Paulo
Jorge Dumaresk
Texto
publicado no Suplemento Cultural “Nós,
do RN...” setembro/2006
Os impressos norte-rio-grandenses sempre
superaram as turbulências políticas e as dificuldades de mercado graças à
obstinação de seus proprietários preocupados em veicular sua doutrina ou
ideologia partidária. A história registra que a maioria das revistas é de cunho
literário, enquanto que os jornais pertencem à classe dos políticos. É
importante frisar que existem exceções à regra. Poucas, é bem verdade. Nem todo
jornal é de propriedade de político e nem toda revista é literária. Pesquisando
a imprensa escrita potiguar do Século 19, especialmente os jornais – objeto de
nossa pesquisa -, encontramos que o primeiro periódico é O Natalense, impresso
no Maranhão, Pernambuco e Ceará, uma vez que não havia prelo na Província do
Rio Grande do Norte em 1832.
Em 2 de
setembro do mesmo ano, O Natalense tem um número impresso em Natal. Data deste
dia a imprensa norte-rio-grandense, uma vez que o jornal já contava meses de
existência. Fundado pelo padre Francisco de Brito Guerra, então suplente de
deputado geral, o periódico apresentava dimensões de 30cm x 21cm, quatro
páginas em duas colunas, custando 6$ por ano e oitenta réis por número. O prelo
d’O Natalense ainda imprime A Tesoura (1933) e O Publicador Natalense (1840). A
imprensa político-partidária inicia-se no Partido Liberal pelo Argos Natalense
(1851- 1852), dirigido por Moreira Brandão. Extinguindo-se o jornal em 1852, no
mesmo ano cria O Ja-Guarari e O Fagote.
Ainda teve fôlego para lançar A Liberdade
(1856-1857), ensaio para O Rio Grande do Norte (1856- 1862), órgão do partido.
Na era progressista, com a união de Moreira Brandão com o coronel Bonifácio, O
Rio Grande do Norte perde o nome e passa a ser O Progressista (1862- 1866).
Extinta a aliança, O Progressista volta a ser O Rio Grandense (1866-1869). Em 1869,
o Coronel Bonifácio mostra a sua verdadeira face e joga nas ruas O Conservador,
que dura 12 anos, com interrupções. O último jornal conservador é a Gazeta do
Natal (1888-1890), propriedade do Padre João Manuel de Carvalho, com o qual
combate A República, de Pedro Velho.
Cinco jornais
seguem o nome de Amaro Bezerra. Quando conservador, Dous de Dezembro
(1859-1862) e Correio Natalense (1862-1868). Quando liberal, Liberal do Norte
(1866-1869), Liberal (1872-1873) e A Liberdade (1885-1889). Outro jornal liberal,
de caráter independente, é A Reforma (1879- 1883). De julho a setembro de 1893,
Oliveira Santos dirige o Diário de Natal, cronologicamente o primeiro diário do
Estado. Já Elias Souto (1848-1906), funda oito jornais, entre eles o Diário do
Natal, em julho de 1895. O impresso resiste até 1913. No Século 20, surge a
Gazeta do Comércio (1901-1908), tendo por diretor Pedro Avelino.
A Imprensa
vive de 1914 a 1926, fundada e mantida por Francisco Cascudo. Em 21 de abril de
1919 aparece A Opinião, findando-se em 1923. Um outro Diário de Natal
(1924-1932), de orientação católica, em 1933 transforma-se em A Ordem. e
sobreviventes Jornais de ontem Na primeira metade do século passado ainda
tivemos Combate (1923), de Sandoval Wanderley; Rebate, de Eduardo dos Anjos;
Folha do Povo (1927-1928), de Sandoval Wanderley; Jornal do Norte (1922), de
João Café Filho; Jornal da Noite (1925), de Cussy de Almeida Júnior; A Tarde
(1931-1932), fundado por Omar Lopes Cardoso e Bruno Pereira; e A Razão
(1933-1935).
Em 1946, por exemplo, Natal tem A República, O
Democrata, A Notícia, O Jornal, A Ordem e Diario, pertencente à cadeia
jornalística dos Diários Associados. Resistência O mais antigo jornal em
circulação no Estado do Rio Grande do Norte e o terceiro na América Latina é O Mossoroense,
de propriedade de Laíre Rosado. Fundado em 17 de outubro de 1872, por Jeremias
da Rocha Nogueira, o jornal fecha pela primeira vez em 1876. Reabre em 1902
para cerrar as portas novamente em 1932. Volta a circular em 1933 e pára em
1935. Em 1946, é reaberto. Nova parada de 1963 a 1970. De 1970 até hoje não
mais deixa de circular.
