27 de setembro de 2017

Ceará-Mirim: e a sua herança cultural, histórica e turística

     
                                                                                                         Entrada do engenho Igarapé
        

Edson Benigno      

        Ceará-Mirim, com  uma população de 68 mil habitantes, faz parte da Região Metropolitana de Natal, tendo como uma de suas características um grande potencial histórico, cultural e turístico. Uma cidade onde seus primeiros habitantes foram os índios potiguares, que comercializavam o pau-brasil para os franceses e espanhóis. Mais tarde esta área era ocupada pelos portugueses.
            O município foi criado em 1755 e as primeiras edificações públicas foram construídas pelos jesuítas, a partir da fundação de um convento num local conhecido como Guajiru. Na atualidade, as praias de Jacumã, Porto-Mirim, Muriú e Prainha, que fazem parte da região é também uma atração turística. Há um guia caracterizado de barão, mostrando a história da cidade  e sua grande riqueza cultural.
            Ele se encarrega de mostrar aos interessados em conhecer Ceará-Mirim, através de um roteiro com vários engenhos, casas grandes, patrimônios históricos e igrejas, incluindo a maior do  RN. Sem dúvida é o grande diferencial do lugar, já que não existe em Estado nenhum do Brasil um guia com esta especialidade.
             A cidade tem muito a oferecer culturalmente, através de vários eventos e proliferação de artistas. Na parte de folclore se destaca Sebastião João da Rocha, o Tião Oleiro, que é o mestre dos “Congos de Guerra de Guanabara”. No dia 14 de maio deste ano ele completou 98 anos de vida, sendo 90 dedicados à cultura popular e 78 anos ao grupo folclórico Congo de Guerra, que foi revitalizado em maio de 1934.  O artista popular nasceu em 14 de maio de 1914, no engenho Guanabara, em Ceará-Mirim.
Em 2007 a Fundação Roberto Marinho, através do Canal Futura fez um documentário sobre o Mestre. As filmagens aconteceram na comunidade de Tabuão no mês de setembro. O documentário foi “A beleza do meu lugar” e foram escolhidas 16 figuras populares em todo o Brasil. O documentário do Mestre Tião Concorreu ao XIX Festival de Curtas de São Paulo.
          Em função do documentário a Fundação Roberto Marinho mandou pintar um painel do Mestre Tião na galeria de sua sede no Rio de Janeiro. Ainda em 2007 as meninas do Projeto Vernáculo fizeram o documentário sobre o mestre e o Congo de Guerra, que concorreu no Festival de Curtas Potiguares.      Em 2009 ele foi inscrito no Programa da Fundação José Augusto “Patrimônio Vivo do Rio Grande do Norte”, onde o mesmo foi selecionado, recebendo uma bolsa mensal pro resto de sua vida.
 No mesmo ano concorreu à premiação do “Culturas Populares Mestre Dona Isabel” do Ministério da Cultura. Ele foi selecionado entre mais de 2000 candidatos em todo o Brasil.  A trajetória do Mestre Tião é uma viagem à biografia da cidade. Sua naturalidade está em seus contos, e nas suas histórias nos engenhos de cana. Ele sempre lutou  para manter seu grupo de folclórico vivo.
          Na adolescência o menino Tião ajudava o pai no engenho e, dessa forma, aprendeu todas as tarefas necessárias ao bom funcionamento da fábrica de mel, açúcar e rapadura.   Foi um jovem muito curioso e obstinado, por isso, aprendeu a tocar fole sozinho. Seu irmão era tocador, mas, não queria ensiná-lo. Na sua ausência aprendia a tocar escondido.
            Sua primeira experiência foi em um baile. Tocava com um amigo mais experiente e, no meio da festa, o colega o abandonou e teve que terminar sozinho. Foi o início de sua vida como artista e sanfoneiro. Tocava em todas as comunidades, principalmente no povoado de Palmeiras onde havia muitos pastoris nos sábados.
            Gostava de tocar no Pastoril. As moças começavam a dançar, então, o cavaleiro oferecia, na época, dez contos para dançar com uma pastora escolhida. Outro concorrente oferecia doze contos para aquele parar de dançar. Assim, no final da festa, o dinheiro recolhido era dividido com o sanfoneiro. Foi um tempo que não havia maldade, desavenças, as pessoas respeitavam as outras.  Para ele, o engenho Guanabara foi o patrimônio mais bonito de Ceará-Mirim.
