Anchieta
Fernandes
A 01 de maio de
1904, a Liga Artística Operária Norte-riograndense promovia a primeira
comemoração natalense do Dia do Trabalho. A liga havia sido fundada a seis de
março do mesmo ano, sob a presidência de Augusto César Leite, e tendo Augusto
Wanderley Como Vice-Presidente.
O jornal “A
República”, de 02 de maio de 1904, publicou a reportagem noticiando os
acontecimentos do dia anterior, quando pela primeira vez o Dia do Trabalho foi
comemorado na capital do Rio Grande do Norte, por iniciativa da pioneira
agremiação do operariado e dos artistas natalenses.
Dizia o
texto de “A República”: “Esteve bastante solene a sessão magna promovida pela
Liga Artística Operária Norte-riograndense, em comemoração ao primeiro de maio,
dia consagrado à festa do operariado.
Ao meio
dia, os salões do Clube Carlos Gomes, artisticamente decorados, onde atualmente
funciona a Liga Operária, regorgitava de operários, convidados e pessoas do
povo.
Foi
aberta a sessão pelo presidente Augusto Leite, servindo de secretários os srs.
Aristóteles Costa e Manuel Cavalcante.
O
presidente, depois de fazer um breve, mas consciencioso discurso alusivo ao dia
primeiro de maio, a patentear em ligeiros traços o papel do operariado no mundo
culto, deu a palavra ao orador oficial, Eduardo dos Anjos, que proferiu uma
bela oração, terminando por saudar naquele dia todos os sócios da Liga Operária
Norte-riograndense e fazendo ardentes votos para que a união, a fé e a
perseverança no trabalho honrado, fossem o lema de todos os companheiros a quem
naquele momento dirigia a palavra. Ocuparam em seguida a tribuna o senhor Pedro
Mendes e os sócios Francisco Ivo, Cincinato Wanderley, Aristóteles Costa e
Augusto Wanderley.”
Por
volta de mais de vinte anos depois desta primeira comemoração do Dia do
Trabalho, o operário obtia uma vitória expressiva. Tratava-se da primeira
eleição de um gráfico para a Assembléia Legislativa, na pessoa de João Estevam
Gomes da Silva, ocorrida a seis de junho de 1926.
Historiando em seu livro “A República Velha no Rio Grande do Norte”
(1989), sobre o Centro Operário Natalense, o escritor Itamar de Souza escreveu
assim sobre João Estevam:
“(...) o grande presidente do Centro Operário foi o tipógrafo João
Estevam Gomes da Silva, que administrou-o de 1915 a 1919. Dotou a Escola
Noturna de curso secundário e aula de música; conseguiu da Prefeitura Municipal
subvenção anual de seiscentos mil réis para manter a escola; pôs em circulação
o jornalzinho O Operário; organizou a Previdência Operária.”
João Estevam Gomes da Silva nasceu em Natal a 16 de dezembro de 1883.
Aos onze anos de idade começou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo em “A
República”, jornal onde passou por vários cargos, chegando por fim a
chefiar as oficinas gráficas. Escreveu o
livro “A Maçonaria no Rio Grande do Norte”, em parceria com Emídio Fagundes e
Josué Tabira.
Fundou o Centro Tipográfico “Augusto Leite”, sendo seu primeiro
presidente. Escreveu modinhas, musicadas por Adolfo França. Quando o Presidente
da República, Washington Luis, visitou a Assembléia Kegislativa, em 1926, João
Estevam foi quem fez a saudação ao presidente em nome dos seus pares. João
Estevam faleceu em Natal a 07 de maio de 1959.
A eleição pela qual João Estevam foi eleito deputado fora motivada por
decreto de 29 de novembro de 1925, convocando uma Constituinte para rever a
Constituição Estadual. O Congresso instalou-se a 05 de agosto de 1926,
promulgando a Constituição de 24 de agosto de 1926.
Aqui, deve ser dito que este ponto alto do prestígio dos operários
norte-riograndenses veio de uma tradição de reunião de entidades operárias
locais, até antes mesmo da primeira comemoração do Dia do Trabalho. Por
exemplo, em Natal, em agosto de 1890, fundava-se o Centro Operário Luiz de
França. Aliás, antes da fundação deste centro, a então vila de Canguaretama
apresentava uma idéia pioneira: a Sociedade de União Beneficente dos Artistas,
fundada a 02 de fevereiro de 1873.