São 133 anos de história, com interrupções que
juntas somam 57 anos. “Essa trajetória de luta foi comum aos donos que passaram
pelo jornal. Pessoas determinadas e idealistas”, depõe o editor geral Leonardo
Sodré. Ele informa que algumas paradas são motivadas por questões políticas,
uma vez que O Mossoroense era abolicionista. Atualmente, o jornal circula
diariamente com 24 páginas e 40 no domingo, distribuído em 85 municípios. São
40 funcionários, entre redação, oficinas e apoio. “A principal bandeira do
jornal é ouvir os dois lados da notícia”, afirma Sodré.
A República Menos sorte teve o jornal A República,
fundado por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, em 1° de julho de 1889, para
ser o portavoz das idéias republicanas no Estado. Conforme Luís da Câmara
Cascudo em História da Cidade do Natal (3a Edição, IHG/RN, Natal, 1999), quando
Pedro Velho quis publicar A República, nenhuma tipografia teve a coragem de
rodar a folha republicana, à exceção do tipógrafo João Carlos que a imprime em
pleno período monárquico. Com a vitória do movimento republicano, A República,
embora não fosse jornal do governo, torna-se o veiculador de seus atos
oficiais. Em 28 de janeiro de 1928, o governador Juvenal Lamartine de Faria
cria a Imprensa Oficial do Rio Grande do Norte, instituindo A República como
seu órgão oficial.
Depois de
vários períodos de desativação, o jornal deixa de circular definitivamente em
1987, no governo Geraldo Melo. Diário Jornal mais longevo em circulação na
capital do Estado, o Diário de Natal surge com essa terminologia, em 4 de março
de 1947, já integrado aos Diários Associados de Assis Chateaubriand.
Vespertino, o jornal vai ganhando prestígio e também um aliado na propagação de
suas idéias. É o matutino O Poti, lançado em 29 de julho de 1954. Durante a
administração de Luiz Maria Alves, O Poti passa a circular somente aos
domingos, a partir de 2 de novembro de 1958.
Por sua vez,
o Diário de Natal continua circulando de segunda-feira a sábado. Uma mudança
significativa ocorre em 1967, quando o jornalista Dorian Jorge Freire, então
chefe de redação, implanta a técnica de diagramação, algo inovador para a
época. Do ponto de vista gráfico, o jornalista Luiz Maria Alves inicia a década
de 1970 fazendo verdadeira revolução no Diário de Natal, quando introduz o
sistema “Off-set” de impressão, que na época era a tecnologia mais avançada
disponível no Brasil. A inauguração oficial do novo sistema de impressão ocorre
em 12 de junho de 1970, em solenidade no prédio da Avenida Deodoro da Fonseca,
atual sede das empresas associadas.
Com a nova impressão, o DN passa a ser matutino em
1º de setembro de 1970. Luiz Maria Alves deixa a direção das empresas em 28 de
abril de 1989. O diretor geral do Diário de Natal, Albimar Furtado, comenta que
o grande capital do jornal é a credibilidade junto ao leitor, reforçando que a
confiabilidade é o maior índice de motivação das pessoas na compra do matutino.
Destaca também a atuação do DN na defesa da cidade e do Estado. “É um jornal
plural. Todas as tendências estão aqui”, faz questão de frisar. Tribuna O
segundo jornal mais antigo em circulação em Natal nasce com o acirramento das
lutas políticas no Estado.
Sentindo a necessidade de defender as suas bandeiras
e projetos políticos, o jornalista e deputado federal da UDN, Aluízio Alves,
faz circular o jornal Tribuna do Norte, em 20 de março de 1950. Influenciado
por Carlos Lacerda com o qual trabalhara na Tribuna da Imprensa do Rio de
Janeiro, Alves reúne grupo de amigos, entre eles Dinarte Mariz, e compra
máquinas usadas numa tipografia em Recife para imprimir a TN. “O jornal tinha
nitidamente um caráter político-partidário”, observa o diretor de redação da
Tribuna do Norte, Carlos Peixoto.
Naquela época, concorriam com a TN, na capital, A
República, Diário de Natal, O Jornal de Natal e A Ordem. De acordo com Peixoto,
a trajetória da TN é marcada pela resistência à ditadura militar no Brasil, a
partir de 1964, e a sucessivos governos estaduais apoiadores do regime de
exceção. “Hoje o jornal tem consciência crítica, mas não envergonhada de sua
origem político-partidária. Busca acima de tudo a profissionalização,
oferecendo ao leitor os dois lados da informação. A Tribuna lidera o mercado de
anunciantes e de vendagem nas bancas do Rio Grande do Norte”, declara Peixoto.
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