17 de maio de 2018

Da morte do estudante Edson Luís ao famigerado AI5: Sangra-se as liberdades.


Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Semurb/ Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte

No dia 28 de março de 1968, um jovem estudante secundarista, Edson Luís de Lima Souto, foi morto em um conflito entre estudantes e a Polícia Militar. O cenário de “guerra” aconteceu no restaurante Calabouço, o uso de armas de fogo, por parte das forças de segurança pública, causou a morte de um jovem, em meio ao agitado ano de 1968. Nesta época, os “ventos” vindos de diversas partes da Europa, principalmente da França, incentiva, em todo Brasil uma reação de parte da sociedade contraria ao rompimento do processo democrático ocorrido com o golpe militar civil de 1964.
O ano de 1968 é um capítulo importante na mobilização contra o golpe, as praças são ocupadas, o grito por democracia ecoa em diversos lugares do país. A morte de Edson Luís, causa uma comoção em setores, antes silenciados, a classe média vai as ruas protestar contra as ações autoritárias implantadas com os generais presidentes. Conforme o Historiador Carlos Fico:
O impacto na opinião pública foi muito grande. A censura rigorosa da imprensa ainda não havia sido implantada, de modo que os jornais puderam noticiar o ocorrido, inclusive com fotos dramáticas do cadáver do jovem morto. […] Uma faixa exibia frase contundente para a classe média: “mataram um estudante: podia ser seu filho.” […] A morte de Edson Luís gerou protesto pelo Brasil afora […] O governo decidiu reprimi-las. No dia 4 de abril, a polícia montada atacou as pessoas que saíam da missa de sétimo dia de Edson Luís na igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro. (FICO, Carlos. São Paulo: Ed. Contexto, p. 63-64, 2015).

     A livre manifestação é reprimida, em uma demonstração de força autoritária, os militares impunham a “paz” das baionetas, muitos foram os casos de ataques, como o ocorrido durante a missa de sétimo dia, quando o as escadarias da igreja de Nossa Senhora da Candelária, na cidade maravilhosa, testemunhou a truculência, com salientou Carlos Fico.

A palavra
Silenciada
Não é Palavra
É calabouço.
(Luciano Capistrano)

A sociedade brasileira viveu dias de idas e vindas, nas veredas das liberdades, os movimentos sociais, espalharam por todas as regiões ações de mobilização contras as atitudes repressivas, abria-se uma “fresta” nas portas do arbítrio. O mês de junho é marcado por um dos mais fortes atos em defesa das garantias individuais, a “Marchas dos Cem Mil”. Sobre este momento, o Historiador Jacob Gorender, em Combate nas trevas, faz a seguinte observação:
O dia 26 de junho marcou o momento de auge com a Passeata dos Cem Mil, que se concentrou na Cinelândia carioca e percorreu a avenida Rio Branco, até a Praça Quinze. […] Presentes vedetes da música popular, da televisão e do teatro, escritores, jornalistas e políticos, professores e líderes sindicais. Tal a repercussão que o Presidente Costa e Silva se dispôs a receber em Brasília a comissão representativa dos organizadores da passeata. Nada resultou do diálogo, mas esta foi a única e última vez que um general-presidente concedeu a uma comissão popular. (GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. São Paulo: Ed. Ática,p. 148, 1997)

O ano de 1968, com  março marcado com o sangue do jovem Edson Luís, e, junho com a grande marcha dos Cem Mil, não terminou bem para o restabelecimento da democracia. Em 13 de dezembro, o governo do general-presidente, decreta o Ato Institucional n. 5. Este famigerado AI-5, dotou o general-presidente de poderes ditatoriais. Fecha-se o Congresso Nacional, faz escuro a democracia.

1964… sangra-se liberdades!

Memórias das noites sombrias
Sob o manto do medo
Tortura-se
Prende-se
Exila-se
Silencia-se
Desaparecidos políticos.

Memórias das noites sombrias
Sob o manto do medo
Censura-se
O pensar
Mordaça-se
A fala
Democracia interrompida
1964… sangra-se liberdade!
(Luciano Capistrano)

Nestes tempos de democracia em risco, façamos o bom diálogo, lembrar para não repetir. Finalizo, com essa provocação: Da morte do estudante Edson Luís ao famigerado AI5: Sangra-se as liberdades.

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