O historiador Itamar de Souza considerou esta sociedade de beneficência
“a primeira associação operária do Rio Grande do Norte” (v. página setenta e
nove do livro “A República Velha no Rio Grande do Norte, 1889 – 1930”, 1989). O
fundador da referida associação foi o Sr. Euthério Ribeiro Guimarães.
Ele ficou como Diretor, auxiliado por Maximino da Trindade Moura (Vice),
João Valério de Souza (Secretário), Felix Pereira Simas (Tesoureiro), Geraldino
Gomes da Trindade (Primeiro Procurador), José Damazio Ricarte de Oliveira
(Segundo Procurador), Joaquim José D’Oliveira (Terceiro Procurador), Francisco
Batista da Cruz (Quarto Procurador) e Sinézio José Pereira (Quinto Procurador).
Itamar registrou no livro:
“Ao terminar a sessão de instalação, Euthério Ribeiro Guimarães fez aos
seus companheiros o seguinte apelo: “Sejamos unidos e ponderantes porque só
assim venceremos.” A fonte onde o historiador Itamar de Souza encontrou as
informações sobre a história da Sociedade União Beneficente dos Artistas foram
os números do jornal “A República”, de 16 de janeiro de 1927, e de 02 de
fevereiro de 1927.
Esta
primeira associação operária do RN foi fundada na Rua Sertãozinho, em
Canguaretama. Ela mantinha uma sede própria, escola, banda de música e uma
capela sob a invocação de São José. Existiu durante décadas. Chegou a eleger um
operário para a Câmara Municipal de Canguaretama, o pedreiro Geraldino Gomes da
Trindade, que era seu Primeiro Procurador.
Além desta possibilidade de representantes operários nas casas
legislativas, nestas casas, depois de meados do século vinte passou-se a reconhecer
oficialmente os centros ou círculos operários. Por exemplo: no Diário Oficial
do Estado, no número 111, do ano LXVI, referente a sábado, 19 de maio de 1956,
nas páginas com matérias da Assembléia Legislativa, está publicado o seguinte:
Processo número
247/56 – Projeto de lei: reconhece de utilidade pública a Federação Estadual
dos Círculos Operários do Rio Grande do Norte.
O Governador do Estado do Rio Grande do Norte:
Faço saber que o Poder Legislativo decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. Primeiro – Fica reconhecida de utilidade pública a Federação Estadual dos
Círculos Operários do Rio Grande do Norte, entidade civil que congrega todos os
Círculos Operários deste Estado, com
sede e foro nesta capital.
Art. Segundo – A presente Lei entrará em vigor na data de sua
publicação, revogadas as disposições em contrário.
Sala das Sessões, em Natal, 18 de maio de 1956. Jocelyn Vilar de Melo.”
Depois destes círculos operários e também de alguns partidos operários,
seria a vez dos sindicatos. Os primeiros surgiram na década de 20 do século
passado. Em seu livro “A Insurreição Comunista de 1935 – Natal, o Primeiro Ato
da Tragédia”, o historiador e cientista político Homero Costa informa: “As
primeiras organizações sindicais foram criadas, de um lado, com a participação
do Partido Comunista, que, a partir de 1926, forma os primeiros núcleos no
estado, organizados principalmente na importante região salineira de Mossoró, e
por outro, pelo advogado João Café Filho, que ajuda a organizar diversos sindicatos e vai liderar as primeiras
manifestações grevistas de que se tem notícia no estado, especialmente a partir
de 1926.”
Mossoró e arredores do município e outros municípios da região Oeste trouxeram um perfil sindical mais
consciente e atuante. As reuniões da Associação dos Operários do Sal em uma
sede na cidade de Mossoró, em princípios da década de 30 do século passado,
passaram a ser frequentadas por trabalhadores diversos (e não apenas
salineiros), para ouvirem, esperançosos, as propostas de alguns líderes
trabalhadores e intelectuais do Partido Comunista.
Era uma luta diferente, à qual os trabalhadores não estavam acostumados,
já que eram obrigados sempre a se submeterem às determinações dos patrões.
Estes, grandes proprietários de salinas, que auferiam grandes lucros à base do
trabalho quase escravo, em conluio com o governo estadual e local, passaram a
usar a polícia para proibir tais reuniões. Aí, o pessoal que estava
transformando a Associação dos Operários do Sal em Sindicato dos Trabalhadores
em Salinas, usou uma estratégia de guerrilha: passou a se reunir no mato, embaixo de árvores garranchosas da
caatinga.
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