23 de julho de 2018

Jornais de ontem e sobreviventes



Paulo Jorge Dumaresk

Texto publicado no Suplemento Cultural  “Nós, do RN...”  setembro/2006

Os impressos norte-rio-grandenses sempre superaram as turbulências políticas e as dificuldades de mercado graças à obstinação de seus proprietários preocupados em veicular sua doutrina ou ideologia partidária. A história registra que a maioria das revistas é de cunho literário, enquanto que os jornais pertencem à classe dos políticos. É importante frisar que existem exceções à regra. Poucas, é bem verdade. Nem todo jornal é de propriedade de político e nem toda revista é literária. Pesquisando a imprensa escrita potiguar do Século 19, especialmente os jornais – objeto de nossa pesquisa -, encontramos que o primeiro periódico é O Natalense, impresso no Maranhão, Pernambuco e Ceará, uma vez que não havia prelo na Província do Rio Grande do Norte em 1832.
 Em 2 de setembro do mesmo ano, O Natalense tem um número impresso em Natal. Data deste dia a imprensa norte-rio-grandense, uma vez que o jornal já contava meses de existência. Fundado pelo padre Francisco de Brito Guerra, então suplente de deputado geral, o periódico apresentava dimensões de 30cm x 21cm, quatro páginas em duas colunas, custando 6$ por ano e oitenta réis por número. O prelo d’O Natalense ainda imprime A Tesoura (1933) e O Publicador Natalense (1840). A imprensa político-partidária inicia-se no Partido Liberal pelo Argos Natalense (1851- 1852), dirigido por Moreira Brandão. Extinguindo-se o jornal em 1852, no mesmo ano cria O Ja-Guarari e O Fagote.
Ainda teve fôlego para lançar A Liberdade (1856-1857), ensaio para O Rio Grande do Norte (1856- 1862), órgão do partido. Na era progressista, com a união de Moreira Brandão com o coronel Bonifácio, O Rio Grande do Norte perde o nome e passa a ser O Progressista (1862- 1866). Extinta a aliança, O Progressista volta a ser O Rio Grandense (1866-1869). Em 1869, o Coronel Bonifácio mostra a sua verdadeira face e joga nas ruas O Conservador, que dura 12 anos, com interrupções. O último jornal conservador é a Gazeta do Natal (1888-1890), propriedade do Padre João Manuel de Carvalho, com o qual combate A República, de Pedro Velho.
 Cinco jornais seguem o nome de Amaro Bezerra. Quando conservador, Dous de Dezembro (1859-1862) e Correio Natalense (1862-1868). Quando liberal, Liberal do Norte (1866-1869), Liberal (1872-1873) e A Liberdade (1885-1889). Outro jornal liberal, de caráter independente, é A Reforma (1879- 1883). De julho a setembro de 1893, Oliveira Santos dirige o Diário de Natal, cronologicamente o primeiro diário do Estado. Já Elias Souto (1848-1906), funda oito jornais, entre eles o Diário do Natal, em julho de 1895. O impresso resiste até 1913. No Século 20, surge a Gazeta do Comércio (1901-1908), tendo por diretor Pedro Avelino.
 A Imprensa vive de 1914 a 1926, fundada e mantida por Francisco Cascudo. Em 21 de abril de 1919 aparece A Opinião, findando-se em 1923. Um outro Diário de Natal (1924-1932), de orientação católica, em 1933 transforma-se em A Ordem. e sobreviventes Jornais de ontem Na primeira metade do século passado ainda tivemos Combate (1923), de Sandoval Wanderley; Rebate, de Eduardo dos Anjos; Folha do Povo (1927-1928), de Sandoval Wanderley; Jornal do Norte (1922), de João Café Filho; Jornal da Noite (1925), de Cussy de Almeida Júnior; A Tarde (1931-1932), fundado por Omar Lopes Cardoso e Bruno Pereira; e A Razão (1933-1935).
Em 1946, por exemplo, Natal tem A República, O Democrata, A Notícia, O Jornal, A Ordem e Diario, pertencente à cadeia jornalística dos Diários Associados. Resistência O mais antigo jornal em circulação no Estado do Rio Grande do Norte e o terceiro na América Latina é O Mossoroense, de propriedade de Laíre Rosado. Fundado em 17 de outubro de 1872, por Jeremias da Rocha Nogueira, o jornal fecha pela primeira vez em 1876. Reabre em 1902 para cerrar as portas novamente em 1932. Volta a circular em 1933 e pára em 1935. Em 1946, é reaberto. Nova parada de 1963 a 1970. De 1970 até hoje não mais deixa de circular.
