele edificada e dirigida durante 21 longos anos. Interessava-o, vivamente, o fenômeno cultural.
Esse templo literário, idealizado por Luis da Câmara Cascudo, teve, em Manoel Rodrigues de Melo, um dos seus principais propulsores, propiciando o Humanismo que ainda hoje contagia a nossa Cultura, pelos imortais que a integram.
Foi ele, durante largo período temporal, uma expécie de Arconte dessa Literatura, inteligente, espécie de arauto, o anunciador, aquele que guia, iluminando o caminho.
A Academia de Letras moldada, em parte, por esse desbravador e administrador notável, recorda, de certa forma, a pedagogia das Artes Liberais, das Escolas Medievais, que visavam o aperfeiçoamento da Línguagem e da Retórica, resultando, de consequência, na propagação da metódica instrução do intelecto e educação espiritual. Tal procedimento continua a ser aplicado na Casa "Manoel Rodrigues de Melo".
A dinâmica existencial do insigne condutor baseou-se no trinômio: Cultura e Educação, a profissão liberal das Ciências Contábeis e a Política. Esta última atravessou curto período: a sua militância no Integralismo, período de 1932 a 1937, a exemplo do que fazia, em toda ocupação, entregou-se de corpo e alma a essa atividade social, ao lado de adeptos de refinada vida pública e esclarecida inteligência, interessados no bem-estar coletivo e no desenvolmento e da paz da nacionalidade pátria. Após, no Partido de Representação Popular, em cuja legenda foi eleito Vereador em Natal.
A vocação escolhida, para as lides da ciência contábil, preencheu outro espaço, prestando serviço na Sociedade de Assistência Hospitalar, hoje, Hospital "Onofre Lopes".
Ao lado desse labor, dedicou-se, também, ao magistério, lecionando na Escola Normal de Natal, durante anos.
Identificou-se com as coisas da educação e da religião, que segundo Dilthey, mestre da história pelas ideias, são as instituições mais salutares de uma sociedade humana.
A cultura foi, finalmente, a atividade constituinte do seu maior triunfo, a atividade do atribulado desempenho como cidadão do torrão norte-riograndense. Esse o desempenho que elevou a sua imagem de homem de Letras.
Foi integrante, durante anos, da Diretoria do Instituto Histórico, do qual era Vice-presidente.
Escreveu vários livros,dentre os quais se destacam: "Várzea do Açu" - São Paulo, Edição dos Cadernos, 1940 –“Usos e Costumes''187 páginas; "Augusto Franklin, Sacerdote, Jornalista e Orador" - Natal, 1954 - 64 páginas - Biografia; "Terras de Camundá" - Rio de Janeiro, Editora Pongetti, 1972 - 242 páginas -Romance; "Chico Caboclo e Outros Poemas" - Rio de Janeiro, Edição Pongetti, 1957 - Coleção "Ferreira de Itajubá" - 02 volumes - Poemas Brasileiros; "Patriarcas & Carreiros" - Recife - Editora Tradição, 1944, 64 páginas - 03 volumes - Rio G. do Norte -Vida Social e Costumes; "Cavalo de Pau" - 1953, Rio de Janeiro -Editora Pongetti - 157 páginas - Inclui Bibliografia (Criança Sertaneja); "Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte”- 1909 /1987 - São Paulo, Editora Cortez - Fundação José Augusto, Natal/RN - 269 páginas (documentos potiguares), Imprensa RN, Jornais Brasileiros - Dicionários.
Criou Revistas em associação com outros e colaborou em todos os jornais da nossa imprensa citadina.
E para coroamento numa vida de preocupação intelectual, diplomou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, já em idade avançada.
Empolgou a crítica histórico-literária, o lançamento do livro mencionado "Dicionário da Imprensa", editado pela FJA. Essa obra foi considerada como o livro do século, na opinião de RaimundoNonato da Silva, Acadêmico e Escritor notável, seu prefaciador.
