Valério Mesquita
Essa história começa por homenagear a memória da saudosa e querida Moema Cunha Lima, então
esposa do intelectual Diógenes da Cunha Lima Filho, ao tempo em que o fato
ocorreu. Ela incentivava o marido em todos os campos de sua atividade: no
exercício da advocacia, do magistério superior e na vida acadêmica pelo seu
aprimoramento e elevação cultural. De plano, convenceu-o a estudar e a aprender
saxofone. Captava no instrumento um som mágico, de musicalidade incomparável,
somente ouvida nas Jazz’s Band dos States. Logo contratou o renomado professor
saxofonista João Batista da Silva, a “patativa do Vale do Assu”, assim
conhecido pela sensibilidade e virtuose com que dominava o requintado
instrumento.
E por via aérea, de Milão, Itália, o saxofone chegou afinal para o sopro
inaugural do imortal Diógenes, sob a preleção do maestro assuense. Havia
ansiedade no ar. Incertezas, talvez. Mas, Cunha Lima sempre se revelava um
predestinado em tudo que se envolvia. Era o homem que, tempos depois, daria cem
respostas as centenas de perguntas de Pablo Neruda; aquele que veio a descobrir
hoje o navegante aéreo Saint Exupéry planando e flanando sobre o seu baobá.
Quem sabe, o vate de Nova Cruz não poderia consagrar-se “um saxofonista no
telhado”, em vez do violinista, a exemplo do clássico filme que tanto êxito
obteve em todo o mundo. Pois bem, dúvidas não iriam obstar o aprendizado,
arrancando sons imperscrutáveis no ritmo das baladas quentes dos anos dourados.
Ou até mesmo, na execução nostálgica de “Praieira”, de “Royal Cinema” ou de
alguma nobre composição do maestro Felinto Lúcio.
A partir daí, o mestre João Batista da Silva montou o seu projeto sax-pedagógico
no mais conhecido sucesso, à época, da música popular brasileira: o chorinho
“Saxofone, por que choras”, criação de Severino Rangel de
Carvalho (o saudoso Ratinho). Mas, ao cabo de três meses de aulas
intensivas, o professor não se revelava feliz. Refiro-me aquela satisfação plena
e confiável de que falava o lente latinista José Melquíades quando se reportava
ao aproveitamento do aluno José de Vasconcelos Rocha no aprendizado da “Última
Flor do Lácio” (o latim). Irresignado, o musicista queixou-se a D. Moema: “Até
a embocadura do instrumento ele não soube levar à boca... E eu fui obrigado a dizer-lhe,
que em toda a minha vida nunca tive aluno igual. Doutor Diógenes, no entanto, me
passou uma grande lição. Aprendi a compreender a razão por que realmente o saxofone
chora”. Diógenes deserdou a carreira mas não abandonou a bossa. Ainda.
A história me foi narrada pelo professor universitário e acadêmico João
Batista Pinheiro Cabral e dou fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário