9 de agosto de 2016

As festas populares no solo potiguar


Diego Avelino

Quem não gosta de saber que em determinado dia da semana será celebrada uma festa? Parece ser típico do brasileiro festejar, festejar e festejar. São muitos dias comemorativos fixados em nosso calendário. Então, nesse ritmo de alegria, gozo e espontaneidade, serão citados algumas festas populares do nosso Estado. Nesse ponto de análise histórica (e até mesmo com um ‘ar’ lúdico), damos como aberta a temporada para a alegria!
As festas populares mesclam atributos religiosos com atributos profanos. Obviamente, impera, em nosso país, como crença religiosa: o cristianismo. Contudo, sabendo de algo tão evidente, não há como deixar de lado outra informação bem óbvia. Por um acaso, quem nunca, após assistir uma celebração religiosa, saiu deste “mundo puro e santo” e migrou para outra situação de extremo desfrute carnal (fugindo do foco da imoralidade)? Quantas inquietações no corpo da pessoa. Parece que o individuo está mais ligado com o que há de fora nas suas reuniões sagradas. Que coisa estranha! Tomando como fonte consultada, cita-se Luís da Câmara Cascudo que, junto com uma narrativa histórica, dava uma esfera de ludicidade em seus trabalhos. Desta forma, consulta-se sua obra: História da Cidade do Natal.
Aqui na cidade do Natal, segundo nos contou Cascudo, “As festas populares (...) decorriam das festas religiosas”. Havia o Entrudo que correspondia a uma festividade em que os mais sérios homens caíam na bestialidade do riso, cânticos, danças e até travessuras (trocas de correspondências entre moças e moços; jogava-se água uns nos outros – a “laranjinha”, curiosamente, seria uma água perfumada que adquiria esse teor aromatizante após ser colocada dentro de uma esfera de cera; atirava-se “farinha do reino” e, em seguida, a água, entre outros). Era um divertimento e tanto em nossa capital. Mas, infelizmente, em fevereiro de 1900, o Chefe de Polícia da capital proibiu o uso de água e farinha com o intuito de evitar constrangimentos e brigas.
Cascudo ainda disse que no “(...) dia de Ano Bom até Reis, 06 de janeiro (...)” a celebração era marcada por cantorias. Era exuberante! Moças e rapazes formavam grupos que, entoados pelos seus instrumentos de cordas, saiam de porta em porta recitando seus cânticos. Quando se abriam as portas, eis que uma ceia aguardava dignamente a chegada do reisado. Comiam e bebiam (claro, dentro dos limites do corpo, pois sua jornada de peregrinações ainda seria bem longa).
Já no período de celebrações santas (reconhecida como Semana Santa), havia a partilha de ritos religiosos com suas devidas celebrações em três momentos: tinha-se o Sábado de Aleluia, Domingo de Ramos e Domingo da Ressurreição. No Sábado, como ainda hoje, batia-se no Judas Iscariotes (um dos discípulos de Jesus que o havia traído, segundo conta o Novo Testamento, por trinta moedas).
Mesmo com as comemorações que deveriam ser dedicadas aos santos mais simpatizados e queridos, crendo que deveria ser um momento de ávida “introspecção, reavaliação, fortalecimento espiritual”, os esforços dos indivíduos se somavam ao da religiosidade com o do profano, como já foi dito. Cascudo detalha que se entoavam “Serenatas na Praça das Laranjeiras (Senador Guerra), Rua do Fogo (Padre Pinto) e dos Tocos (Treze de Maio). Banhos na represa do Baldo, com meladinha (aguardente e mel de abelha) e genebra holandesa (...) ceias de peixe n’água e sal, cozido na hora, ou frito, no azeite, vinagre, cebola e vinho tinto. Depois violão e modinhas, sem destino, pelas ruas”.
Em 21 de novembro, era celebrado o dia da Nossa Senhora da Apresentação (Padroeira de Natal). Os fiéis que marcavam presença nesse dia recebiam no dia anterior, à noite, ramos de planta. A paisagem era cortada por foguetes rasteiros, conhecidos como “busca-pé”. Segundo, Cascudo, esse foguete rasteiro já vinha sendo utilizado desde o século XIX. Mesmo com a proibição, em 13 de julho de 1830, promulgada pela Câmara Municipal. Alguns mais atrevidos não deixavam de usá-lo. “Dois velhos becos da Cidade Alta ficaram famosos nos anais da literatura oral natalense. Podiam ter nome de beco do Buscapé. O primeiro, entre a Catedral e o Instituto Histórico, o segundo à esquerda da Delegacia Fiscal, ambos na antiga rua Grande, largo da Matriz ou praça André d’Albuquerque (...)”.
Havia ainda o Outeiro. Historicamente, o Outeiro surgiu em Portugal no século XVIII. Era uma festa típica de culto literário (jogos poéticos), ocorrida dentro dos conventos aristocráticos portugieses. Juntavam-se fidalgos, poetas e freiras (oriundas de nobres famílias) que declamavam versos. Estes eram improvisados em décimas em glosa aos motes. Depois dessa atividade de recitações poéticas, eram servidas as mais diversas guloseimas (polvilhos, doces, pastéis de nata, etc). Em Natal, o Outeiro não recebia nenhuma dessas requintadas práticas. Ao final de cada celebração religiosa, eram recitadas glosas em mote. Cascudo descreveu,que armava-se um palanque, bem enfeitado de manjericão, espirradeira e malva, ao lado direito da Matriz”.
Enfim, além das que foram citadas, tinha-se a celebração à Santa Bica da Cruz, Lapinhas (homenagem a Nossa Senhora e ao seu filho Jesus), Fandango, Boi Calemba e Congos. Tudo muito animado!


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