Tal obra deu continuidade à laboriosa pesquisa do Desembargador Luis Fernandes compreendida de 1832 a 1908, esta espelhada que foi realizada por Alfredo de Carvalho, anteriormente.
A pesquisa de Manoel Rodrigues de Melo foi sincrônica, acompanhando as anteriores na sequêcia cronológica. Fez aquisição de material coletado e o transmitiu. E não só. Serviu de marco histórico. Partilhou, assim,de uma "memória comum", como diria o sociólogo nacional Fêlix Torres.
No dito livro refez ele a história dos jornais, catalogando, nome a nome, nas cidades potiguares em que eles circularam, registrando, nominalmente, seus diretores e colaboradores e fazendo a sua datação.
Nasceu Manoel Rodrigues de Melo, no Vale do Açu.
Recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido em 1995, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, gestão do magnifico Reitor Geraldo Queiroz.
Cristão fervoroso, fez parte da Congregação Mariana dos Moços da Catedral, fundada pelo 2o Bispo de Natal, Dom Antônio dos Santos Cabral e durante anos, sob a direção criteriosa do professor Ulisses de Góes. Tomou parte, também, do “Centro de Imprensa”, orgão criado durante a gestão do Prelado Dom Marcolino Dantas, Centro responsável pela edição do jornal católico, "A Ordem", 1935, cujo editorial do primeiro número, foi redigido pelo então Padre Luiz Monte, de saudosa memória. Jornal que perdurou o final do Bispado de Dom Eugênio Sales, seu grande incentivador, e para lizado, desde o início da gestão de Dom Nivaldo Monte, até a presente data.
Após o vespertino "A Ordem", funcionou durantes alguns anos, o Jornal "A Verdade", criado por Ulisses de Góes e dirigido por leigos.
Dispensável é afirmar a falta de um jornal católico, numa capital brasileira de mais de um milhão de almas!
Manoel Rodrigues de Melo, anos seguidos, vivendo e trabalhando, sob o manto protetor da Igreja, teria idêndica opinião, sobre um veículo de informação, pregador da moral, da ética e dos bons costumes.
Deixou sua Biblioteca particular composta de livros escolhidos, dentre autores, os melhores, no presente sob a guarda da Fundação"José Augusto”. O coração arrastou a paixão paraos livros, os apontamentos, a pesquisa nos jornais. Possuiu também uma   pequena  Hemeroteca,   coleções   de   revistas   e   jornais diversificados, em cujas páginas, debruçava-se, durante noites insones à procura da pérola preciosa da cultura histórica.
Na Presidência da ANRL, construiu a sua séde própria deixando-a mobiliada e organizou a sua Biblioteca, dentre outros melhoramentos indispensáveis ao seu funcionamento pleno.
Do depoimento do jornalista Arlindo Freire, no vespertino o "Jornal de Hoje", consta essa passagem: "ao deixar Pendências, para estudar e trabalhar em Currais Novos, fez 250 km montado em cavalo, pensando no que estava  para acontecer em  sua vida,  olhando e admirando os horizontes das serras, planaltos, vales, rios e riachos, com árvores e arbustos da Caatinga. Durante aquela viagem,as lágrimas secasde tio Badéo, por haver deixado Pendências com seus pais, irmãose amigos, eram enxugadas, não com o lenço de pano, mas com apoeira do solo serrano carregada pelo vento".           
Em casa, na velhice, disse, certo dia, que já poderia morrer,pois havia dançado com a neta,  Lalita, nos seus 15 anos, ter publicado o seu livro "Dicionário da Imprensa" e recebido o título de Doutor Honoris Causa, pela UFRN, consoante palavras da filha, na imprensa, Ligia Maria, aqui presente.
Senhoras e Senhores,  em  Manoel  Rodrigues de Melo,  o ardente coração deu cumprimento pleno às promessas do cérebro.
O que ele idealizou, foi realizado, e, o seu espírito de fé resoluta,pôde, assim, contemplar, ainda em vida, o céu estrelado de sua humana aspiração.


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