Luciano
Capistrano - @lbjg2capistrano / lulahisprofessor@hotmail.com
O Rio Potengi faz parte das minhas lembranças
de criança, tempo de descobertas, época em que a imaginação infantil me levava
para os mistérios do rio Grande dos portugueses e dos comedores de camarões dos
potiguaras. Lembro da passagem pela ponte de Igapó, ficava maravilhado com a
beleza das águas, já naquela época castigada pelas salinas e projetos
embrionários de carcinicultura, intervenções humanas que redesenharam o leito
do velho e bom rio.
Cresci ouvindo várias histórias sobre o rio
Potengi. Rio dos Potiguaras, rio do Rifoles, rio Grande dos portugueses, porto
de entrada dos holandeses, algozes de Cunhaú, rio Salgado de gamboas e
camarões.
Lembro do raid Natal – Rio de Janeiro e fico
imaginando nossos remadores, numa iole, enfrentando o mar, época em que não
havia GPS ou telefonia móvel. E mais: não tinham o apoio das velas, contavam
literalmente com os braços.
A história desse raid descobri, por meio de
João Alfredo, no livro “Heróis do Remo”. Em suas paginas o relato de uma
verdadeira epopeia. O sonho de chegar á antiga capital federal a remo surgiu
numa conversa de amigos, ocorrida no ano de 1936, na praia de Genipabu. Este
sonho foi realizado em duas etapas: num primeiro momento participaram Ricardoda
Cruz, Antônio de Souza, Clodoaldo Bakker, Oscar Simões e Francisco Madureira. O
projeto gestado em Genipabu, somente foi autorizado pela Marinha do Brasil 16
anos depois, em 1952.
Na manhã do dia 30 de março de 1952, a cidade
de Natal amanheceu em festa: os heróis do remo partiam do rio Potengi em direção
da Guanabara. A multidão ovacionava os tripulantes da iole Rio Grande do Norte
I. Não existiam cores de nenhuma agremiação náutica. Ascores levadas pelos
atletas do remo, eram as cores da terra potiguar. Em cada enseada, escolhida
para descanso, nossos heróis eram recebidos com festa, muitas foram as medalhas
oferecidas pelas Câmaras Municipais no trajeto da iole.
Mas nem tudo foram flores, pois o mar é
bravio. Na costa sergipana, a iole Rio Grande do Norte I, não resistiu à força
do mar. Conta João Alfredo em seu livro: “Sobre a iole rebentou um vergalhão.
Não houve tempo para nada. Com muito esforço conseguiram nossos heróis nadarem
até à beira-mar. Da iole, só conseguiram salvar os remos”. Tudo perdido? Não,
pois fazia parte deste grupo um “brasileiro que não desiste nunca”, Ricardo da
Cruz.
No dia 11 de fevereiro de 1953, o raid
reiniciou, a partir de Sergipe, no mesmo Mangue Seco, que no dia 2 de junho de
1952 nossa iole Rio Grande do Norte I naufragou. Fizeram parte desta segunda
etapa: Luiz Enéas, Antônio de Souza, Ricardo da Cruz, Walter Fernandes e Oscar
Simões. Etapa consagrada com a chegada na Guanabara. A antiga capital Federal
abraçava entusiasmada os Heróis do Remo, com desfile e exposição da iole Rio
Grande do Norte II, na Cinelândia, marcando a comemoração do grande
acontecimento. A BBC de Londres classificou esse raid, como o maior feito
náutico do mundo. Histórias de heróis, como esses do remo devem chegar ao
conhecimento das novas gerações.
Fonte: NETTO, João Alfredo Pessoa de Lima. Heróis do Remo. Natal: Clima, 1987.
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