Entrada do engenho Igarapé
Edson Benigno
Ceará-Mirim,
com uma população de 68 mil habitantes, faz
parte da Região Metropolitana de Natal, tendo como uma de suas características um
grande potencial histórico, cultural e turístico. Uma cidade onde seus
primeiros habitantes foram os índios potiguares, que comercializavam o
pau-brasil para os franceses e espanhóis. Mais tarde esta área era ocupada
pelos portugueses.
O município foi criado em 1755 e as
primeiras edificações públicas foram construídas pelos jesuítas, a partir da
fundação de um convento num local conhecido como Guajiru. Na atualidade, as
praias de Jacumã, Porto-Mirim, Muriú e Prainha, que fazem parte da região é
também uma atração turística. Há um guia caracterizado de barão, mostrando a
história da cidade e sua grande riqueza
cultural.
Ele se encarrega de mostrar aos
interessados em conhecer Ceará-Mirim, através de um roteiro com vários engenhos, casas grandes, patrimônios
históricos e igrejas, incluindo a maior do
RN. Sem dúvida é o grande diferencial do lugar, já que não existe em Estado
nenhum do Brasil um guia com esta especialidade.
A cidade tem muito a oferecer culturalmente,
através de vários eventos e proliferação de artistas. Na parte de folclore se
destaca Sebastião João da Rocha, o Tião
Oleiro, que é o mestre dos “Congos de Guerra de Guanabara”. No dia 14 de maio
deste ano ele completou 98 anos de vida, sendo 90 dedicados à cultura popular e
78 anos ao grupo folclórico Congo de Guerra, que foi revitalizado em maio de
1934. O artista popular nasceu em 14 de maio de 1914, no engenho
Guanabara, em Ceará-Mirim.
Em 2007 a Fundação Roberto
Marinho, através do Canal Futura fez um documentário sobre o Mestre. As
filmagens aconteceram na comunidade de Tabuão no mês de setembro. O
documentário foi “A beleza do meu lugar” e foram escolhidas 16 figuras
populares em todo o Brasil. O documentário do Mestre Tião Concorreu ao XIX
Festival de Curtas de São Paulo.
Em função do documentário a Fundação
Roberto Marinho mandou pintar um painel do Mestre Tião na galeria de sua sede
no Rio de Janeiro. Ainda em 2007 as meninas do Projeto Vernáculo fizeram o
documentário sobre o mestre e o Congo de Guerra, que concorreu no Festival de
Curtas Potiguares. Em 2009 ele foi
inscrito no Programa da Fundação José Augusto “Patrimônio Vivo do Rio Grande do
Norte”, onde o mesmo foi selecionado, recebendo uma bolsa mensal pro resto de
sua vida.
No mesmo ano concorreu à premiação do
“Culturas Populares Mestre Dona Isabel” do Ministério da Cultura. Ele foi
selecionado entre mais de 2000 candidatos em todo o Brasil. A trajetória do
Mestre Tião é uma viagem à biografia da cidade. Sua naturalidade está em seus
contos, e nas suas histórias nos engenhos de cana. Ele sempre lutou para manter seu grupo de folclórico vivo.
Na adolescência o menino Tião ajudava o pai no engenho e, dessa forma, aprendeu
todas as tarefas necessárias ao bom funcionamento da fábrica de mel, açúcar e
rapadura. Foi um jovem muito curioso e obstinado, por isso, aprendeu a
tocar fole sozinho. Seu irmão era tocador, mas, não queria ensiná-lo. Na sua
ausência aprendia a tocar escondido.
Sua
primeira experiência foi em um baile. Tocava com um amigo mais experiente e, no
meio da festa, o colega o abandonou e teve que terminar sozinho. Foi o início
de sua vida como artista e sanfoneiro. Tocava em todas as comunidades,
principalmente no povoado de Palmeiras onde havia muitos pastoris nos sábados.
Gostava
de tocar no Pastoril. As moças começavam a dançar, então, o cavaleiro oferecia,
na época, dez contos para dançar com uma pastora escolhida. Outro concorrente
oferecia doze contos para aquele parar de dançar. Assim, no final da festa, o
dinheiro recolhido era dividido com o sanfoneiro. Foi um tempo que não havia
maldade, desavenças, as pessoas respeitavam as outras. Para ele, o engenho Guanabara foi o patrimônio
mais bonito de Ceará-Mirim.
