Diego Avelino
Quem não gosta de saber que
em determinado dia da semana será celebrada uma festa? Parece ser típico do
brasileiro festejar, festejar e festejar. São muitos dias comemorativos fixados
em nosso calendário. Então, nesse ritmo de alegria, gozo e espontaneidade,
serão citados algumas festas populares do nosso Estado. Nesse ponto de análise
histórica (e até mesmo com um ‘ar’ lúdico), damos como aberta a temporada para
a alegria!
As festas populares mesclam
atributos religiosos com atributos profanos. Obviamente, impera, em nosso país,
como crença religiosa: o cristianismo. Contudo, sabendo de algo tão evidente,
não há como deixar de lado outra informação bem óbvia. Por um acaso, quem nunca,
após assistir uma celebração religiosa, saiu deste “mundo puro e santo” e migrou
para outra situação de extremo desfrute carnal (fugindo do foco da imoralidade)?
Quantas inquietações no corpo da pessoa. Parece que o individuo está mais
ligado com o que há de fora nas suas reuniões sagradas. Que coisa estranha!
Tomando como fonte consultada, cita-se Luís da Câmara Cascudo que, junto com
uma narrativa histórica, dava uma esfera de ludicidade em seus trabalhos. Desta
forma, consulta-se sua obra: História da Cidade do Natal.
Aqui na cidade do Natal,
segundo nos contou Cascudo, “As festas populares (...) decorriam das festas
religiosas”. Havia o Entrudo que
correspondia a uma festividade em que os mais sérios homens caíam na
bestialidade do riso, cânticos, danças e até travessuras (trocas de
correspondências entre moças e moços; jogava-se água uns nos outros – a
“laranjinha”, curiosamente, seria uma água perfumada que adquiria esse teor
aromatizante após ser colocada dentro de uma esfera de cera; atirava-se “farinha
do reino” e, em seguida, a água, entre outros). Era um divertimento e tanto em
nossa capital. Mas, infelizmente, em fevereiro de 1900, o Chefe de Polícia da
capital proibiu o uso de água e farinha com o intuito de evitar
constrangimentos e brigas.
Cascudo ainda disse que no
“(...) dia de Ano Bom até Reis, 06 de janeiro (...)” a celebração era marcada por
cantorias. Era exuberante! Moças e rapazes formavam grupos que, entoados pelos
seus instrumentos de cordas, saiam de porta em porta recitando seus cânticos. Quando
se abriam as portas, eis que uma ceia aguardava dignamente a chegada do
reisado. Comiam e bebiam (claro, dentro dos limites do corpo, pois sua jornada
de peregrinações ainda seria bem longa).
Já no período de celebrações
santas (reconhecida como Semana Santa), havia a partilha de ritos religiosos
com suas devidas celebrações em três momentos: tinha-se o Sábado de Aleluia,
Domingo de Ramos e Domingo da Ressurreição. No Sábado, como ainda hoje,
batia-se no Judas Iscariotes (um dos discípulos de Jesus que o havia traído,
segundo conta o Novo Testamento, por trinta moedas).
Mesmo com as comemorações
que deveriam ser dedicadas aos santos mais simpatizados e queridos, crendo que
deveria ser um momento de ávida “introspecção, reavaliação, fortalecimento
espiritual”, os esforços dos indivíduos se somavam ao da religiosidade com o do
profano, como já foi dito. Cascudo detalha que se entoavam “Serenatas na Praça
das Laranjeiras (Senador Guerra), Rua do Fogo (Padre Pinto) e dos Tocos (Treze
de Maio). Banhos na represa do Baldo, com meladinha (aguardente e mel de
abelha) e genebra holandesa (...) ceias de peixe n’água e sal, cozido na hora,
ou frito, no azeite, vinagre, cebola e vinho tinto. Depois violão e modinhas,
sem destino, pelas ruas”.
Em 21 de novembro, era
celebrado o dia da Nossa Senhora da Apresentação (Padroeira de Natal). Os fiéis
que marcavam presença nesse dia recebiam no dia anterior, à noite, ramos de
planta. A paisagem era cortada por foguetes rasteiros, conhecidos como “busca-pé”.
Segundo, Cascudo, esse foguete rasteiro já vinha sendo utilizado desde o século
XIX. Mesmo com a proibição, em 13 de julho de 1830, promulgada pela Câmara
Municipal. Alguns mais atrevidos não deixavam de usá-lo. “Dois velhos becos da
Cidade Alta ficaram famosos nos anais da literatura oral natalense. Podiam ter
nome de beco do Buscapé. O primeiro, entre a Catedral e o Instituto Histórico,
o segundo à esquerda da Delegacia Fiscal, ambos na antiga rua Grande, largo da
Matriz ou praça André d’Albuquerque (...)”.
Havia ainda o Outeiro. Historicamente, o Outeiro
surgiu em Portugal no século XVIII. Era uma festa típica de culto literário
(jogos poéticos), ocorrida dentro dos conventos aristocráticos portugieses.
Juntavam-se fidalgos, poetas e freiras (oriundas de nobres famílias) que declamavam
versos. Estes eram improvisados em décimas em glosa aos motes. Depois dessa
atividade de recitações poéticas, eram servidas as mais diversas guloseimas
(polvilhos, doces, pastéis de nata, etc). Em Natal, o Outeiro não recebia nenhuma dessas requintadas práticas. Ao final
de cada celebração religiosa, eram recitadas glosas em mote. Cascudo descreveu,que
armava-se um palanque, bem enfeitado de manjericão, espirradeira e malva, ao
lado direito da Matriz”.
Enfim, além das que foram
citadas, tinha-se a celebração à Santa Bica da Cruz, Lapinhas (homenagem a
Nossa Senhora e ao seu filho Jesus), Fandango, Boi Calemba e Congos. Tudo muito
animado!
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