15 de julho de 2015

Lembrando Manoel Dantas


Luciano Capistrano – Historiador/Semurb

                                      Professor/Escola Estadual Myriam Coeli

      Há mais de  cem anos da realização da famosa conferência,  intitulada “Natal Daqui a Cinqüenta Anos”,proferida por Manoel Dantas, muitos ainda não conhece este marco na história de Natal.  Lembremos ser o ano de 1909, caracterizado por uma busca de identidade da elite republicana. Neste sentido o circulo de conferências ocorridas no Palácio do Governo, tiveram o objetivo de nortear esta “nova” elite natalense pós-império.

     Natal pouco antes, 1901-1904, conheceu o Plano Polidreli que originou Cidade Nova (atuais Tirol e Petrópolis). Verifia, então, o desejo da elite econômica e intelectual, em colocar nos trilhos do progresso a antiga urbe com seus aspectos coloniais. Foi neste cenário e como portavoz dos republicanos que surgi o Dr. Manoel Dantas e sua “Natal Daqui a Cinqüenta Anos”.

     Em Natal do início do século XX, um seridoense com sua maquina fotográfica registrou o cotidiano da capital potiguar. Se eventos e paisagens urbanas da cidade antiga, podem ser vistas hoje, é graças, em parte, ao “homem de sete instrumentos”: Manoel Dantas, como definiu o Dr. Manoel Onofre. Nasceu em  26-04-1867 e faleceu em junho de 1924. Menino, ainda em Caicó, recebeu de sua avó maternal as primeiras “lições do abc”, iniciando deste modo uma longa caminhada que lhe faria jornalista, geógrafo, historiador, educador, jurista, tribuno e escritor.

     Estudante, já demonstrava uma personalidade forte, de líder, e de pensamento moderno, antenado com o que acontecia na sua “aldeia” e no mundo. Fundou na Cidade de Santana “O Povo”, jornal de orientação republicana, que circulou de 1889 a 1892. É neste clima de agitação política, com a ascensão da República, que o filho de uma das famílias mais tradicionais do Seridó norte-rio-grandense, diplomou-se  bacharel pela Faculdade de Direito d o Recife, em 1890.

     Formado em direito, exerceu o cargo promotor nas comarcas de Jardim do Seridó e Acari. No campo da justiça foi o primeiro juiz federal , sendo o responsável pela implantação desta instância do judiciário em terras potiguares. Foi juiz federal de 1891 a 1897.

     Homem público de intensa atividade na capital Potiguar, Manoel Dantas exerceu por duas vezes a função de diretor da Instrução Pública (1897-1905 /1911 -1924), deixando sua marca de inovador e de educador forjado nas aulas de geografia, ministradas no ATENEU. Segundo Veríssimo de Melo, foi  o primeiro mestre a dar lições de lavoura mecânica, acrescentando as vantagens da adubação das terras, seleção de sementes, rotação e mecanização do trabalho do campo.

     Para o professor Tarcísio Gurgel, Manoel Dantas é um dos nomes mais representativos da “Bele Époque” natalense, ainda de acordo com o estudioso das letras potiguares, era uma figura de aparente contradição, sertanejo de raiz, preocupado com seu lugar de origem: o Seridó; era igualmente um cosmopolita.

      Em 1909, no Salão Nobre do Palácio do Governo ( atual Palácio da Cultura ), proferiu uma Conferência denominada “Natal daqui a cinqüenta anos”, misto de fantasia, humor e previsões sobre Natal do futuro. O pesquisador Anchieta Fernandes, afirma que muito antes de defensores da natureza, de aquecimento global, Manoel Dantas defendia um plano de arborização para a cidade. Dentre as previsões feitas em sua memorável Conferência, dizia: “Natal moderna, bela e radiante, com suas avenidas, parques e praças, com suas arvores, muitas arvores,sombreando o asfalto e oxigenando o ar”.Este era Manoel Dantas, ao tempo em que propunha uma cidade moderna, com trens trans-continentais, não esquecia do ser humano e do meio ambiente.

     A frente da Intendência Municipal de Natal, não contou com o tempo necessário para executar suas idéias, seus projetos de cidade. A morte chegou cedo, com apenas cinqüenta e sete anos, interrompendo a trajetória de um dos intelectuais mais brilhantes que a terra dos Potiguara já conheceu.

     A pesar da curta existência temporal, Manoel Dantas é atemporal, ficou eternizado através de suas ações, em todas as áreas que atuou deixou sua marca de homem sintonizado com seu tempo. Pesquisador incansável, foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

    De sua produção literária destaca-se, ainda,  “Homens de Outr’ora”, publicação fundamental para quem estuda os costumes da sociedade norte-rio-grandense do século XIX .

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