            Aos  08 anos de idade já  brincava no Congo de Saiote do pai João da Rocha. Aprendeu as jornadas e músicas do brinquedo com seu pai, quando ia para o roçado. Iniciou no brinquedo como marujo no final da fila.  Em 1934 recebeu do pai a responsabilidade de não deixar o brinquedo morrer. Assim o fez. São 78 anos lutando contra a ignorância, a falta de incentivo e, principalmente, pela preservação desta tradição centenária.    
          O Congo é um folguedo popular que faz referências às lutas medievais e embaixadas a soberana africana Jinga. O povo de Ceará-Mirim reverencia esta figura tão importante para a cultura do Brasil e que preservai ainda as manifestações populares, através deste folguedo Congos de Guerra. Até os dias de hoje o mestre Tião se diz  muito feliz e satisfeito por ter preservado esse brinquedo.
            As manifestações de cultura no município são freqüentes. No mês do folclore, agosto, foi a vez de Ceará Mirim ganhar mais um eco: "Toca Raul!". Desde que o  músico baiano faleceu em 21 de agosto de 1989, que a cidade realiza shows musicais de várias bandas de rock, em homenagem ao Maluco Beleza. No mês de setembro,  foi realizado a 23ª edição do Tributo a Raul Seixas,  o mais antigo e um dos três maiores do país.
             O evento este ano foi encaixado no calendário oficial da cultura ceará-mirinense, reconhecido pela Câmara Municipal. Na ocasião foi anunciado que em todos os anos o terceiro sábado de agosto está compromissado com a memória de Raul Seixas. E pelo maior número de público ficou decidido que serão realizados os próximos na Estação Cultural, onde o espaço  tem capacidade para quase 4 mil pessoas.
             Além do show existe a exposição com o acervo montado desde 1981. É considerado um dos maiores acontecimentos culturais do Estado,
o evento,  é fonte de renda da população e notícia na mídia nacional.        Nos Tributos são  mostrados imagens raras do cantor, camisetas, vasta coleção de raridades garimpadas durante mais de 30 anos de pesquisa e dedicação. Também fica à mostra raridades como uma das mil cópias do vinil Let Me Sing my Rock'n Roll (1985) e cartazes do único show de Raul em Natal, em 1983, no Palácio dos Esportes.
            Ainda no tema musical, pode relatar a homenagem dada ao cantor Paulinho da Viola. Ele recebeu em agosto do ano passado o título de cidadão ceará-mirinense. A câmara municipal da localidade,  aproveitou o fato do cantor ter vindo participar do Projeto do Governo do Estado Agosto da Alegria, para entregar em uma solenidade o titulo ao cantor. Na ocasião do show, ele fez questão de falar que tem raízes em nosso Estado, se referindo a Ceará-Mirim, onde sua avó paterna nasceu.
             A cidade também é conhecida pelas suas festas populares, como o tradicional “Arraiá dos Engenhos” realizados nos meses de junho de cada ano no Ginásio Elói de Souza. No mês de setembro será realizado Ceará Mirim Folia 2012, uma festa que reúne não só pessoas da população local como muitas vindas de Natal e outras cidades vizinhas.
           No turismo se destacam algumas as praias do litoral norte, que pertence ao município e são bastante visitadas, principalmente na alta estação. Jacumã e Porto Mirim são redutos de veranistas de Natal, formados por políticos e empresários.  Jacumã, possui também uma lagoa, lugar preferido de  milhares de turistas, que visitam o estado do RN. Outra praia é Muriu, que além da calmaria do mar possui uma bela paisagem de coqueiros. Praiinha, menos badalada, que dá acesso através da estrada Extremoz RN 160, é freqüentada muito mais por surfistas, devido as suas belas ondas.

Texto publicado no suplemento cultural Nós, do RN... na edição de número 79, outubro 2012


    Mestre Tião no canal Futura

    Casa grande do engenho Imburanas


    Estação Cultural

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