São 133 anos de história, com interrupções que juntas somam 57 anos. “Essa trajetória de luta foi comum aos donos que passaram pelo jornal. Pessoas determinadas e idealistas”, depõe o editor geral Leonardo Sodré. Ele informa que algumas paradas são motivadas por questões políticas, uma vez que O Mossoroense era abolicionista. Atualmente, o jornal circula diariamente com 24 páginas e 40 no domingo, distribuído em 85 municípios. São 40 funcionários, entre redação, oficinas e apoio. “A principal bandeira do jornal é ouvir os dois lados da notícia”, afirma Sodré.
A República Menos sorte teve o jornal A República, fundado por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, em 1° de julho de 1889, para ser o portavoz das idéias republicanas no Estado. Conforme Luís da Câmara Cascudo em História da Cidade do Natal (3a Edição, IHG/RN, Natal, 1999), quando Pedro Velho quis publicar A República, nenhuma tipografia teve a coragem de rodar a folha republicana, à exceção do tipógrafo João Carlos que a imprime em pleno período monárquico. Com a vitória do movimento republicano, A República, embora não fosse jornal do governo, torna-se o veiculador de seus atos oficiais. Em 28 de janeiro de 1928, o governador Juvenal Lamartine de Faria cria a Imprensa Oficial do Rio Grande do Norte, instituindo A República como seu órgão oficial.
 Depois de vários períodos de desativação, o jornal deixa de circular definitivamente em 1987, no governo Geraldo Melo. Diário Jornal mais longevo em circulação na capital do Estado, o Diário de Natal surge com essa terminologia, em 4 de março de 1947, já integrado aos Diários Associados de Assis Chateaubriand. Vespertino, o jornal vai ganhando prestígio e também um aliado na propagação de suas idéias. É o matutino O Poti, lançado em 29 de julho de 1954. Durante a administração de Luiz Maria Alves, O Poti passa a circular somente aos domingos, a partir de 2 de novembro de 1958.
 Por sua vez, o Diário de Natal continua circulando de segunda-feira a sábado. Uma mudança significativa ocorre em 1967, quando o jornalista Dorian Jorge Freire, então chefe de redação, implanta a técnica de diagramação, algo inovador para a época. Do ponto de vista gráfico, o jornalista Luiz Maria Alves inicia a década de 1970 fazendo verdadeira revolução no Diário de Natal, quando introduz o sistema “Off-set” de impressão, que na época era a tecnologia mais avançada disponível no Brasil. A inauguração oficial do novo sistema de impressão ocorre em 12 de junho de 1970, em solenidade no prédio da Avenida Deodoro da Fonseca, atual sede das empresas associadas.
Com a nova impressão, o DN passa a ser matutino em 1º de setembro de 1970. Luiz Maria Alves deixa a direção das empresas em 28 de abril de 1989. O diretor geral do Diário de Natal, Albimar Furtado, comenta que o grande capital do jornal é a credibilidade junto ao leitor, reforçando que a confiabilidade é o maior índice de motivação das pessoas na compra do matutino. Destaca também a atuação do DN na defesa da cidade e do Estado. “É um jornal plural. Todas as tendências estão aqui”, faz questão de frisar. Tribuna O segundo jornal mais antigo em circulação em Natal nasce com o acirramento das lutas políticas no Estado.
Sentindo a necessidade de defender as suas bandeiras e projetos políticos, o jornalista e deputado federal da UDN, Aluízio Alves, faz circular o jornal Tribuna do Norte, em 20 de março de 1950. Influenciado por Carlos Lacerda com o qual trabalhara na Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro, Alves reúne grupo de amigos, entre eles Dinarte Mariz, e compra máquinas usadas numa tipografia em Recife para imprimir a TN. “O jornal tinha nitidamente um caráter político-partidário”, observa o diretor de redação da Tribuna do Norte, Carlos Peixoto.
Naquela época, concorriam com a TN, na capital, A República, Diário de Natal, O Jornal de Natal e A Ordem. De acordo com Peixoto, a trajetória da TN é marcada pela resistência à ditadura militar no Brasil, a partir de 1964, e a sucessivos governos estaduais apoiadores do regime de exceção. “Hoje o jornal tem consciência crítica, mas não envergonhada de sua origem político-partidária. Busca acima de tudo a profissionalização, oferecendo ao leitor os dois lados da informação. A Tribuna lidera o mercado de anunciantes e de vendagem nas bancas do Rio Grande do Norte”, declara Peixoto.

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