Aos
08 anos de idade já brincava no
Congo de Saiote do pai João da Rocha. Aprendeu as jornadas e músicas do
brinquedo com seu pai, quando ia para o roçado. Iniciou no brinquedo como
marujo no final da fila. Em 1934 recebeu do pai a responsabilidade
de não deixar o brinquedo morrer. Assim o fez. São 78 anos lutando contra a
ignorância, a falta de incentivo e, principalmente, pela preservação desta
tradição centenária.
O Congo é um folguedo popular que faz
referências às lutas medievais e embaixadas a soberana africana Jinga. O povo
de Ceará-Mirim reverencia esta figura tão importante para a cultura do Brasil e
que preservai ainda as manifestações populares, através deste folguedo Congos
de Guerra. Até os dias de hoje o mestre Tião se diz muito feliz e satisfeito por ter preservado esse brinquedo.
As
manifestações de cultura no município são freqüentes. No mês do folclore, agosto,
foi a vez de Ceará Mirim ganhar mais um eco: "Toca Raul!". Desde que
o músico baiano faleceu em 21 de agosto
de 1989, que a cidade realiza shows musicais de várias bandas de rock, em
homenagem ao Maluco Beleza. No mês de setembro,
foi realizado a 23ª edição do Tributo a Raul Seixas, o mais antigo e um dos três maiores do país.
O evento este ano foi encaixado no calendário
oficial da cultura ceará-mirinense, reconhecido pela Câmara Municipal. Na
ocasião foi anunciado que em todos os anos o terceiro sábado de agosto está
compromissado com a memória de Raul Seixas. E pelo maior número de público
ficou decidido que serão realizados os próximos na Estação Cultural, onde o
espaço tem capacidade para quase 4 mil
pessoas.
Além do show existe a exposição com o acervo montado
desde 1981. É considerado um dos maiores acontecimentos culturais do Estado,
o evento, é fonte de renda da população e notícia na mídia nacional. Nos Tributos são mostrados imagens raras do cantor, camisetas, vasta coleção de raridades garimpadas durante mais de 30 anos de pesquisa e dedicação. Também fica à mostra raridades como uma das mil cópias do vinil Let Me Sing my Rock'n Roll (1985) e cartazes do único show de Raul em Natal, em 1983, no Palácio dos Esportes.
o evento, é fonte de renda da população e notícia na mídia nacional. Nos Tributos são mostrados imagens raras do cantor, camisetas, vasta coleção de raridades garimpadas durante mais de 30 anos de pesquisa e dedicação. Também fica à mostra raridades como uma das mil cópias do vinil Let Me Sing my Rock'n Roll (1985) e cartazes do único show de Raul em Natal, em 1983, no Palácio dos Esportes.
Ainda
no tema musical, pode relatar a homenagem dada ao cantor Paulinho da Viola. Ele
recebeu em agosto do ano passado o título de cidadão ceará-mirinense. A câmara
municipal da localidade, aproveitou o
fato do cantor ter vindo participar do Projeto do Governo do Estado Agosto da
Alegria, para entregar em uma solenidade o titulo ao cantor. Na ocasião do
show, ele fez
questão de falar que tem raízes em nosso Estado, se referindo a Ceará-Mirim,
onde sua avó paterna nasceu.
A cidade também é conhecida pelas suas festas
populares, como o tradicional “Arraiá dos Engenhos” realizados nos meses de
junho de cada ano no Ginásio Elói de Souza. No mês de setembro será realizado
Ceará Mirim Folia 2012, uma festa que reúne não só pessoas da população local
como muitas vindas de Natal e outras cidades vizinhas.
No turismo se destacam algumas as praias do litoral
norte, que pertence ao município e são bastante visitadas, principalmente na
alta estação. Jacumã e Porto Mirim são redutos de
veranistas de Natal, formados por políticos e empresários. Jacumã, possui também uma
lagoa, lugar preferido de milhares de
turistas, que visitam o estado do RN. Outra praia é Muriu, que além da calmaria
do mar possui uma bela paisagem de coqueiros. Praiinha, menos badalada, que dá
acesso através da estrada Extremoz RN 160, é freqüentada muito mais por
surfistas, devido as suas belas ondas.
Texto publicado no suplemento cultural Nós, do RN... na edição de número 79, outubro 2012
Texto publicado no suplemento cultural Nós, do RN... na edição de número 79, outubro 2012
Mestre Tião no canal Futura
Casa grande do engenho Imburanas
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